Relembre atuação da atriz Regina Duarte na chefia da Secretaria Especial de Cultura
Do noivado ao divórcio, lembre a atuação da atriz na secretaria
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) -
A atriz Regina Duarte deixou, nesta quarta (20), a Secretaria Especial
de Cultura do governo Jair Bolsonaro. Ela permaneceu no cargo por dois
meses e meio. Depois de um processo de fritura conduzido pela
presidência e aliados, Bolsonaro anunciou nas redes sociais que ela
assumirá a Cinemateca, em São Paulo.
É possível que seja lembrada pela classe artística,
porém, pela inação em relação à cultura durante a crise do
coronavírus.Leia abaixo uma cronologia da gestão de Regina, da côrte
para o cargo a sua saída.
17.janeiro - Noivado
Após
a exoneração de Roberto Alvim da Secretaria de Cultura, motivada pela
emulação de um discurso nazista num vídeo oficial, em 17 de janeiro,
Regina Duarte é convidada a assumir o cargo. As negociações são
apelidadas de "noivado" pelo presidente Jair Bolsonaro e pela atriz. Na
época, Bolsonaro cogita subordinar a secretaria de Cultura, num limbo
entre os ministérios da Cidadania e do Turismo, diretamente à
Presidência.
31.janeiro - Bronca
Ao
publicar uma montagem com integrantes da classe artística que enviaram
mensagens desejando sorte para ela como secretária junto da legenda
"Artistas quebram o silêncio e apoiam Regina Duarte", a atriz recebe uma
bronca de Carolina Ferraz num áudio do Whatsapp: "Não quero ser usada
como alguém que está ali no teu Instagram, porque dá a entender que eu
apoio o governo do Bolsonaro –e eu não apoio, Regina". Outros atores
também pedem para ter sua imagem retirada da montagem, e a futura
secretária de Cultura apaga a postagem.
03 e 04.março - Posse
Depois
de meses do noivado e a ruptura do contrato com a rede Globo, Regina
Duarte enfim assume a Secretaria Especial de Cultura. Um dia antes da
posse, demite, com o aval de Bolsonaro, seis nomes ligados à ala
ideológica do governo, como o do secretário de Fomento e Incentivo à
Cultura, Camilo Calandreli.
Na posse em si, num evento de pouco
prestígio da classe artística, ela promete pacificar a pasta e manter
diálogo constante com os produtores de cultura. Também reforça a
promessa feita a ela de que teria liberdade para escolher seu time, ao
que Bolsonaro responde que tem poder de veto às indicações.
A
nomeação veio acompanhada de mais 12 exonerações, de novo de seguidores
de Olavo de Carvalho. Entre elas, referente à presidência da Funarte, a
Fundação Nacional de Artes, que sai do comando de Dante Mantovani,
conhecido por ligar o rock ao satanismo num vídeo.
09.mar - Sem lua de mel
Em
9 de março, o ministro Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo,
critica Regina nas redes sociais por ter usado o termo "facção" na sua
primeira entrevista como secretária de Cultura, ao Fantástico. Na
ocasião, ela afirmou que uma "facção" queria ocupar o seu lugar. "Quer
que eu me demita, que eu me perca. Já tem uma hashtag #ForaRegina. Eu
nem comecei!", disse.
19.mar - Coronavírus
Com
a chegada da pandemia do novo coronavírus ao Brasil, Regina publica um
vídeo no Instagram em que afirma que sua gestão anunciará medidas para
flexibilizar os prazos para os projetos que captaram recursos de leis de
incentivo federais, sobretudo a Lei Rouanet.
Mais de um mês
depois do seu anúncio, em 22 de abril, a instrução normativa que permite
a flexibilização dos prazos para projetos que usam leis de incentivo
por causa da pandemia é enfim publicada no Diário Oficial da União. Nos
bastidores, a demora é atribuída à falta de autonomia da Secretaria
Especial de Cultura, dependente do Ministério do Turismo e do Ministério
da Cidadania.
Enquanto isso, profissionais do setor, um das mais
afetados pelo coronavírus, pressionam por medidas urgentes de socorro,
como a liberação do Fundo Nacional de Cultura, sem sucesso.
23.abril - Fritura
Em
23 de abril, governo revoga a nomeação do pesquisador Aquiles Ratti
Alencar Brayner para o cargo de diretor do Departamento de Livro,
Literatura e Bibliotecas, da Secretaria da Economia Criativa, da
Secretaria Especial da Cultura, publicada seis dias antes. Ao longo da
semana anterior, o pesquisador foi chamado de "esquerdista infiltrado",
"esquerda caviar" e "esquerdista de carteirinha" em redes sociais e
sites bolsonaristas.
Em 28 de abril, Bolsonaro começa o processo
de fritura de Regina Duarte. À imprensa, o presidente reclama de sua
ausência de Brasília, mas nega a possibilidade de demissão. Nos
bastidores, afirma a aliados que espera que parta da própria Regina a
decisão de deixar o governo e dá carta branca para que seus apoiadores a
critiquem. Mesmo com a pressão de opositores e da própria família, a
atriz resiste.
05. maio - Morde e assopra
O
maestro Dante Henrique Mantovani, exonerado por Regina logo após a
posse, é devolvido à presidência da Funarte. No início da noite, o
presidente tornou a nomeação sem efeito. Apesar do recuo, Bolsonaro dá
sinais de que quer manter a força da ala ideológica no governo e,
consequentemente, a militância bolsonarista aguerrida nas redes
sociais.
06.maio - Reunião com desafeto
Após o vaivém da Funarte,
Regina é recebida por Bolsonaro para um almoço no Palácio do Planalto.
Apesar da expectativa da demissão, o encontro tem clima de descontração,
segundo relatos feitos à Folha.
Entre
os convidados, estava o presidente da Fundação Palmares, Sérgio
Camargo, que frequentemente critica a atriz nas redes sociais. Regina,
que na entrevista ao Fantástico chamou Camargo de "ativista, mais que um
gestor público", planejava destitui-lo do cargo, mas não
conseguiu.
07.mai0 - Chilique
Numa entrevista à CNN, Regina minimiza
mortes na ditadura militar, canta um dos hinos do regime, "Pra Frente
Brasil", e diz que a pandemia do novo coronavírus estava "trazendo uma
morbidez insuportável".
A secretária encerra a entrevista
abruptamente quando é confrontada com um vídeo em que uma colega, Maitê
Proença, pede soluções para a classe artística em meio à pandemia.
"Telespectadores, desculpem o chilique", disse Regina, antes de que
ouvisse o vídeo. "Tá desenterrando o vídeo da Maitê para quê? Ela tem o
meu telefone, ela fala comigo."
"Eu tinha tanta coisa bacana para
falar. Vocês estão desenterrando mortos", disse a atriz. Logo em
seguida, a entrevista foi encerrada.
19.mai0 - Honra
Em meio ao
processo de fritura, Regina recorre à deputada federal Carla Zambelli
(PSL-SP) para construir uma saída honrosa da Secretaria Especial da
Cultura. A deputada federal deverá indicar nomes para a Cultura, uma vez
que as escolhas feitas por Regina foram derrubadas por ela mesma ou
pelo presidente Jair Bolsonaro.
20.maio - Saída
O presidente Jair Bolsonaro anuncia, nas redes sociais, que Regina
disse sentir falta da família e por isso assumirá o comando da
Cinemateca Brasileira, em São Paulo, mais perto de sua casa.
Notícias ao Minuto
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