Presidente Jair Bolsonaro deve ser investigado por crime de responsabilidade
Procuradores dizem que o presidente deverá ser investigado sob suspeita de crime de responsabilidade
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) -
A saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública
provocou uma enxurrada de críticas de procuradores do Ministério Público
Federal, alguns deles com passagem pela Lava Jato, e também pedidos de
investigação sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Ex-integrante do grupo de trabalho da Lava Jato na
Procuradoria-Geral da República, o procurador regional Vladimir Aras
disse nas redes sociais que os episódios narrados por Moro em seu
pronunciamento "são gravíssimos".
"Houve relatos sobre falsidade
ideológica, obstrução da justiça e crime de responsabilidade, que
deverão ser investigados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e
pela Câmara dos Deputados", afirmou Aras. "Interferência política na
Polícia Federal é inadmissível."
"A Polícia Federal se notabilizou
como uma das forças policiais mais respeitadas do mundo por atuar
tecnicamente, com um corpo funcional bem preparado e com bastante
autonomia operacional. As consequências dessa intromissão política são
incalculáveis."
Ao anunciar sua demissão do governo federal nesta
sexta-feira (24), Sergio Moro criticou a insistência do presidente Jair
Bolsonaro para a troca do comando da Polícia Federal, sem apresentar
causas que fossem aceitáveis.
Moro afirmou ainda que
Bolsonaro queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de
inteligência da PF. "Não tenho condições de persistir aqui, sem
condições de trabalho." E disse que "sempre estará à disposição do
país".
O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores
da República), Fábio George Cruz da Nóbrega, também afirmou que as
declações são "muito graves".
"Sinalizam a ocorrência de crime de
falsidade ideológica de responsabilidade do presidente da República, na
assinatura de ato inexistente de exoneração a pedido do diretor-geral da
PF, bem como de crime de responsabilidade, na tentativa de
interferência na regularidade de investigações. Ambas as ocorrências
precisam ser devidamente apuradas", diz Nóbrega, em nota.
O
procurador regional João Carlos Rocha, que foi assessor do
ex-procurador-geral Rodrigo Janot, afirmou nas redes sociais que após as
declarações de Moro "é inevitável que se instaure uma investigação
sobre a conduta do presidente da República".
"O ex-ministro da Justiça acaba de relatar diversos fatos envolvendo crimes comuns e de responsabilidade", afirmou.
Bruno
Calabrich, também procurador regional, disse que "a bola está com a
PGR". "Trocar um agente público para interferir no resultado de uma
investigação é uma acusação grave e precisa ser apurada", apontou. A
procuradora Monique Cheker disse que a Procuradoria-Geral da República
"tem o dever de apurar".
Sem citar Moro, Yuri Luz, que integra a
Lava Jato paulista, apontou possível omissão do ministro em declarar
eventuais irregularidades que tenha presenciado no governo.
"Todo
servidor público tem o dever de funcional de comunicar imediatamente, às
autoridades competentes, as ilicitudes de que venha a ter ciência",
disse, no Twitter.
"Imediatamente. Não oportunamente. Falar o que
ocorreu é importante. Mas não torna legal a omissão ilegal que perdura
certo tempo."
Como
apontou a coluna Mônica Bergamo, ministros do STF (Supremo Tribunal
Federal) enxergaram vários crimes que podem ter sido cometidos pelo
presidente Jair Bolsonaro, segundo o que disse Moro em seu
pronunciamento.
Outros membros do Ministério Público também
fizeram declarações de solidariedade a Moro, não necessariamente
apontando necessidade de investigação.
Para a procuradora regional
Thaméa Danelon, que coordenou a força-tarefa da Lava Jato em São Paulo,
"a criminalidade comemora" a saída de Moro do ministério.
Um dia
antes, ela havia gravado um vídeo afirmando que "caso se confirme essa
saída, vamos começar uma nova crise". "Já estamos vivenciando crise, de
saúde e da economia por conta do conoravirus, e vai ser mais um fator de
crise para o nosso país", disse.
Helio Telho, procurador da República em Goiás, questionou: "Bolsonaro está trocando Moro pelo Centrão? É isso, produção?".
De
Minas Gerais, o procurador Patrick Salgado afirmou não ter palavras
"para descrever meu sentimento de profunda tristeza com a saída do homem
íntegro, justo e ético" do Ministério da Justiça e sua "minha extrema
decepção com o presidente Jair Bolsonaro".
Antes do anúncio da saída de Moro, Jerusa Viecili, que integrava a
Lava Jato de Curitiba, afirmou no Twitter que "investigações de crimes
de colarinho branco e corrupção na área federal somente são possíveis
com trabalho técnico e independente da Polícia Federal e do Ministério
Público Federal".
Notícias ao Minuto
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