Quarentena generalizada mudou a maneira como a crosta da Terra se move – Por Bruno Carbinatto
Com
grande parte do mundo adotando medidas totais ou parciais de
distanciamento social, a Terra está ficando menos agitada –
literalmente. Cientistas de diversos países vêm observando a diminuição
do chamado ruído sísmico, o barulho gerado pela vibração da crosta
terrestre capaz de ser medido por instrumentos chamados sismógrafos.
A
redução provavelmente tem a ver com a menor circulação de pessoas e
carros pelas cidades, além da pausa em outras atividades humanas,
segundo pesquisadores. Parece exagerado pensar que nossas ações alteram a
dinâmica terrestre, mas, quando somadas, as influências humanas causam
sim pequenas variações na vibração da crosta, principalmente em nível
local. Esse “ruído de fundo”, em geral, é negativo para a atividade dos
sismógrafos, porque atrapalha as observações de ruídos naturais que
ocorram na mesma frequência.
Segundo dados do Observatório Real da
Bélgica, que fica em Bruxelas, a redução dos ruídos sísmicos causados
por humanos na cidade caiu em até um terço desde que foram implementadas
medidas de isolamento social. O país europeu, que já soma quase 14 mil
casos e 828 mortes, fechou escolas, bares e restaurantes e proibiu todas
as viagens não essenciais até 19 de abril.
A redução por si só
não é incomum: em fins de semana, por exemplo, o ruído de fundo causado
por humanos geralmente cai. E, como lembrou à revista Nature o sismólogo
Thomas Lecocq, do Observatório Real da Bélgica, esses menores níveis
também aparecem no país durante feriados nacionais, como o Natal. Mas,
agora, ela está sendo prolongada.
Outros cientistas ao redor do
mundo também estão divulgando reduções parecidas. Em seu Twitter, o
sismólogo Stephen Hicks, da Imperial College, divulgou dados da
organização British Geological Survey que revelam uma redução da
atividade sísmica no Reino Unido. Ele lembrou que a estação fica perto
da rodovia M4 – uma estrada que liga Londres ao País de Gales –, então a
redução provavelmente reflete o menor tráfego de carros na região.
Também
no Twitter, Celeste Labedz, doutoranda no Instituto de Tecnologia da
Califórnia, mostrou uma redução acentuada na atividade sísmica medida em
Los Angeles, nos Estados Unidos. “A queda é realmente
radical”, escreveu. Fenômenos parecidos também foram identificados
em Paris, na França, e em Auckland, na Nova Zelândia.
Para os
cientistas, a redução é positiva, porque torna mais fácil que terremotos
leves e outras perturbações na crosta sejam identificadas sem o ruído
humano. Mas a geóloga americana Emily Wolin disse, em entrevista
à Nature, que nem todos os sismógrafos do mundo registrarão mudanças tão
radicais como os citados aqui. Isso porque a maioria é instalada longe
de cidades ou enterrada no chão, exatamente para evitar ao máximo as
perturbações vindas de atividade humana, visando aumentar sua precisão
na medição de fenômenos naturais.
Fonte: Revista Super Interessante - Publicado por: Fabricia Oliveira
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