Janaína Paschoal revela plano de Eduardo Bolsonaro ao atacar ‘sustentação’ do pai: ‘Ele quer ser o próximo presidente’
Autora do impeachment de Dilma Rousseff, Janaína Paschoal diz estar muito preocupada com Jair Bolsonaro, que apoiou em 2018. “Não cometeu crime de responsabilidade (na divulgação do vídeo), mas ele não está tendo estabilidade emocional, mental, espiritual, para lidar com essas crises bobas, que estão ganhando uma frequência que começa a prejudicar o País”, disse à Coluna.
Janaína
faz ainda um alerta: Bolsonaro está se cercando de pessoas que fazem de
tudo para isolá-lo, “receita para cair”. Uma dessas pessoas, segundo a
deputada, seria seu filho, Eduardo. Para a autora do impeachment, ele
quer que o pai não chegue em 2022, para ele próprio ser o candidato. “(Quer) Falar
que o pai é vítima e criar discurso para ele em 2022. O foco dele é a
Presidência, não tenho dúvida. Ele está trabalhando tanto para isolar o
pai, que a única explicação racional é essa”, afirmou.
Eleita pelo
PSL com 2 milhões de votos em 2018, a então professora de Direito
Constitucional da USP se tornou a deputada mais votada da história do
País. No último ano, não poupou críticas ao governo, como quando
Bolsonaro indicou Eduardo para embaixada de Washington, mas continua
fiel ao ideário conservador defendido por Bolsonaro.
O
governador do Rio, Wilson Witzel, ex-juiz, disse nesta semana que
a única solução jurídica possível para o presidente Bolsonaro era
impeachment. O que a sra acha disso?
Witzel deveria cuidar de dar água potável para o povo do Rio. Depois pode alçar outros voos…
Mas o que a sra achou do vídeo?
Não
vejo nem de perto crime de responsabilidade, é um vídeo de auto-elogio e
foi para um grupo seleto de pessoas mais próximas. A live de
quinta-feira (no Facebook do presidente) que me pareceu muito
preocupante, porque mostra um envolvimento psicológico que não está
legal. Atacou pessoalmente a jornalista (Vera Magalhães, do Estado). Ele
tem direito a criticar a matéria, mas passou para o ataque pessoal.
Falou que vai conversar com os empresários para não anunciarem mais em
veículos, ele não tem esse direito. São coisas que estão me preocupando,
está mostrando falta de condição para o cargo. Ele não cometeu crime de
responsabilidade, mas esse cargo demanda um pouco de estabilidade. A
pessoa tem que aguentar um pouco de crítica. Entendo que a imprensa não
gosta dele, muitos políticos que se calaram na época do PT, agora
rapidamente querem falar de impeachment. Mas estou vendo que ele não
está tendo estabilidade emocional, mental, espiritual para lidar.
Para lidar com o que?
Com essas confusões,crises bobas estão ganhando uma frequência que
começa a prejudicar o País. Foi muito trabalho para tirar do governo
criminosos que tínhamos (Janaína foi autora do impeachment de Dilma Rousseff),
para elegê-lo, não acho que ele está honrando nada disso. Qualquer um
que fale qualquer coisa é traidor. Ele está cercado de gente que faz
tudo para ele ficar isolado, esta é a receita para cair.
O presidente lembra a Dilma, nesse sentido?
É um cenário completamente diferente. Com a Dilma, foi uma sucessão de
crimes graves, de desvio, omissão diante do desvio. Mas até a gente que
quer defender (o presidente) não está conseguindo mais, pela maneira com que ele está lidando com o cargo. Há muita dubiedade.
Com o que, por exemplo?
No orçamento, a base dele votou sim (a favor do orçamento impositivo).
E agora estão dizendo que é golpe. Se ele dissesse claramente que está
sendo chantageado, eu seria a primeira a defendê-lo. Mas não tem essa
transparência. Por que o seu filho votou lá atrás e agora tá dizendo que
foi golpe? (em 2019, Eduardo Bolsonaro votou a favor do orçamento impositivo).
Políticos
têm demonstrado preocupação com o excesso de militares no governo, com a
chegada de Braga Netto na Casa Civil. Como a sra vê isso?
É
o que me dá mais conforto: os militares. Eles têm uma estabilidade
maior. Tem preocupação com o País, tentam de alguma maneira segurar o
presidente. São mais contidos. Mesmo a frase do Heleno, ela foi privada,
acabou sendo divulgada.
O que o presidente deveria fazer então?
Primeiro, ele precisa talvez mesclar um pouco mais os não militares.
Está com muita mania de perseguição, não está saudável. Resgatar um
pouco contato com deputados que são PSL, que sempre o defenderam. Esse
cisma entre PSL e Aliança em ano eleitoral… O filho dele ataca as
pessoas que os defendem. Eduardo mina todo mundo que dá sustentação ao
pai. Parece que quer isolar o pai, é muito estranho.
E o Carlos Bolsonaro?
Carlos tem instinto de proteção do pai, me parece uma coisa honesta. O
Eduardo é diferente: tem um plano de poder pessoal. Imagina o discurso
que ele não vai ter se o pai cair, de que o pai sofreu golpe, direita
foi atacada, cerceada. Isso ninguém me tira da cabeça. Ele votou contra o
pai no orçamento, viaja o tempo inteiro, ataca todo mundo que dá
sustentação ao pai. O que ele quer com isso? Falar que o pai é vítima e
criar discurso para ele em 2022. O foco dele é a Presidência, não tenho
dúvida (a Constituição proíbe filhos de presidentes de se
candidatarem, permitindo apenas reeleição, mas essa regra muda caso o
presidente não termine o mandato). Ele está trabalhando tanto para
isolar o pai, que a única explicação racional é essa. Quem levou a
advogada que criou a ideia do Aliança Pelo Brasil ao pai foi ele. Para
quê o Aliança agora, em ano eleitoral? Para dividir o povo. Isso está
sendo fomentado por ele. Você acha que alguém vai me convencer de que
políticos experientes não sabiam que o partido não ia ficar pronto a
tempo? Óbvio que sabiam. Porque que fizeram isso agora? Eles querem
dividir, enfraquecer o presidente. Com que finalidade? Favoreceu muito o
PSDB, o DEM…Pessoas novas que queriam entrar na política se
desestimularam. Se forem para o PSL vão ser chamadas de traidores, o
Aliança não existe…
Falando em eleição, como a sra vai se posicionar na disputa para a Prefeitura de São Paulo? Não vai sair mesmo?
Quero ver as propostas de todos. Eu não saio de jeito nenhum. Acho
muito cedo para apoiar A ou B. O cenário está muito incerto. O Arthur (do Val, recém filiado ao Patriota) é um nome bom, o Matarazzo (Andrea, do PSD), pela experiência, Felipe Sabará gostei muito das ideias dele. A Joice (Hasselmann) vai
ser a candidata do PSL. A gente vai ter bons candidatos, mas quero ver
as propostas. Quero ver a dupla, quem vai ser o vice.
Melhor esperar para se candidatar em 2022 para algum cargo federal?
Não sei de verdade. Tive muito voto fora da capital e tenho que cumprir o mandato. Não acho justo abandonar essas pessoas.
Fonte: Folha - Publicado por: Amara Alcântara
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