José de Abreu vai morar na Nova Zelândia: a "tolerância" em nome da democracia – Por Luiz Carlos Azedo
O
consagrado ator José Abreu anunciou no Instagram que embarca hoje para
a Nova Zelândia, onde pretende morar. Depois de muita malcriação nas
redes sociais – para dizer o mínimo –, resolveu dar um tempo e curtir a
namorada Carol Junger, com quem recentemente fez um périplo de 75 dias,
por 11 países. Radical aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, cai fora do rodamoinho em que entrou depois das grosserias que
fez com a também consagrada atriz Regina Duarte, que aceitou o convite
para ser secretária de Cultura do governo Bolsonaro.
Os
ataques de José Abreu a Regina Duarte deixaram perplexos até mesmo os
seus aliados: “Facista não tem sexo. Vagina não transforma uma mulher em
um ser humano. Eu não vou parar, eu sou radical mesmo e estou em um
caminho sem volta”, declarou ele, em áudio enviado para a colunista
Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo, depois de várias postagens nas
redes sociais atacando a atriz.
Saiu de cena como quem
resolveu curtir a vida sem maiores compromissos: “Amanhã começaremos uma
nova fase de nossa vida em comum, vamos morar na Nova Zelândia. No
começo em Aukland. Se gostarmos, ficamos. Se não, Wellington ou
Christchurch. Opções não faltam: país lindo, padrão de vida comparado
aos países escandinavos, mas sem o ônus do frio. Pequeno, povo bacana,
natureza… Que Deus nos ilumine e proteja #newzealand #newzealandlife
#auckland #expatlife #novazelandia #vidamaluca”, escreveu.
Um
radical que bate em retirada por livre e espontânea vontade da cena
política brasileira deve ser motivo de comemoração, seja ele de esquerda
ou de direita. Às vésperas do Oscar, a cineasta Petra Costa, cujo filme
Democracia em vertigem está entre os finalistas da categoria
Documentário, também sofre uma campanha intensa na internet por causa de
sua abordagem sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff. De
forma inédita, a secretaria de Comunicação do governo classificou a
cineasta como uma “ativista anti-Brasil”.
Mas
quem acabou indo para o pelourinho foi o jornalista Pedro Bial, que fez
duras críticas ao filme e à cineasta, que narrou o filme. Segundo ele,
Petra protagonizou uma “miada” insuportável. Em sua crítica, Bial disse
que a cineasta ficou choramingando o filme inteiro, o que mobilizou uma
cadeia de solidariedade à diretora, liderada pela ex-presidente Dilma
Rousseff, personagem central do documentário. Bial está sendo atacado
até mesmo por ex-colegas da TV Globo.
Estabeleceu-se uma polêmica
sobre o filme que mistura alhos com bugalhos. O simples fato de ter sido
selecionado como finalista do Oscar já garante à diretora Petra Costa o
reconhecimento pela qualidade de sua obra, o que não tem nada a ver com
concordar com a sua interpretação dos fatos, ainda mais quando sabemos
que os documentários norte-americanos nunca primaram pela isenção
política e ideológica. Onde está a intolerância? Nos ataques pessoais à
diretora, não nas críticas ao filme, que podem ser consideradas justas
ou injustas, dependendo do interlocutor.
Os limites
A
tolerância requer aceitar as pessoas e consentir suas práticas mesmo
quando as desaprovamos fortemente, não é uma atitude intermediária entre
a absoluta aceitação e a oposição imoderada. Um assassinato, por
exemplo, não é tolerável. Nossos sentimentos de contrariedade ou
desaprovação são intoleráveis quando movidos por preconceito racial ou
étnico, por exemplo. Não se trata de tolerar aqueles que execramos, mas
de não execrar as pessoas só porque parecem diferentes ou provêm de uma
origem diferente.
Conflitos
e desentendimentos políticos e ideológicos são totalmente compatíveis
com o pleno respeito por aqueles de quem discordamos. A democracia, a
rigor, existe para que isso ocorra num ambiente de coexistência, no qual
o direito ao dissenso seja respeitado pela maioria. A tolerância
religiosa, por exemplo, é o legado histórico das guerras religiosas
europeias, ainda que muito sangue ainda seja derramado em alguns lugares
do mundo, em nome do Criador. No Brasil, hoje, essa questão está
vivíssima, porque a radicalização política e a intolerância estão
instrumentalizando valores religiosos de uma forma que nunca deu bons
resultados.
A
tolerância exige valores e tem seus riscos, mesmo numa ordem
democrática consolidada. A xenofobia, a misoginia, a homofobia, a
justiça pelas próprias mãos e o desrespeito aos direitos e garantias
individuais são uma ameaça à democracia, ainda que aparentemente sejam
isolados os casos. Ou seja, o limite da tolerância é o respeito à
Constituição de 1988.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba
Fonte: Polêmica Paraíba com EM
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