SEM ADORNOS E SEM PLACAS: Túmulos de presidentes da República são depenados em cemitério
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Túmulo do presidente Jânio Quadros no Cemitério da Paz, em São Paulo – |
Neste
sábado (2), Dia de Finados, os cemitérios se enchem de pessoas que vão
homenagear os mortos. Túmulos de personalidades também costumam
concentrar peregrinação. Se você é um presidente da República enterrado
em São Paulo, no entanto, pode passar despercebido.
Com furtos
constantes, os túmulos dos mandatários Campos Sales e Washington Luís,
no Cemitério da Consolação, perderam adornos, homenagens e placas,
ficando sem indicativos de que ali descansam eternamente figuras
importantes do país.
Quarto presidente da República, Manoel Ferraz
de Campos Salles —conforme grafia da época, inscrita em seu túmulo, ou
Manuel Ferraz de Campos Sales, segundo a grafia atual— tem um verdadeiro
memorial no Cemitério da Consolação, ao lado do mausoléu da família
Matarazzo.
Ou ao menos tinha. Foto publicada em 1995 nesta Folha mostra
uma série de esculturas em bronze feitas pelo artista mexicano Rodolfo
Bernardelli, que já não estão mais lá. É o caso de um Brasão da
República que ficava sobre o retrato do presidente, além de vasos e
adornos que simulavam coroas de flores e coroas de ramos, em metal.
Túmulo do presidente Campos Sales
O paulista governou o país na virada do século passado, de 1898 a 1902, e morreu repentinamente há mais de cem anos, em 1913.
Quase
homônimo do presidente, o advogado Manoel Ferraz Whitaker Salles, 79, é
bisneto do irmão de Campos Sales. Ele costuma frequentar o cemitério
porque, perto do túmulo do parente presidencial, está também o de um avô
de Manoel, José Maria Whitaker (que também ocupou o alto escalão do
governo federal nos governo Getúlio Vargas e Café Filho).
À
reportagem, o advogado afirma que o túmulo de Campos Sales foi um
presente do governo argentino, dada a boa relação que ele tinha com o
país vizinho, no qual serviu como embaixador depois de deixar o poder.
Há uma cidade no Rio Grande do Sul, Roca Sales, que homenageia a relação
do mandatário brasileiro com o presidente argentino Julio Roca, que
governou na mesma época.
“Quando
ele morreu, já sem o prestígio de um presidente, ia ter um enterro
comum. O presidente Roca e os amigos dele resolveram homenageá-lo”,
afirma.
“Acredito que o túmulo de um presidente da República tinha que ser mais bem cuidado, como é em outros países.”
O
governo Campos Sales situa-se historicamente no período conhecido como
República Velha, cujo último representante foi Washington Luís, que
comandou o país de 1926 a 1930.
Após sair da presidência, no
contexto turbulento da Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao
poder, Washington Luís se tornou historiador. Em sua homenagem, de 1969 a
2010, o Arquivo Histórico de São Paulo, repositório maior das provas da
passagem do tempo na capital paulista, se chamava Arquivo Histórico
Municipal Washington Luís.
Mas, pelo menos em seu túmulo, sua história é mal preservada.
A
situação da sepultura é ainda pior que a de Campos Sales. Com exceção
de sinalizações colocadas pelo cemitério há poucos anos nos túmulos de
personalidades conhecidas, não há mais nada que indique que ali está
enterrado alguém que comandou o país.
Em mármore, a sepultura
tinha uma série de placas de bronze com os nomes dos mortos da família
ali enterrados, mas todas foram furtadas. Os funcionários do cemitério
estimam que a do presidente tenha sido levada em 2017. Hoje, só restam
as marcas de furação; nenhum nome.
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Tantos
Campos Sales quanto Washington Luís estão enterrados próximo aos muros
do cemitério, o que facilita a ação de ladrões, que podem tirar os
adornos e lançá-los para a rua.
Não
são só os presidentes que estão sujeitos a furtos no cemitério —objetos
de metal são constantemente levadas por quem não faz distinção da
importância do morto. Policiais com quem a reportagem conversou
afirmaram que os ladrões não estão interessados no valor histórico das
peças, mas no quanto podem render caso sejam derretidas.
Depois
que a reportagem questionou a prefeitura sobre o estado de conservação
dos túmulos dos presidentes, a gestão Bruno Covas (PSDB) afirmou que
enviou, nesta sexta (1º), pedido ao conselho do patrimônio histórico
estadual para poder restaurá-los. A aprovação é necessária porque o
cemitério é tombado.
Segundo a prefeitura, a proposta inclui
limpeza do revestimento, manutenção de paisagismo e substituição de
placas furtadas e dos adornos nos túmulos.
O terceiro presidente
enterrado na cidade é Jânio Quadros. Ele teve uma trajetória política
diferente dos antecessores: foi prefeito de São Paulo no fim dos anos
1980, o que o manteve relevante e presente no noticiário até próximo
do fim da vida, em 1992.
Por isso, teve enterro cheio, com comoção
popular e políticos em peso. Seu túmulo fica no cemitério da Paz, na
zona sul da cidade.
Diferentemente do Cemitério da Consolação, as
covas de quem repousa nesse cemitério (com outros nomes conhecidos, como
Adoniran Barbosa e Paulo Freire) são identificadas apenas por uma placa
simples no chão —sem muitos adornos a serem furtados, portanto.
O
de Jânio, enterrado ao lado de desconhecidos, tem inscrições douradas,
diferente da maioria dos outros, que dizem “Presidente Jânio da Silva
Quadros”, ao lado do Brasão da República. Na última quarta-feira (30),
havia flores amarelas recém-colocadas no local.
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Túmulo na Consolação em 1995 e em 2019 – Zanone Fraissat e Fabiano Accordi/Folhapress |
Fonte: Folha - Publicado por: Amara Alcântara
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