'Em 1989, Brizola já havia apelidado Lula de “sapo barbudo”, repugnante mas nada assustador'
A saída de Lula da cadeia acirra a polarização com Bolsonaro e traz ao palco os dois maiores atores políticos do Brasil pós-impeachment
(Theo Marques/FramePhoto/.)
A volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às ruas pode mexer com todo tabuleiro político do país.
O retorno da polarização entre Lula e Jair Bolsonaro pode
beneficiar a narrativa de ambos, ressuscitando a divisão do país
pós-impeachment que colocou ambos como os principais atores políticos do
Brasil desde 2017. Os jogadores e a torcida deste Fla x Flu eleitoral
já aquecem na lateral do campo.
Foi o próprio Lula que se comparou a uma cobra venenosa logo depois
do depoimento com condução coercitiva determinado por Sérgio Moro meses
antes da prisão definitiva: “se tentaram matar a jararaca, não bateram
na cabeça, bateram no rabo”. Em 1989, Brizola já havia apelidado Lula de
“sapo barbudo”, repugnante mas nada assustador. Lula dobrou a aposta.
Segundo nota do Radar da Veja de hoje, Lula teria dito a um dirigente
petista: “eu era o Lulinha paz e amor e mesmo assim me colocaram aqui
dentro. Agora vou sair com o sangue nos olhos”. A provocação tem tudo
para ser aceita.
Lula nunca permitiu o surgimento de políticos que pudessem rivalizar
com a sua liderança na esquerda e o resultado prático, depois de mais um
ano e meio da sua prisão, foi a eleição de um arquirrival radicalmente
anticomunista para o Planalto e uma oposição acéfala, anódina, sem
discurso ou qualquer apelo popular.
O petista vê na disputa com o atual presidente uma possibilidade de
desforra em relação ao ex-candidato que superava, muitas vezes com
folga, em todas as pesquisas eleitorais até ser preso, além de liderar a
oposição ao governo que hoje surfa relativamente tranquilo pela falta
de adversários relevantes aos olhos do eleitor ao seu projeto político.
É importante lembrar que Lula, na sua “caravana pelo país”
interrompida em abril de 2018 pela sua prisão, tinha uma dificuldade
enorme de engajar militantes e juntar mais do que um punhado de ouvintes
em seus comícios de norte a sul do Brasil, mas seu nome insistia em
liderar as pesquisas de opinião e seu candidato na eleição do ano
passado, Fernando Haddad, conseguiu chegar ao segundo turno.
Já Bolsonaro vai ter a chance única de deixar de lado as brigas
fratricidas contra aliados, colaboradores e até contra o próprio partido
e voltar a duelar com um antagonista ideológico de verdade, um
ex-presidiário envolvido nos maiores escândalos de corrupção da história
do país com uma sucessora que sequer se elegeu senadora no ano passado.
O presidente terá uma oportunidade rara de resgatar o espírito das
manifestações de 2015/16, sair do incômodo patamar de 30% de
popularidade e voltar a unir a maioria do país contra o risco real de
volta esquerda ao poder, como aconteceu recentemente na Argentina em
mais um presente para a narrativa preferida de seus apoiadores mais
radicais: “se criticar, o PT volta”.
Quanto mais medo a jararaca conseguir colocar no eleitor, melhor para Bolsonaro. O tempo dirá se ela ainda tem algum veneno.
Veja - Por Alexandre Borges
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