Universidade de Alagoas diz que óleo que atinge praias vazou de ‘navio fantasma’
Uma nova análise da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) indica que o recente vazamento de óleo bruto na costa do Nordeste teria sido causado por um navio fantasma – e não por um petroleiro grego, como aponta o governo brasileiro. Neste sábado, 9, o óleo chegou a mais duas praias do Espírito Santo, mostrando que se espalha agora pelo Sudeste.
A
embarcação teria passado pela costa brasileira com o sistema de
rastreamento por satélite, o transponder, desligado para não ser
detectada pelas autoridades. Os dados de navegação usados na pesquisa
são provenientes da plataforma Marine Traffic, provedora mundial de
trajetórias de navios.
A partir desses dados, o
Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis)
rastreou e analisou os trajetos dos cinco petroleiros de bandeira grega
que navegaram pela costa brasileira no período próximo à chegada de óleo
nas praias do Nordeste e que foram notificados pela Marinha do Brasil.
Autoridades
brasileiras acreditam que uma das cinco embarcações (Maran Apollo,
Maran Libra, Bouboulina, Minerva Alexandra e Cap. Pembroke) seria
responsável pelo vazamento e apontou o Bouboulina como principal
suspeito. A empresa Delta Tankers, responsável pela embarcação, negou a
responsabilidade.
Na semana passada, o Lapis já havia
contestado a versão da Marinha, que associava a origem das manchas de
óleo ao trajeto do Bouboulina. O laboratório encontrou uma significativa
imagem de óleo do satélite Sentinel-1ª, em 24 de julho, dois dias antes
da passagem do navio grego pelo local. Agora, o laboratório ampliou a
análise para as outras quatro embarcações de bandeira grega e chegou a
conclusão semelhante.
“A partir da análise dos cinco
navios gregos investigados pelas autoridades brasileiras, identificamos
que há grande probabilidade de as rotas deles não terem relação com o
derramamento de óleo no litoral do Nordeste”, explicou o pesquisador
Humberto Barbosa, coordenador do Lapis. “Algumas peças foram
fundamentais para montar esse quebra-cabeças: as imagens de satélite, as
informações de inteligência em navegação, a data do surgimento das
manchas de óleo na região, a direção das correntes oceânicas e a
procedência do petróleo.”
De
acordo com o Lapis, a imagem de satélite mais conclusiva da presença de
óleo no litoral do Nordeste foi registrada no dia 24 de julho, na
altura do Rio Grande do Norte. Ela identifica uma mancha de 86
quilômetros de extensão e um quilômetro de largura, a aproximadamente 40
quilômetros do município de São Miguel do Gostoso. A mancha varia de 40
a 1.200 metros de profundidade, dependendo do trecho. A mesma imagem
registra também a presença de um navio, que não seria nenhum dos cinco
petroleiros gregos.
“Na interpretação do sinal de
óleo na imagem de satélite já foram descartados possíveis ruídos de
fitoplâncton, topografia de fundo do oceano, correntes marítimas, nuvens
ou brisas”, explicou Barbosa. “A única interferência possível seria o
rastro deixado pelo navio na água ter sido registrado pelo satélite.
Porem, pela geometria, intensidade, espessura e tamanho da mancha,
consideramos baixa essa possibilidade.”
Óleo no Espírito Santo
Fragmentos
de óleo foram encontrados neste sábado em mais duas praias do Espírito
Santo: Urussuquara e Barra Nova. Na quinta-feira, 7, o óleo já chegara
em Guriri, no Espírito Santo. Autoridades locais fecharam a foz de
riachos que deságuam no mar para evitar que a poluição chegue aos rios e
comprometa o abastecimento de água.
O Espírito Santo
é o décimo Estado brasileiro a ser atingido pelo óleo, depois de
Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande
do Norte e Sergipe. De acordo com levantamento feito pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama),
cerca de 4.300 toneladas de óleo já foram retiradas das praias
nordestinas.
Fonte: Terra - Créditos: Roberta Jansen - Publicado por: Ivyna Souto
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