Visita a fantástica fábrica de nióbio, metal 400 vezes mais caro que ferro, controlada pela CBMM
Bolsonaro fez o metal extraído no interior de Minas ganhar fama nacional. A CBMM, dona de 80% do mercado global, investe para levar o nióbio a novos nichos
O nióbio é o elemento químico que ocupa o número 41 da tabela
periódica, em cima do tântalo e ao lado do molibdênio. Assim como estes,
o nióbio oferece características especiais ao aço e a outras ligas
metálicas. Bastam 100 gramas para fazer com que 1 tonelada de aço fique
mais resistente, maleável ou condutora. Custa uma fortuna: cada quilo de
nióbio vale de 30 a 40 dólares, 400 vezes a cotação do minério de
ferro, principal mineral explorado no Brasil.
A CBMM,
controlada pela família Moreira Salles, sócia do banco Itaú Unibanco, é
pioneira na exploração de nióbio e hoje controla 80% do mercado global,
avaliado em 3 bilhões de dólares por ano. Sua mina tem reservas
estimadas em 800 milhões de toneladas. Com 60 anos de história, a CBMM é
tão discreta que suscitou uma série de teorias conspiratórias sobre seu
principal produto. As teorias estão mais populares do que nunca — e o
nióbio também.
Recentemente, o metal virou queridinho de Jair Bolsonaro, que visitou
a fábrica da CBMM, em Araxá, no interior de Minas Gerais, há dois anos.
Bolsonaro cita o nióbio constantemente para ressaltar o potencial mineral
do Brasil, inclusive em regiões como a Amazônia. Em viagem ao Japão, em
junho, gravou um vídeo mostrando uma correntinha de nióbio.
Instalada nas montanhas a 10 quilômetros do centro de Araxá, a CBMM é
uma empresa camarada com os funcionários e clientes. A rua de entrada
de seu complexo industrial — formado, além da mina, por 14 fábricas — é
decorada com as bandeiras dos países de onde vêm seus sócios e clientes.
Em anos bons — e quase todos o são (em 2018, o lucro foi de 2,8
bilhões de reais) —, os 2.000 funcionários recebem até seis salários de
bônus. A CBMM financia 80% dos estudos de empregados e dependentes e
mantém uma pré-escola no centro de Araxá. Os impostos pagos respondem
por 70% da receita do município de 105.000 habitantes.
Parece um mundo de fantasia, e é esse o grande risco da CBMM. Sobram
casos de companhias dominantes em seus mercados que acabaram se
acomodando. Para manter o domínio de mercado, a CBMM está concluindo um
projeto de expansão de 2 bilhões de reais para elevar a capacidade de
produção de 100.000 para 150.000 toneladas por ano. Entre os novos
projetos estão turbinas, lentes, baterias — mas não correntinhas.
A versão completa desta reportagem está na edição 1191 da revista EXAME, disponível também na versão digital
Exame - Por
Nenhum comentário:
Postar um comentário