Julgamento desta quarta-feira no TRF-4 pode ser decisivo para volta do ex-presidente Lula à prisão
Quase
dois anos após o julgamento que levou o ex-presidente Lula à prisão, os
juízes do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) voltam a se
reunir na manhã desta quarta-feira (27) para decidir um caso que pode
ser determinante para que o petista vá novamente para o regime fechado.
Os
magistrados vão julgar recurso de Lula contra condenação em primeira
instância por corrupção e lavagem no caso do sítio de Atibaia (SP), que
era frequentado pelo petista e que foi reformado pelas empreiteiras
Odebrecht e OAS.
Fora da cadeia desde o último dia 8, Lula já
atingiu a marca de um sexto da pena cumprida na condenação no caso do
tríplex de Guarujá (SP), que garante que ele não voltará para o regime
fechado por causa desse primeiro processo, ainda pendente de recursos
nas instâncias superiores.
Dessa forma, o caso do sítio pode ser
decisivo para o futuro da liberdade do petista, já que há uma
articulação no Congresso para a volta da possibilidade de prisão de
condenados em segunda instância.
Entre
nove ações penais abertas contra ele no Paraná, São Paulo e DF, o caso
do sítio é o que está em estágio mais avançado após o processo do
tríplex, que já teve condenação confirmada também no âmbito do STJ
(Superior Tribunal de Justiça).
Em fevereiro, a juíza Gabriela
Hardt, que substituiu Sergio Moro na Vara Federal de Curitiba, condenou o
ex-presidente a 12 anos e 11 meses de prisão por ter aceitado as
benfeitorias na propriedade rural em troca de favorecimento às
empreiteiras em contratos na Petrobras. Outros nove acusados também
foram condenados.
As defesas e o Ministério Público Federal
recorreram ao TRF-4, corte com sede em Porto Alegre que funciona como
segunda instância da Justiça Federal. No julgamento desta quarta,
representantes das partes vão se pronunciar, e três juízes vão ler seus
votos na parte final, antes de o resultado ser proclamado.
Dependendo
do placar, aumentam as chances de recurso das defesas na própria corte
regional. Em caso de uma condenação por 2 a 1, por exemplo, os advogados
podem apresentar nova apelação à Quarta Seção do TRF-4, composta por
mais magistrados.
O julgamento pode se estender por todo o dia. No
caso do tríplex de Guarujá, no qual Lula teve condenação confirmada no
TRF-4 no início de 2018, a sessão durou mais de nove horas.
O trio
de magistrados que atua na Lava Jato tem uma modificação em relação ao
grupo que condenou Lula em 2018: saiu Victor Laus, que votou pela
condenação de Lula à época e que agora é presidente do tribunal, e
entrou Carlos Thompson Flores, que comandava a corte até junho.
Em
mais de cinco anos de Lava Jato, o TRF-4 tem um histórico de
alinhamento com as decisões de Curitiba. Desta vez, porém, é possível
que a corte anule neste julgamento a sentença de Gabriela Hardt, sem
julgar o mérito dos recursos das defesas, devido a uma recente decisão
do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a ordem de fala de delatores e
delatados em processos na primeira instância.
Antes de apresentar suas considerações finais na
ação penal, no fim do ano passado, a defesa de Lula pediu para se
manifestar apenas após réus delatores, que haviam feito acusações contra
o petista.
A juíza negou à época essa solicitação, mas em outubro
deste ano o Supremo reconheceu que esse benefício é necessário para
assegurar a ampla defesa a réus que não fecharam acordo de colaboração.
Duas sentenças da Lava Jato que não envolvem Lula já foram anuladas pelo
STF por causa disso.
Diante
desse novo entendimento da suprema corte, os juízes do TRF-4 podem
considerar que o caso precisa voltar à primeira instância para que a
etapa de alegações finais seja refeita, agora respeitando essa distinção
entre delatores e delatados.
Isso significaria que o processo do
sítio retrocederia em 11 meses —as alegações finais dos réus foram
entregues em janeiro deste ano.
O Ministério Público Federal que
atua na segunda instância, responsável pela acusação, chegou a concordar
com a volta para essa etapa, mas depois recuou.
Diferentemente do
julgamento de 2018, a apelação no caso do sítio ocorre em momento em
que a Lava Jato está sob forte pressão. Os investigadores sofreram
derrotas no Judiciário ao longo deste ano e enfrentaram críticas de
ministros do Supremo após a revelação de mensagens trocadas no
aplicativo Telegram.
Os advogados do ex-presidente inclusive
incluíram em seus memoriais apresentados à corte regional trechos de
diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil e por outros veículos, como a Folha.
A defesa queria ainda a inclusão entre as provas de mensagens obtidas
na investigação sobre o hackeamento de celulares de autoridades na
Operação Spoofing.
A defesa de Lula no caso se concentra em
questionamentos sobre imparcialidade. Afirma que nem os juízes Moro e
Hardt nem os procuradores da Lava Jato tinham o distanciamento
necessário para atuar no caso e que a Vara Federal de Curitiba não era o
foro correto para o processo.
Entre outros pontos que devem ser analisados pelo TRF-4, estão o suposto “aproveitamento” por Hardt da sentença proferida por Moro no caso tríplex e a falta de vínculo do caso com a Petrobras.
A
defesa cita ainda pendência de manifestação final do Comitê de Direitos
Humanos da ONU a respeito de reclamação apresentada pelo petista.
Sobre
as reformas feitas no sítio, a defesa afirma que o ex-presidente jamais
pediu ou recebeu vantagens indevidas nem concedeu benefícios
específicos para as construtoras. “A ‘gratidão’ dos empresários para com
Lula decorre de ações lícitas realizadas pelo ex-presidente, que
conduziram ao crescimento de tais empresas em razão de políticas
governamentais bem-sucedidas”, diz a defesa.
Para o Ministério
Público, os advogados do ex-presidente elegeram “a teoria conspiratória
como o principal fundamento para a demonstração da inocência de seu
cliente”.
Fonte: Folha de S. Paulo - Publicado por: Larissa Freitas
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