Paraíba tem três áreas de proteção ambiental atingidas pelo óleo derramado no litoral do Nordeste
Uma
vez por ano, peixes saem do alto-mar e nadam em direção ao estuário de
rios como o Tatuamunha, em Alagoas, onde soltam os seus ovos. Ali, os peixes nascem protegidos pelas raízes dos manguezais e têm mais chances de sobrevivência.
À
medida que vão amadurecendo, migram para áreas mais abertas, como os
recifes de corais, até chegarem ao mar aberto na vida adulta.
O
ciclo está ameaçado após a chegada de toneladas de óleo à área de
proteção ambiental Costa dos Corais, entre Alagoas e Pernambuco.
E
esse é apenas um exemplo de como a contaminação por óleo pode quebrar o
ciclo de diversas espécies marinhas do litoral brasileiro, com impacto
também socioeconômico nas comunidades que vivem no seu entorno.
As
regiões são consideradas sensíveis do ponto de vista ambiental por sua
diversidade biológica, além de aspectos estéticos e culturais. Por isso,
têm a sua ocupação e uso dos recursos naturais disciplinados por regras
que visam garantir a sua sustentabilidade.
Uma
das áreas mais atingidas pelo óleo foi a Costa dos Corais, segunda
maior área marinha protegida do Brasil. Há cerca de dez dias, uma mancha
gigante surgiu na região, que abriga o principal santuário de
peixes-boi do país, em Porto de Pedras (a 113 km de Maceió).
De
acordo com o biólogo Clemente Coelho Júnior, conselheiro da área de
preservação Costa dos Corais, a área é sensível por abrigar estuários de
rios, recifes e bancos de gramas marinhas, essenciais para a
alimentação e proteção de várias espécies.
“A
gente já percebe que todos esses ecossistemas foram atingidos. Sem
dúvida estamos frente à maior tragédia ambiental do litoral brasileiro.”
O
biólogo ainda destaca o componente socioeconômico na contaminação da
área de proteção: os ecossistemas locais são fundamentais para a pesca e
para o turismo, principais atividades econômicas dos municípios da
região.
Segundo
Camila Keiko Takahashi, bióloga da Fundação SOS Mata Atlântica e
coordenadora do Projeto Toyota APA Costa dos Corais, na chegada às
praias com a maré alta, o óleo menos denso passa por cima das barreiras
de corais. Mas quando a maré recua, a substância pode acabar grudando
nas estruturas calcárias, o que torna muito difícil a sua remoção.
“Quando o óleo encosta, todo o organismo no coral morre, pela substância ser muito tóxica”, diz Takahashi.
No
litoral sul de Alagoas, o óleo chegou na área de proteção ambiental de
Piaçabuçu, onde fica a foz do rio São Francisco. Para evitar um dano
maior no mais importante rio do Nordeste, barreiras de contenção foram
instaladas na região da foz.
Nesta
quarta (23), porém, uma grande quantidade de vôngoles — mariscos que
localmente são chamados de massunins— apareceu morta na praia Pontal do
Peba, dentro da área de proteção.
A
morte em massa pode ter ocorrido por causa do óleo, já que os mariscos
se alimentam filtrando a água que passa rente à areia. O Ibama afirmou
que vai investigar as causas da morte dos animais.
Takahashi diz
que é um sinal de alerta encontrar animais filtradores com sinais de
óleo, porque isso poderia indicar um possível comprometimento das
cadeiras alimentares das regiões afetadas. De acordo com ela, análises
das águas de algumas regiões já estão sendo feitas.
Outras
duas áreas de proteção ambiental também foram atingidas: Delta do
Parnaíba (PI) e Barra do Rio Mamanguape (PB). Além disso, seis reservas
extrativistas foram afetadas em cinco estados.
Entre
os parques nacionais, o mais afetado foi o dos Lençóis Maranhenses.
Somente nesta semana, 700 kg de óleo foram retirados da praia de
Travosa, no município de Santo Amaro do Maranhão.
Há
duas semanas, o óleo foi visto em outra área do parque: a praia de
Atins, em Barreirinhas. Uma tartaruga foi encontrada coberta de óleo.
“Estamos
monitorando a faixa costeira do parque para agir com rapidez caso
chegue mais óleo”, diz Lucas Garcez, chefe do Parque Nacional dos
Lençóis Maranhenses.
Também foi
atingido, em menor proporção, o Parque Nacional de Jericoacoara, um dos
principais destinos turísticos do Ceará. As manchas, que chegaram há
cerca de um mês, já foram retiradas.
Além das unidades de conservação proteção federais, o óleo também atingiu áreas de proteção ambiental estaduais e municipais.
Só
na Bahia, são sete áreas ambientalmente relevantes afetadas, como a
baía de Todos-os-Santos, a Costa de Itacaré e Serra Grande, as ilhas de
Tinharé e Boipeba, além do litoral norte.
A
baía de Todos-os-Santos é considerada uma das mais relevantes por
abrigar manguezais que terão impactos no médio e longo prazo, já que
partículas microscópicas do petróleo impregnam na lama e são absorvidas
por animais como ostras e caranguejos.
A
contaminação por tais partículas também é preocupante no caso dos
corais. Um vídeo de mergulhadores feito na região da praia do Cupe,
vizinha a Porto de Galinhas, maior destino turístico de Pernambuco,
mostra manchas de óleo no fundo do mar, próximas a corais. “Certamente
as substâncias liberadas pelo óleo afetam as espécies de coral”, diz
Carlos Teixeira, pesquisador do Labomar, da Universidade Federal do
Ceará.
Área mais afetada pelo óleo na
Bahia, contudo, foi o litoral norte. A região é um dos principais
berçários de tartarugas marinhas no país.
De
acordo com dados do Ibama, 2.190 filhotes de tartaruga foram capturados
preventivamente e outros 624 em Sergipe. Parte deles foi solta em áreas
que não foram atingidas por manchas de óleo.

Fonte: Folha de S. Paulo - Publicado por: Érika Soares
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