HÁ 50 ANOS, UM URUBU VOOU PELA PRIMEIRA VEZ NO MARACANÃ E MUDOU A HISTÓRIA DO FLAMENGO

Crédito: Reprodução/Facebook Flamengo
A maioria dos times de futebol são conhecidos por terem uma mascote. Geralmente um ser que costuma ser bastante simpático e gosta de agitar os torcedores. No Flamengo, é um Urubu. Mas, porque o rubro-negro possui essa ave como mascote?
Da mesma forma que o hino, o Flamengo possui em sua centenária história duas mascotes. A primeira foi o Popeye. O personagem foi criado na década de 20 pelo cartunista americano Elzie Crisler Segar e em 40 foi adotado como mascote do clube. Na época os jornais esportivos resolveram criar personagens para histórias em quadrinhos durante o Campeonato Carioca do ano de 1942, onde cada um dos grandes clubes do Rio de Janeiro seria representado por um personagem escolhido pelo cartunista argentino Lorenzo Molas. O Botafogo era representado pelo Pato Donald, o Fluminense por uma figura elegante com uma grande cartola, o Vasco pela figura de um almirante gordo e bigodudo e o Flamengo teve escolhido como o seu mascote o marinheiro Popeye. O Popeye representava a força e a valentia com que o Flamengo conseguia reverter situações quase que impossíveis, além é claro da óbvia ligação com o mar, que ambos possuem. Esse mascote acabou não ficando muito popular entre os torcedores do clube e com o tempo acabou sendo deixado de lado. No final da década de 60 o Urubu ficou popular entre os torcedores rubro-negros e passou a ser o principal mascote do Flamengo permanecendo assim até os dias de hoje.
Em 1969, após começar na história do Flamengo de uma maneira triste, o urubu surge como símbolo oficial da equipe rubro-negra.
A ave aparece em campo com uma bandeira do clube no pescoço como parte das provocações das torcidas adversárias, pouco antes do início de Flamengo x Botafogo, onde o Flamengo vence, quebrando um tabu de vitórias contra o Botafogo que durava desde 29 de julho de 1967 (9 jogos). O mascote foi estilizado pelo cartunista Henfil, do Jornal do Sports. A troca foi realizada principalmente pelo Popeye ser um herói americano, porém nunca deixou de ser lembrado.
Na década de 60 as torcidas rivais começam a chamar os torcedores do Flamengo de "urubus", alusão racista à grande massa de torcedores rubro-negros afro-descendentes e pobres. Tal apelido de cunho ofensivo nunca foi bem recebido pela torcida do Flamengo, até o dia 31 de maio de 1969.
Foi em um domingo de 1969, quando os fanáticos torcedores rubro-negros Luiz Otávio Vaz, Romilson Meirelles e Victor Ellery tiveram uma ideia aparentemente estranha: levar um urubu para um jogo entre o Flamengo e Botafogo pelo Campeonato Carioca no Maracanã, e soltá-lo. Na época, os dois clubes faziam o clássico de maior rivalidade pós-Garrincha e o Flamengo não vencia o rival havia dois anos. O primeiro desafio era conseguir a ave. Mas onde encontrar um exemplar? Moradores do Leme (Zona Sul do Rio), os amigos decidiram ir a um lixão localizado na Praia do Pinto, na Lagoa (também na Zona Sul). A primeira dificuldade surgiu.
"Fomos lá na sexta-feira anterior ao jogo e não encontramos nenhum urubu. Decidimos então ir para um outro lixão, no Caju (Zona Norte), à noite. Nada também. Então nos disseram que de manhã tinham mais de mil e voltamos lá no sábado. Com a ajuda de um gari rubro-negro, fizemos um laço com um lençol e capturamos um" - relembrou Luiz Octávio.
O primeiro passo havia sido dado, mas ainda surgiriam outros obstáculos. No caminho de volta para a Zona Sul, dentro de um carro DKV, o urubu se livrou do lençol em que estava embrulhado. O jeito foi parar o veículo na Avenida Brasil (uma das vias mais movimentadas do Rio) e conseguir um saco. O animal reagia com bicadas. Mas acabou dominado.
Após passar a noite no porão do prédio em que Romilson Meirelles morava, o pássaro foi levado para o Maracanã. Com o 'convidado' escondido em uma bandeira do Flamengo, entraram sem problemas no estádio. O objetivo era soltá-lo, com uma bandeira rubro-negra de quase um metro amarrada nas patas, quando os times entrassem em campo.
"Amarramos a bandeira no pescoço do urubu e levamos assim para o Maracanã", conta Luiz Octávio. Hidratado - os amigos deram uns goles de mate ao bicho -, ele foi solto antes da entrada dos times em campo. Mas como houve atraso das equipes, e o urubu estava agitado com os morteiros e bicava os seus 'amigos', o lançamento foi antecipado. O bicho demorou para alçar voo, fez que ia tombar, mas ganhou o ar e levou a torcida à loucura. Quase 150 mil torcedores estavam no Maracanã.
Nas arquibancadas, os torcedores do Botafogo gritavam, como sempre, que o Flamengo era time de "urubu". O urubu foi solto na arquibancada com a bandeira presa nos pés, e quando caiu no gramado, pouco antes do jogo iniciar, a torcida fez a festa, vibrando e gritando: "é urubu, é urubu". O Flamengo venceu o jogo por 2 a 1, numa partida que marcou também a estréia de Doval, e, a partir daí, o novo mascote consagrou-se, tomando definitivamente o lugar do Popeye.
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Luiz Octávio Vaz (esquerda), Romilson Meirelles e Victor Ellery - ARQUIVO PESSOAL |
Globo Esporte
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