Ex-delegado do Dops vai responder por ocultação e destruição de corpos durante ditadura militar
O
ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Cláudio
Antônio Guerra, de 79 anos, vai responder pelos crimes de ocultação e
destruição de 12 cadáveres, nos anos 1974 e 1975, por meio de
incineração em fornos da Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes, no
Norte Fluminense.
A
Justiça Federal recebeu a denúncia do Ministério Público Federal (MPF)
contra o homem, que se torna réu por crimes cometidos durante a
ditadura. “Isso é importante, pois, de acordo com dados do Relatório de
Crimes da Ditadura (2017), apenas seis de 26 pessoas acusadas por crimes
cometidos durante a ditadura se tornaram réus em ação penal”, explica o
procurador da República Guilherme Virgílio, autor do documento.
Uma Guerra Suja
Sob
a forma de confissão espontânea, depoimentos reunidos no livro Uma
Guerra Suja, Cláudio Antônio Guerra relata que de 1974 a 1975 recolheu
no imóvel conhecido como “Casa da Morte”, em Petrópolis (RJ), e no
Destacamento de Operação de Informação e Centro de Operações de Defesa
Interna (DOI-CODI), na Tijuca, os corpos de 12 pessoas, levando-os para o
município de Campos dos Goytacazes (RJ), onde foram incinerados, por
sua determinação livre e consciente, nos fornos da Usina Cambahyba.
Além
da condenação pelos crimes praticados, pede-se o cancelamento de
eventual aposentadoria ou qualquer provento de que disponha o denunciado
em razão de sua atuação como agente público, dado que seu comportamento
se desviou da legalidade, afastando princípios que devem nortear o
exercício da função pública.
Em seu depoimento, Cláudio Antônio
relatou que havia preocupação nos órgãos de informação, por parte dos
coronéis Perdigão e Malhães, de que os corpos daqueles que eram
eliminados pelo regime acabassem descobertos, movimentando a imprensa
nacional e internacional. Ele narrou que uma das estratégias de sumir
com os corpos consistia em arrancar parte do abdômen das vítimas,
evitando, com isso, a formação de gases que poderia fazer com que o
corpo emergisse. Ainda segundo ele, os rios constituíam a preferência
para afundamento dos corpos, dado que no mar “a onda traz de volta”.
Nesse
contexto, Cláudio informou que sugeriu o forno da Usina Cambahyba, como
forma de eliminação sem deixar rastros, dado que já utilizava a usina e
seus canaviais para desova de criminosos comuns, do Espírito Santo, em
razão de sua amizade com o proprietário da usina.
Para retirar os
corpos na Casa da Morte, Cláudio relatou que encostava o carro no portão
e recebia, em seguida, de dois ou três militares, os corpos ensacados
em sacos plásticos. Ao chegar na Usina, passavam os corpos para outro
veículo, que ia até próximo dos fornos, sendo então colocados na boca do
forno e empurrados com um instrumento que lembrava uma pá, e, ainda,
que o cheiro dos corpos não chamava atenção por causa do forte cheiro do
vinhoto.
Foi realizada em 19/08/2014 reconstituição no local, com
a presença de Cláudio Antônio Guerra, com a confirmação de que a
abertura dos fornos era suficientemente grande para entrada de corpos
humanos.
Fonte: Polêmica Paraíba - Publicado por: Gerlane Neto
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