Opositores políticos do presidente Jair Bolsonaro ainda hoje duvidam que ele tenha sofrido a facada
O
presidente Jair Bolsonaro submeteu-se, no último domingo (8), em São Paulo, a
uma nova cirurgia, ainda como consequência do atentado a faca que sofreu
no dia seis de setembro do ano passado em Juiz de Fora, Minas Gerais,
durante a campanha eleitoral. Os médicos que operaram Bolsonaro,
novamente, garantem que ele está bem e que seu quadro é estável no
pós-operatório. Uma reportagem publicada pela revista “Veja” mostra que
alguns opositores do presidente ainda hoje duvidam que ele tenha sofrido
a facada e acreditam que o ataque ao candidato do PSL foi uma
encenação, um golpe para enganar o eleitor, uma manobra planejada por
políticos e grandes corporações para interferir no resultado da disputa
presidencial contra Fernando Haddad, do PT.
O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta, por exemplo, não
hesita em afirmar que duvida que o atual presidente da República tenha
sido golpeado. “Eu nunca me convenci dessa facada”, disse, especulando
que o então candidato do PSL precisava ser submetido a uma cirurgia para
resolver um problema no abdômen. Esperto, ele teria, então, forjado o
ataque. Paulo Pimenta prossegue no raciocínio: “O Bolsonaro era visto
como um cara arrogante, violento, grosseiro, estúpido. Depois desse
episódio, passou a ser a vítima. Pode ter sido um belo golpe”. A tese se
sustentaria numa evidência inquestionável, conforme ele: o fato de
Adelio Bispo de Oliveira, o agressor, ter permanecido ileso após atacar o
candidato e ser preso.
– Veja bem, os apoiadores de Bolsonaro são irados, enlouquecidos. Uma
pessoa entra no meio de um comício, dá uma facada e não leva sequer um
tapa de ninguém? Não lhe acontece nada? Pelo contrário, ela é conduzida à
delegacia e protegida?” – questiona Paulo Pimenta. O deputado destaca,
ainda, outro detalhe que apontaria para uma trama armada pela própria
família. “Não podemos esquecer que dois meses antes do crime Adelio
esteve no mesmo clube de tiro frequentado por Carlos e Eduardo
Bolsonaro”. A “Veja” afirma que o deputado “não está sozinho em seus
delírios”. E acrescenta: “Da prisão, seu chefe, o ex-presidente Lula da
Silva, repete a mesma suspeita: “Aquela facada, para mim, tem uma coisa
muito estranha. Uma facada que não aparece sangue em nenhum momento…”
Um ano depois do crime que, para muitos, mudou a história do Brasil,
parece surreal, mas teses estúpidas como essas continuam inundando as
redes sociais e fazem parte das certezas de muita gente, por ignorância,
falta de informação ou simplesmente pura maldade – insinua a reportagem
de “Veja”. E adianta: “O fato é que o atentado contra o então candidato
Jair Bolsonaro que marcou a campanha do ano passado continua a
repercutir até hoje em vários aspectos – da saúde do presidente,
passando pelo terreno das delirantes teorias conspiratórias, ao panorama
político. “Assim como o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, que
continuou reverberando décadas depois, o golpe desferido pelo
ex-garçomAdelio Bispo de Oliveira, embora não tenha resultado em morte,
deixou sequelas”, informa “Veja”. No plano político, a facada é usada
por adversários e aliados na guerra da desinformação que permeia o
debate brasileiro.
Para os apoiadores do presidente, por exemplo, houve participação da
esquerda no planejamento, na execução e no acobertamento do atentado.
Membro graduado da tropa de choque do presidente da República, o
deputado Marco Feliciano é um dos defensores dessa tese: “O ódio que os
esquerdistas diziam que os conservadores pregavam foi materializado – e
partiu deles mesmos. O Adelio era filiado a um partido de esquerda,
frequentava o gabinete do deputado do PSOL, Jean Wyllys (informação que
nunca foi comprovada) e de outros mais”. Assim como o líder do PT,
Feliciano apresenta evidências que provariam uma conspiração. “Por que o
presidente da OAB não liberou o nome de quem pagou aos advogados do
Adelio? A história é muito mal contada, foi abafada. E se foi abortada é
porque tem alguma coisa lá”, conclui.
Em maio passado, em entrevista a “Veja”, Bolsonaro relembrou os
momentos que se seguiram ao atentado que, por pouco, não lhe tirou a
vida. “No primeiro momento, eu mão vi que era uma facada. Parecia um
soco inglês ou uma bolada. Eu levantei a camisa e vi um rasgo de uns
três dedos. E não sangrava. O sangue estava jorrando por dentro”,
contou. Bolsonaro confirmou que mesmo em recuperação da cirurgia tinha
condições de participar de alguns debates durante a campanha, mas
decidiu não comparecer a eles porque os adversários se uniriam para
tentar massacrá-lo.
Nonato Guedes, com “Veja” - Publicado por Lenilson Guedes
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