domingo, 1 de setembro de 2019

Abandono escolar

Quatro em cada dez jovens negros não terminaram o ensino médio, informa o IBGE


jovem negro - 4 em cada 10 jovens negros não terminaram o ensino médio
Concluir a educação básica ainda é realidade distante para muitos jovens brasileiros, mas o problema atinge com maior intensidade a população negra.
Um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio em 2018. Apesar da média geral já ser alta, o panorama entre os negros é ainda pior: quase metade (44,2%) dos negros homens dessa faixa etária não concluiu a etapa.
Os recortes por cor de pele e gênero revelam outros abismos: 33% das meninas negras nessa idade não têm ensino médio, enquanto o índice é de 18,8% entre as brancas.
O cenário relacionado ao ensino médio é só uma ponta do desafio, que começa mais cedo. Ser negro no Brasil aumenta a chance de exclusão escolar ao longo da educação básica, como mostram dados da mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), relacionados a 2018. As informações do IBGE foram tabuladas pelo Instituto Unibanco para a Folha.
O abandono escolar é um dos maiores entraves educacionais do país. Desde o ensino fundamental essa conjectura incide de forma mais acentuada sobre a população negra.
Enquanto, na média, 13,1% dos jovens de 19 a 24 anos não haviam concluído o 9º ano do fundamental, entre os negros o percentual era de 19%.
Também há mais jovens negros que, atrasados, ingressaram em escolas para Jovens e Adultos, o EJA. Mais de seis em cada dez estudantes da modalidade são negros.

Desigualdades

Os próprios jovens sentem na pele os reflexos das desigualdades de oportunidades.
Nascido em Goiás, Samuel Marques, 23, abandonou a escola na 8ª série para trabalhar, em Brasília. Só aos 19 retomou os estudos, em uma escola de EJA, a uma hora de casa (onde vive não havia vagas). “Muita gente ou trabalha ou passa fome”, diz.
O superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que a definição das causas dessas desigualdades exige maiores estudos, mas as evidências indicam processos estigmatizantes e estruturais.
“Pode ser estigma dos professores [com relação aos jovens negros, como a indisciplina], práticas cotidianas de exclusão, ambientes autorreferidos que produzem preconceito, leituras pretéritas que não são educacionais, e provavelmente uma combinação de todos esses fatores”, diz.
“É necessário um olhar para a diversidade, que favoreça um cotidiano na sala de aula que reconheça as diferenças, que tenha missão de igualdade de oportunidade ao longo do processo”, afirma.
Henriques protagonizou a criação, em 2004, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC (Ministério da Educação), que tinha uma diretoria para educação de jovens e adultos.
Ministro da Educação Abraham Weintraub, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

A primeira ação do governo Jair Bolsonaro (PSL) no MEC foi extinguir essa subpasta, sob o argumento de que temas de diversidade eram de cunho ideológico de esquerda.
“Embora haja uma suposta igualdade de acesso, não existe a mesma condição de permanência, que depende de outras condições, como salário, moradia, atendimento de saúde”, diz Roberto Catelli Jr., da Ação Educativa.
A exclusão escolar ajuda a perpetuar desigualdades. A remuneração ao longo da vida de uma pessoa com ensino médio pode ser até 48% maior que a daquela com o mesmo perfil, mas com escolaridade até o ensino fundamental, segundo com dados recentes levantados pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros.
O atual governo ainda esvaziou totalmente os repasses para um programa de bolsas para alfabetização de adultos, ao lado de outras iniciativas da educação básica.
Questionado sobre o que o governo tem realizado ou planeja para combater a evasão, o MEC indicou os programas de tempo integral para o ensino fundamental e médio (que não tiveram investimentos no ano) e a criação de 108 unidades militares.
O MEC afirma que a preocupação com a diversidade, sobretudo racial, foi incorporado por outras áreas, mas não citou ações específicas.
Segundo a pasta, o governo está elaborando uma política para fortalecer o EJA integrado à educação profissional como forma de tornar a modalidade mais atrativa.
Fonte: Folha de S. Paulo - Créditos: Paulo Saldaña - Publicado por: Ivyna Souto

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