Quatro em cada dez jovens negros não terminaram o ensino médio, informa o IBGE
Concluir
a educação básica ainda é realidade distante para muitos jovens
brasileiros, mas o problema atinge com maior intensidade a população
negra.
Um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio em 2018. Apesar da média geral já ser alta, o panorama entre os negros é ainda pior: quase metade (44,2%) dos negros homens dessa faixa etária não concluiu a etapa.
Um terço dos brasileiros entre 19 e 24 anos não havia conseguido concluir o ensino médio em 2018. Apesar da média geral já ser alta, o panorama entre os negros é ainda pior: quase metade (44,2%) dos negros homens dessa faixa etária não concluiu a etapa.
Os recortes por cor de
pele e gênero revelam outros abismos: 33% das meninas negras nessa idade
não têm ensino médio, enquanto o índice é de 18,8% entre as brancas.
O
cenário relacionado ao ensino médio é só uma ponta do desafio, que
começa mais cedo. Ser negro no Brasil aumenta a chance de exclusão
escolar ao longo da educação básica, como mostram dados da mais
recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), relacionados
a 2018. As informações do IBGE foram tabuladas pelo Instituto Unibanco
para a Folha.
O abandono escolar é um dos maiores
entraves educacionais do país. Desde o ensino fundamental essa
conjectura incide de forma mais acentuada sobre a população negra.
Enquanto,
na média, 13,1% dos jovens de 19 a 24 anos não haviam concluído o 9º
ano do fundamental, entre os negros o percentual era de 19%.
Também
há mais jovens negros que, atrasados, ingressaram em escolas para
Jovens e Adultos, o EJA. Mais de seis em cada dez estudantes da
modalidade são negros.
Desigualdades
Os próprios jovens sentem na pele os reflexos das desigualdades de oportunidades.
Nascido em Goiás, Samuel Marques, 23, abandonou a escola na 8ª série
para trabalhar, em Brasília. Só aos 19 retomou os estudos, em uma escola
de EJA, a uma hora de casa (onde vive não havia vagas). “Muita gente ou
trabalha ou passa fome”, diz.
O
superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que a
definição das causas dessas desigualdades exige maiores estudos, mas as
evidências indicam processos estigmatizantes e estruturais.
“Pode
ser estigma dos professores [com relação aos jovens negros, como a
indisciplina], práticas cotidianas de exclusão, ambientes autorreferidos
que produzem preconceito, leituras pretéritas que não são educacionais,
e provavelmente uma combinação de todos esses fatores”, diz.
“É
necessário um olhar para a diversidade, que favoreça um cotidiano na
sala de aula que reconheça as diferenças, que tenha missão de igualdade
de oportunidade ao longo do processo”, afirma.
Henriques protagonizou a criação, em 2004, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC (Ministério da Educação), que tinha uma diretoria para educação de jovens e adultos.
Ministro da Educação Abraham Weintraub, no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress
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A
primeira ação do governo Jair Bolsonaro (PSL) no MEC foi extinguir essa
subpasta, sob o argumento de que temas de diversidade eram de cunho
ideológico de esquerda.
“Embora haja uma suposta igualdade de
acesso, não existe a mesma condição de permanência, que depende de
outras condições, como salário, moradia, atendimento de saúde”, diz
Roberto Catelli Jr., da Ação Educativa.
A exclusão escolar ajuda a
perpetuar desigualdades. A remuneração ao longo da vida de uma pessoa
com ensino médio pode ser até 48% maior que a daquela com o mesmo
perfil, mas com escolaridade até o ensino fundamental, segundo com dados
recentes levantados pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros.
O
atual governo ainda esvaziou totalmente os repasses para um programa de
bolsas para alfabetização de adultos, ao lado de outras iniciativas da
educação básica.
Questionado sobre o que o governo tem realizado
ou planeja para combater a evasão, o MEC indicou os programas de tempo
integral para o ensino fundamental e médio (que não tiveram
investimentos no ano) e a criação de 108 unidades militares.
O
MEC afirma que a preocupação com a diversidade, sobretudo racial, foi
incorporado por outras áreas, mas não citou ações específicas.
Segundo
a pasta, o governo está elaborando uma política para fortalecer o EJA
integrado à educação profissional como forma de tornar a modalidade mais
atrativa.
Fonte: Folha de S. Paulo - Créditos: Paulo Saldaña - Publicado por: Ivyna Souto
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