Após vazamento sobre Operação Lava Jato, jornalista vira alvo de boatos nas redes
Publicações fazem alegação falsa de que Glenn Greenwald e seu marido, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), foram acusados de "atentar contra segurança pública do Reino Unido"
O brasileiro David Niranda e o americano Glenn Greenwald no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro em 2013 - Foto: REUTERS/Ricardo Moraes |
É falso que o jornalista Glenn Greenwald, editor fundador do site The Intercept, e seu marido, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), tenham sido acusados de “atentar contra a segurança pública do Reino Unido”. Na verdade, Miranda foi detido em 2013
no Aeroporto de Heathrow, em Londres, com base na lei antiterrorismo
britânica. Após nove horas, ele foi liberado sem acusação. Greenwald não
estava presente na ocasião.
No último domingo, 09, uma reportagem assinada por Greenwald com outros repórteres divulgou mensagens no aplicativo Telegram que teriam sido trocadas entre o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e o procurador federal da República Deltan Dallagnol. Segundo o site, Moro orientou investigações da Operação Lava Jato
quando era juiz da 13ª Vara de Curitiba. Desde então, postagens em
redes sociais e no WhatsApp fazem acusações falsas contra o jornalista
norte-americano.
Como informou o Estado em 2013,
Miranda foi detido no aeroporto britânico após sair de Berlim, onde
havia se encontrado com a documentarista Laura Poitras. Ela é diretora
de Citizenfour, filme sobre o ex-funcionário da Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos Edward Snowden,
que ganhou o Oscar de melhor documentário longa-metragem em 2015. O
brasileiro era suspeito de transportar documentos ilegais fornecidos por
Snowden.
Na época, a polícia britânica falou em “crime”
ao ver o material apreendido com Miranda — DVDs, discos rígidos e pen
drives. A justificativa da instituição é que os arquivos eram “altamente
sensíveis” e poderiam colocar vidas em risco se fossem divulgados. As
informações vazadas por Snowden revelaram um gigantesco esquema de
espionagem doméstica coordenado por Washington.
Os advogados de Miranda tentaram impedir que a polícia lesse ou divulgasse os documentos apreendidos. Na ocasião, Greenwald escrevia para o jornal britânico The Guardian e a defesa argumentou que o confisco de dados sigilosos seria um ataque à liberdade de imprensa.
O
jornalista chegou a declarar que a detenção de Miranda foi uma
tentativa de impedi-lo de fazer suas reportagens sobre os vazamentos de
Snowden. Os jornais The Guardian e The Washington Post ganharam
o Prêmio Pulitzer de Serviço Público em 2014 pela cobertura do caso.
“Agora vou ser mais radical com minhas reportagens no The Guardian. Tudo isso foi uma tentativa clara de intimidação”, disse Greenwald, quando se encontrou com o companheiro no aeroporto do Rio.
Em
2016, a justiça britânica considerou a detenção de Miranda legal. No
entanto, a sentença da Corte de Apelações abriu uma brecha para uma
mudança de interpretação legal que foi comemorada por defensores da
liberdade de imprensa. O tribunal reconheceu que “a cláusula da Lei de
Terrorismo britânica sob a qual Miranda foi detido se mostra
incompatível com a convenção que protege a liberdade de expressão ligada
a materiais jornalísticos”, como mostrou reportagem do Estado.
Estadão - Alessandra Monnerat
Nenhum comentário:
Postar um comentário