Presidente Jair Bolsonaro demite terceiro militar do seu governo em uma semana
Carlos Alberto dos Santos Cruz, Franklimberg Freitas e Juarez de Paula Cunha já foram demitidos
© Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
O presidente Jair
Bolsonaro anunciou ontem a demissão do terceiro general de seu governo
em três dias. Após serem afastados Carlos Alberto dos Santos Cruz da
Secretaria de Governo e Franklimberg Freitas da presidência da Funai,
ele decidiu exonerar do comando dos Correios o general Juarez de Paula
Cunha.
Segundo o presidente, Cunha "foi ao Congresso e agiu como
sindicalista" ao criticar a privatização da estatal e tirar fotos com
parlamentares da oposição. "Aí complica", disse Bolsonaro em café da
manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. O Estado participou da
entrevista.
O general assumiu a presidência dos Correios ainda no
governo de Michel Temer. Ele chegou ao posto por indicação de Gilberto
Kassab, presidente nacional do PSD. Bolsonaro decidiu mantê-lo no cargo,
mas Cunha era, na verdade, mais ligado ao vice-presidente, o general
Hamilton Mourão.
O chefe dos Correios foi à Câmara na semana
passada para uma audiência na Comissão de Participação Legislativa e
adotou um discurso contrário à ideia do governo Bolsonaro de privatizar a
estatal. Em sua fala, disse que se trata de uma empresa "estratégica" e
"autossustentável" e que os economistas não têm condições de calcular o
"custo social" dos serviços por ela prestados.
"Eu não queria
falar de privatização, até porque não é problema meu, mas tenho de
dizer: se privatizarem uma parte dos Correios, que acredito que será do
lado bom (que dá lucro), o que tirar daqui vai faltar lá (nos demais
municípios), vai faltar do outro lado", disse Cunha durante a audiência.
Parte
do recado foi publicada pela conta oficial dos Correios no Twitter e
compartilhada pelo ministro. Dois dias depois, o próprio presidente foi à
rede social defender a venda da estatal.
"Serviços melhores e
mais baratos só podem existir com menos Estado e mais concorrência, via
iniciativa privada. Entre as estatais, a privatização dos Correios ganha
força em nosso governo", publicou.
Segundo um integrante do
governo, já havia descontentamento com a postura de Cunha. Causava
desconforto, por exemplo, o fato de o presidente dos Correios evitar se
reportar ao seu chefe, o ministro de Ciência e Tecnologia. Isso
acontecia, segundo essa fonte, porque Cunha é general do Exército,
enquanto o astronauta Marcos Pontes, que comanda a pasta, é
tenente-coronel da Aeronáutica - que seria o equivalente a uma patente
inferior a sua.
Cunha não esperava a demissão. Ela foi anunciada
pelo presidente já no final do encontro com os jornalistas quando as
perguntas já haviam sido encerradas. O presidente havia tirado uma foto e
decidiu conversar mais um pouco. Sem ser questionado diretamente sobre o
assunto, falou da decisão.
Cunha tinha, por exemplo, uma
audiência marcada para a semana que vem no Senado para debater
justamente a privatização dos Correios.
Sucessor
Não
está definido ainda quem será o próximo chefe da estatal. Bolsonaro
disse que chegou a oferecer o posto ao general Santos Cruz, mas que
ainda não há definição.
Segundo o presidente, o ex-ministro da
Secretaria de Governo é "excepcional" e, por isso, gostaria que ele
permanecesse no governo em outro posto.
Ele disse ainda que a
saída de Santos Cruz, a quem conhece desde a década de 1980 e se refere
como amigo, foi uma "separação amigável". "Não adianta querer esconder,
problemas acontecem. Mas ele continua no meu coração", afirmou.
O
general foi avisado de sua demissão na quinta-feira, 13, em conversa com
Bolsonaro no Planalto. Apesar de ter sido substituído por outro
militar, o general Luiz Eduardo Ramos, seu afastamento foi resultado de
pressão da chamada ala ideológica do governo. O grupo já havia
conseguido demitir um civil, Gustavo Bebianno, que foi o primeiro
ministro a cair. Bolsonaro destacou a experiência de Ramos como assessor
parlamentar e disse que, por isso, ele vai "ajudar muito" na
articulação política.
No encontro com jornalistas, o presidente
foi questionado sobre a razão de aliados que o acompanharam na campanha
estarem fora do governo. Foram citados os nomes do ex-senador Magno
Malta, que não chegou a ser nomeado para cargos, de Bebianno e de
Leticia Catelani, que ocupava cargo na Apex, agência de promoção das
exportações do País e foi demitida.
O presidente disse que a todos foram dadas oportunidades. Segundo
ele, sua admiração por Malta continua. Mas Bebianno é "página virada" e
Letícia tinha "autoridade exagerada". "Cada um no seu quadrado", disse o
presidente. "Não posso sacrificar o governo." Procurados, Correios e
Cunha não comentaram. O Ministério de Ciência e Tecnologia disse que a
exoneração de Cunha será feita na semana que vem.
Política ao Minuto com informações do
jornal O Estado de S. Paulo
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