Carta aberta para o menino Arthur, o neto do ex-presidente Lula que morreu aos 7 anos na última sexta-feira
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Arthur e Lula (reprodução) |
por Alexandre De Oliveira Périgo, via Facebook
Descanse, Arthur. As
dores agora não te pegam mais. Não te conheci, mas tenho uma filha e uma
enteada com sua idade. Sei bem que aos sete anos a vida está apenas
desabrochando, numa maravilhosa mescla de descoberta de sabores,
sensações, vontades e alegrias.
Descanse,
Arthur. As injustiças agora não te alcançam mais. A morte não combina
com os pequeninos, Arthur. É algo inimaginável. O mundo é das crianças!
Morrer antes de usufruir do direito à plenitude de uma vida
razoavelmente longa é o castigo mais cruel possível entre todos os
castigos impossíveis. E a dor que atraca para sempre no peito dos que te
amam e ficam um pouco mais por aqui é indizível, nefasta, inexplicável.
Descanse, Arthur. Os
dogmas não te confundirão mais. Não é possível haver um deus
misericordioso que dite regras que incluam a morte de meninos como você,
Arthur. Sua precoce partida reforça minha incredulidade e relutância
quanto a existência do divino: ou não há deus ou o deus que existe é
perverso e não me interessam suas atitudes inescrupulosas.
Descanse, Arthur. A
canalhice daqueles que comemoram sua partida não te sujará mais. Esse
mundo não te merecia, Arthur. Não merece a pureza que você e as crianças
de sua idade carregam em cada sorriso, em cada frase direta e sábia, em
cada atitude legitimamente solidária. Nós, os já crescidos, infestamos o
seu lugar com nossa maldade, egoismo e imbecilidade. Nesse contexto
partir, ainda que tão cedo e tão dolorosamente, é também privar-se das
maldades mundanas vindouras que sacrificariam sua bondade e inocência
natas.
Descanse, Arthur. O
orgulho de sua família é agora seu eterno quarto de brincadeiras. Seu
avô é um grande homem, Arthur. Tenho certeza que você se orgulhava dele
como eu. Um brasileiro que saiu da miséria que assola tantos de nós para
se tornar o maior líder do Brasil. Um homem submetido a injustiças e
dores desumanas que apenas acrescentam mais e mais latitude à sua
grandeza.
Descanse, Arthur. O
cotidiano distópico não te contaminará mais. Você terá para sempre sete
anos, Arthur. E em breve estaremos todos juntos, sem mais aniversariar.
Nossas existências são tão somente brevíssimos intervalos entre nossa
quase eterna não existência; e estou seguro que você, menino, enquanto
por aqui esteve, alegrou aos seus, tal qual fez seu avô, que melhorou a
vida de milhões de pessoas injustiçadas.
Descanse, Arthur. A solidariedade de todos os brasileiros decentes agora é teu manto e seguirá para sempre a te aquecer, menino.
Fonte: www.pragmatismopolitico.com.br
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