Ex-juíza eleita senadora pelo PSL enfrenta ação de cassação e pode perder mandato
Selma Arruda é suspeita de abuso de poder econômico e de gastos ilícitos de campanha

© Jonas Pereira/Agência Senado
A Procuradoria
Regional Eleitoral em Mato Grosso requereu ao Tribunal Regional
Eleitoral a cassação da diplomação da senadora Selma Arruda (PSL) e de
seus suplentes por suspeita de abuso de poder econômico e de gastos
ilícitos de campanha.
O documento consta das alegações finais da
ação de investigação judicial eleitoral, que corre desde outubro. No
caso de cassação, o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, perderia
um dos quatro senadores eleitos em 2018. O julgamento da Justiça
Eleitoral deverá ocorrer ainda neste mês de março.
Ex-juíza, Selma
Arruda se tornou conhecida nacionalmente por suas decisões contra
personagens importantes da política mato-grossense. Foi ela que
determinou a prisão do ex-governador Silval Barbosa (MDB) e do
ex-presidente da Assembleia de Mato Grosso José Geraldo Riva (PSD),
conhecido por possuir mais de cem processos.
Tais decisões lhe rendeu o apelido de "Sergio Moro de saias" e a levou a ser a senadora mais votada no estado.
Além
da perda do mandato, o procurador regional eleitoral Raul Batista Leite
requer ainda a aplicação de sanção de inelegibilidade e, como
consequência, que seja realizada nova eleição para o preenchimento de
uma vaga de senador em Mato Grosso.
Para o Ministério Público
Federal, as apurações e a quebra de sigilo bancário da senadora e seus
suplentes comprovariam que a ex-juíza contraiu despesas de natureza
tipicamente eleitoral de, no mínimo, R$ 1.246.256,36, "as quais foram
quitadas com recursos de origem clandestina que não tiveram regular
trânsito pela conta bancária oficial", diz trecho do relatório.
Em
sua defesa, Selma Arruda diz que os recursos utilizados seriam de um
empréstimo de R$ 1,5 milhão que teria feito junto ao seu suplente,
Gilberto Possamai (PSL), que teria depositado em sua conta pessoal ainda
em abril de 2018, e, portanto, não seria doação de campanha nem caixa
dois.
Porém o MPF diz que as investigações comprovaram que o valor
envolvido não se direcionou a pagar atos ordinários da vida civil da
candidata.
A quantia, afirma o órgão, "visou a, única e
exclusivamente, adiantar as chances da candidata o pleito eleitoral".
Segundo o Ministério Público Federal, o valor de R$ 1,5 milhão "serviu
primordialmente à contabilidade paralela, a despesas não declaradas, com
o fito de desequilibrar o pleito antes do início da disputa
(pré-campanha)". "Em sábia linguagem popular, a representada queimou na
largada", afirma ação.
As investigações ainda apontam que o
contrato mútuo de empréstimo entre a ex-juíza e seu suplente foi feito
apenas para tentar dar "legalidade" ao financiamento adiantado de
campanha.
Para o MPF, a suspeita de simulação do contrato ganha
robustez quando se "verifica que o valor do bem imóvel supostamente dado
em garantia ao mútuo", avaliado em R$ 320 mil, representa somente
21,33% do valor da dívida.
Selma Arruda também responde por
pagamentos que teriam sido feitos fora do período eleitoral à Genius
Publicidade, empresa que pertence ao publicitário Luiz Gonzaga Rodrigues
Júnior, conhecido como Júnior Brasa.
A empresa alega que foi
contratada, em abril, para prestar serviços de campanha na ordem de R$
1,8 milhão, mas apenas R$ 470 mil foram pagos por Selma.
A
contratação ocorreu dias após Selma Arruda se aposentar do cargo de
juíza e anunciar a pré-candidatura. A empresa iniciou os serviços
recebendo o valor inicial na pré-campanha. Selma pediu para fazer um
novo contrato, com valores menores, mas a empresa negou. Pouco depois, a
própria juíza pediu rompimento do contrato.
A ação contra Selma
pelas supostas irregularidades é movida pelos candidatos derrotados ao
Senado Sebastião Carlos (Rede) e Carlos Fávaro (PSD) e pelo Partido
Social Democrático estadual.
Entre os principais interessados na
cassação de Selma Arruda está o ex-vice-governador de Mato Grosso Carlos
Fávaro (PSD), ligado ao agronegócio e ao megaprodutor Eraí Maggi, primo
do ex-ministro da Agricultura Blairo Maggi.
Fávaro busca assumir a vaga, já que ficou em terceiro lugar nas eleições para o Senado - que selecionou duas vagas.
Quem
também espera o desfecho com a intenção de disputar uma eventual nova
eleição é o ex-governador de Mato Grosso Pedro Taques (PSDB), que não
conseguiu se reeleger no mesmo pleito.
Nos bastidores, Taques
teria admitido a possibilidade de retornar ao Senado, onde atuou de 2011
a 2014. Porém o tucano encontra resistência dentro do próprio PSDB.
Procurado
pela reportagem a assessoria da senadora disse que não irá comentar
sobre o parecer do Ministério Público Eleitoral. Nas redes sociais,
Selma Arruda publicou na semana passada um texto afirmando que não
cometeu nenhum crime e pediu para que seus eleitores acreditassem nas
declarações dela. "Nisso (e somente nisso) vocês podem acreditar."
Notícias ao Minuto com informações da Folhapress
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