Vale diz não saber por que sirenes não funcionaram em Brumadinho
Além disso, a empresa não sabe ao certo quantos de seus funcionários estavam no refeitório em Brumadinho engolido pela lama

© Reuters
Onze dias após o rompimento
da barragem na mina do Córrego do Feijão, que matou pelo menos 134
pessoas e deixou 199 desaparecidos em Brumadinho (MG) no último dia 25, a
Vale ainda não sabe responder por que as sirenes que deviam alertar
para o desastre não foram acionadas e não diz quem eram os responsáveis,
na empresa, pela implementação do plano de emergência no caso de
desastre.
Além disso, a empresa não sabe ao certo quantos de seus funcionários estavam no refeitório em Brumadinho engolido pela lama.
A
Vale tampouco responde sobre atividades econômicas em barragens
descomissionadas, como a apuração de minério a partir dos rejeitos para
produzir BRBF, um composto de ferro exportado sobretudo para a Ásia.
A
empresa afirma que a apuração do ocorrido é sua prioridade, ressalta a
formação de uma comissão independente de investigação e afirma que os R$
100 mil disponibilizados às famílias atingidas não se tratam de
indenização, mas de auxílio. A indenização deve ser decidida em acordo
extrajudicial, conforme anunciado pelo diretor-presidente da Vale, Fabio
Schvartsman, após reunião com a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge.
A Folha reitera pedidos de entrevista a Schvartsman desde o
dia do desastre, mas sua assessoria alega falta de espaço na agenda,
que vem priorizando a atenção aos danos causados pela barragem. O
executivo, até agora, deu apenas entrevista coletiva.
Por meio de
sua assessoria de imprensa, a Vale respondeu a parte das dúvidas da
reportagem. Algumas das respostas enviadas por email, contudo,
contradizem informações apuradas pela Folha – as respectivas reportagens a
respeito dos temas questionados podem ser lidas nos links.
Por
que o refeitório de funcionários e a sede foram construídos em um local
que o plano de emergência apontava como rota da lama?
Em
nota de esclarecimento, a Vale informa que todas as suas barragens
possuem um Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração
(PAEBM), conforme estabelece a legislação brasileira. Esse plano é
construído com base em estudos técnicos de cenários hipotéticos para o
caso de um rompimento. O PAEBM prevê qual será a mancha de inundação e
também a zona de autossalvamento.
Conforme determina a portaria
DNPM 70.389/2017, o PAEBM da Barragem I da Mina Córrego do Feijão, em
Brumadinho, foi protocolado na Prefeitura de Brumadinho e Defesas Civis
Municipal, Estadual e Federal em julho, agosto e setembro de 2018. A
estrutura possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e
passava por constantes auditorias externas e independentes. Havia
inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a
última datada de 21/12/2018. A estrutura passou também por inspeções
nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de
monitoramento da Vale.
Toda essa documentação sempre esteve e
continua à disposição das autoridades. A Barragem I possuía sistema de
videomonitoramento, sistema de alerta através de sirenes e cadastramento
da população à jusante. Também foi realizado o simulado externo de
emergência em 16 de junho de 2018, sob coordenação das Defesas Civis e
com o apoio da Vale, e o treinamento interno com os funcionários em 23
de outubro de 2018.
Por que não foram mudados de lugar, mesmo que o pior cenário previsse o engolfamento do local em um minuto?
Ver nota de esclarecimento acima.
Por que as sirenes não detectaram a ruptura da barragem antes de serem engolfadas pela lama?
Ainda
estamos apurando as causas que impediram o apropriado acionamento do
sistema de sirenes.Quantas pessoas estavam no refeitório no momento que
ele foi atingido pela lama?Forneceremos as informações assim que
possível.
Por que o prefeito de Brumadinho afirma que desconhecia o plano de emergência?
Foi
realizado o simulado externo de emergência em 16 de junho de 2018, sob
coordenação das Defesas Civis e com o apoio da Vale, e o treinamento
interno com os funcionários em 23 de outubro de 2018.
Por
que, segundo moradores e vídeos de logo antes da ruptura, havia
movimento de caminhões na região da barragem nas últimas semanas?
A
estrutura possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e
passava por constantes auditorias externas e independentes. Havia
inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a
última datada de 21/12/2018. A estrutura passou também por inspeções
nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de
monitoramento da Vale.
Os funcionários e moradores foram devidamente informados sobre riscos?
Foi
realizado o simulado externo de emergência em 16 de junho de 2018, sob
coordenação das Defesas Civis e com o apoio da Vale, e o treinamento
interno com os funcionários em 23 de outubro de 2018.
Por que as vistorias não detectaram, segundo a Vale, problemas nas barragens?
A
estrutura possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e
passava por constantes auditorias externas e independentes. Havia
inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a
última datada de 21/12/2018. A estrutura passou também por inspeções
nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de
monitoramento da Vale.
As investigações sobre a causa do
rompimento da Barragem 1 ainda estão e andamento. A Vale criou um comitê
independente de apuração, coordenado pela ex-ministra do Supremo
Tribunal Federal Ellen Gracie, que contará também com o apoio do
escritório de advocacia Skadden, Arps, Slate, Meagher e Flom LLP. O
Skadden irá instruir um painel de peritos para que forneça sua opinião e
expertise profissional independente com objetivo de determinar a causa
do incidente.
A contratação do Skadden, bem como a criação pelo
Conselho de Administração do Comitê Independente de Assessoramento
Extraordinário de Apuração, auxiliará a Vale, de forma independente, na
apuração das causas do rompimento da Barragem I da Mina Córrego de
Feijão, em Brumadinho.
Por que a barragem não havia sido descomissionada ainda?
A Vale recebeu autorização para descomissionamento da barragem e o projeto estava em desenvolvimento.
Por que o plano aponta rotas de fuga que podiam ser obstruídas pela lama?
(Não respondida)
Qual o acordo que a Vale busca fazer com os atingidos?
O
diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, se reuniu na tarde de
31/01 com a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em Brasília,
para propor o pagamento de indenizações extrajudiciais às vítimas e
familiares dos atingidos pelo rompimento da Barragem 1, da Mina de
Córrego do Feijão, ocorrido na tarde do último dia 25. "Nossa proposta é
acelerar o máximo possível o processo de indenização àqueles que foram
atingidos pelo desastre", afirmou o presidente da Vale.
Segundo
Schvartsman, as indenizações serão pagas assim que for feito o acordo
extrajudicial com as autoridades de Minas Gerais, responsáveis pelo
caso. "Estamos preparados para abdicar de ações judiciais, buscando dar
maior celeridade possível a um acordo com as autoridades de Minas
Gerais, permitindo que a Vale comece, imediatamente, a fazer frente a
esse processo indenizatório", disse.
O cálculo de R$ 100 mil para famílias de mortos e desaparecidos prevê cobrir o quê ?
Trata-se
de uma ajuda doação, não tem nada a ver com indenizações. Segue
declaração do diretor de Finanças e Relações com Investidores, Luciano
Siani Pires, em coletiva no último dia 28 de janeiro, sobre o assunto.
"(A doação) é para minorar essa incerteza de curto prazo, ao ganha-pão
das famílias, muitos chefes de família foram vitimados na tragédia, a
Vale vai fazer uma doação a todas as famílias que perderam entes
queridos. É uma doação não tem nada a ver com indenização de 100 mil
reais imediata para cada família que perdeu um ente querido. Isso não
tem nada a ver com indenização, que nós sabemos são valores muito
maiores, que, obviamente, precisam ser conversadas com as famílias, com
as autoridades, com o ministério público. Mas é apenas para que essa
incerteza de curto prazo com relação ao sustento dessas famílias seja
aliviada."
A Vale manterá alguma atividade econômica nas barragens descomissionadas, como a busca de minérios para usar no BRBF?
A
Vale apresentou a autoridades brasileiras seu plano para descomissionar
todas as suas barragens construídas pelo método de alteamento a
montante. O plano apresentado visa descaracterizar as estruturas como
barragens de rejeitos para reintegrá-las ao meio ambiente. A Vale estima
que serão necessários investimentos em torno de R$ 5 bilhões para o
descomissionamento das barragens a montante e estima que o processo de
descomissionamento ocorrerá ao longo dos próximos três anos.
No que a Vale falhou para que esse desastre fosse mais letal que o de Mariana ?
A
Vale ressalta, de forma enfática, que a apuração dos fatos é o foco da
sua diretoria, juntamente com o apoio incondicional às famílias
atingidas, e que está e permanecerá contribuindo com todas as
investigações conduzidas pelas autoridades competentes. A Vale criou um
comitê independente de apuração, coordenado pela ex-ministra do Supremo
Tribunal Federal Ellen Gracie, que contará também com o apoio do
escritório de advocacia Skadden, Arps, Slate, Meagher e Flom LLP. O
Skadden irá instruir um painel de peritos para que forneça sua opinião e
expertise profissional independente com objetivo de determinar a causa
do incidente.
Quem era responsável pelo cumprimento do plano de emergência?(Não respondida).
Brasil ao Minuto com informações da Folhapress
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