Presidente Jair Bolsonaro diz ao ministro Gustavo Bebianno que ele está fora do governo
Saída do ministro será formalizada na segunda-feira (18), com publicação no Diário Oficial, afirmam aliados

© José Cruz/Agência Brasil
Chamado publicamente de
mentiroso pelo presidente Jair Bolsonaro em meio à crise das
candidaturas laranjas do PSL reveladas pela Folha de S. Paulo, o
ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) não
conseguiu respaldo para seguir no cargo, após uma série de negociações
que envolveram ministros palacianos nesta sexta-feira (15).
Bolsonaro, após se reunir com Bebianno, avisou a ele e a
aliados sobre a demissão -e que a saída do ministro poderá ser
formalizada na segunda-feira (18), segundo informou a coluna Painel, da
Folha de S. Paulo. Já Bebianno, que presidiu o PSL durante a campanha
vitoriosa de Bolsonaro, também avisou a aliados que deixará o cargo.
Abordado pela reportagem no hotel onde mora, em Brasília, disse que não
daria declarações.
Um assessor do governo que participou das
conversas relatou à reportagem que o clima azedou no meio tarde, horas
depois de ter ficado definido que Bebianno teria uma sobrevida no cargo.
Embora tentasse um encontro pessoalmente com o presidente desde
quarta-feira (13), Bebianno só foi recebido no fim da tarde, após
ministros e aliados entrarem no circuito.
A
conversa entre Bolsonaro e Bebianno teria sido ríspida, e o presidente
chegou a deixar um ato de exoneração assinado. A gota-d'água, segundo
integrantes do Planalto, foi o vazamento de diálogos privados entre
Bolsonaro e Bebianno, exclusivos da Presidência, ao site O Antagonista e
à revista Veja.
A temperatura da crise subiu na quarta-feira
(13), quando Carlos, o filho que cuida da estratégia digital do
presidente, postou no Twitter que o então ministro havia mentido ao
jornal O Globo ao dizer que conversara com Bolsonaro três vezes na
véspera, negando a turbulência política.
Mais tarde, no mesmo dia, Carlos divulgou um áudio no qual o presidente da República se recusa a conversar com Bebianno.
Bolsonaro,
que seguia para Brasília depois de passar 17 dias internado em São
Paulo após cirurgia para reconstruir o trânsito intestinal, endossou a
atitude do filho -e o fez publicamente, repostando a acusação de Carlos e
dizendo em entrevista à TV Record que não havia conversado com o
ministro.
Na mesma entrevista à Record, o presidente disse ter
determinado a abertura de inquérito da Polícia Federal sobre o esquema
de candidaturas laranjas de seu partido e que, se Bebianno estivesse
envolvido, "o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas
origens", ou seja, deixar o governo.
OPÇÕES
O governo
avaliava inicialmente duas possibilidades com a saída de Bebianno:
entregá-la a um parlamentar do PSL, tentando reduzir o dano com o
episódio, ou extingui-la, passando as atribuições para a Casa Civil ou
Secretaria de Governo.
Mas, entre a ala militar da gestão
Bolsonaro, o preferido para ocupar o lugar de Bebianno é o general da
reserva Maynard Santa Rosa, que já ocupava um cargo abaixo do ministro,
como chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Santa Rosa e o
general Floriano Peixoto, também da reserva, eram os nomes do núcleo
fardado a auxiliar Bebianno em suas funções. O ministro, durante a
campanha, era conhecido por suas posições abrasivas, que foram
amplamente amainadas durante sua presença no governo.
O principal temor dos militares é a emergência de áudios gravados pelo ministro com o presidente.
Um
general com acesso a Bolsonaro diz que o mandatário está tranquilo em
relação ao conteúdo, tendo dito a interlocutores que não haveria nenhuma
informação sensível de Bebianno que pudesse comprometê-lo. O mesmo não
poderia ser dito, segundo o militar, em relação a falas desconfortáveis
sobre aliados ou piadas politicamente incorretas.
As negociações
para evitar uma queda de Bebianno na sexta-feira começaram logo cedo no
Palácio da Alvorada, onde Bolsonaro ainda se recupera de uma cirurgia.
Às
9h, foram à residência oficial os ministros Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo), junto com a
deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP). Os três saíram dali com uma
proposta em mãos: propor a Bebianno um acordo para que ele seguisse no
cargo.
O grupo disse a Bolsonaro que a demissão de um de seus
auxiliares dessa forma -em crise exposta nas redes sociais- fragilizaria
a imagem sobre a confiabilidade do presidente e do governo perante o
Congresso e a opinião pública. Foi ponderado que isso poderia colocar em
risco uma das prioridades de sua gestão: a aprovação da reforma da
Previdência, que será apresentada na semana que vem.
Após o aval
de Bolsonaro, os três se reuniram com o chefe da Secretaria-Geral às
11h30, na Casa Civil, em encontro que não estava previsto na agenda.
Onyx
levou ao colega a proposta de que precisava manter discrição e silêncio
para seguir como ministro. Bebianno assentiu e depois deixou o Palácio
do Planalto por uma porta lateral, usada por visitantes e raramente
frequentada por autoridades. Ao ser abordado pela TV Globo, respondeu
que não sabia se ficaria no cargo.
Bolsonaro foi aconselhado por
auxiliares a demonstrar que estava reassumindo as rédeas do governo e,
contrariando recomendações médicas, apareceu de surpresa no Planalto no
início da tarde.
Ele chamou então 11 de seus 22 ministros, numa
conversa em que pediu que sua equipe evitasse falar em crise e
transmitisse à população e à imprensa um ar de normalidade.
Bebianno
ficou de fora do encontro, mas foi recebido na sequência, em uma agenda
na qual estavam, além dele e de Bolsonaro, o vice-presidente, Hamilton
Mourão, Onyx e o chefe do GSI, general Augusto Heleno.
Agora,
aliados de Bolsonaro querem que o filho Carlos reduza o tom de postagens
nas redes sociais que possam comprometer o governo. Desde quarta, ele
tem publicado apenas mensagens de ações governamentais e, inclusive, um
elogio a Mourão, a quem já dirigiu diversas críticas recentemente.
A
avaliação é a de que Carlos, que tem um temperamento considerado
difícil, pode até, temporariamente, reduzir o tom das críticas a
integrantes do governo nas redes sociais, mas que é impossível afastá-lo
definitivamente.
Para esfriar a crise, o presidente chegou a ser
aconselhado a manter Bebianno "no banco de reserva", tornando-o um
auxiliar de "segunda classe". A ideia era que ele fosse submetido a um
processo de esvaziamento, excluindo-o de reuniões, agendas, viagens e
eventos para não "contaminar o governo" até que a Polícia Federal chegue
a uma conclusão sobre as candidaturas laranjas.
A
postura de Carlos foi considerada inadmissível pela cúpula militar do
governo. O maior crítico foi o ministro do GSI, que defendeu em
conversas reservadas o afastamento do filho das redes sociais do
presidente.
O diagnóstico é o de que o presidente se colocou em
uma situação delicada diante da crise ao ter compartilhado a
manifestação do filho. Segundo relatos, o presidente não esperava que
Bebianno fosse insistir tanto em seguir no posto.
A crise foi
agudizada na quarta, quando Bolsonaro ainda estava em um quarto do
hospital Albert Einstein, em São Paulo, e ficou irritado ao ler uma
declaração de Bebianno de que eles haviam conversado três vezes no dia
anterior, quando as reportagens da Folha de S. Paulo foram publicadas.
Ele
viu na fala do ministro uma tentativa de "se pendurar" no contato com o
mandatário para escapar da responsabilidade de candidaturas laranjas do
PSL.
Na sala estavam apenas Bolsonaro e o filho Carlos, o mais
próximo do pai e que é desafeto de Bebianno. Responsável por criar a
estratégia de comunicação por meio das redes sociais do pai, Carlos foi
ao Twitter contestar a declaração do ministro dizendo ter permanecido as
últimas 24 horas ao lado do presidente e que a fala era uma "mentira
absoluta". Na sequência, um áudio de Bolsonaro foi publicado na conta do
Twitter do filho e mais tarde replicado por seu perfil.
A
primeira reportagem da série sobre os laranjas do PSL mostrou que o
atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema
de candidaturas de fachada em Minas que também receberam recursos
volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que não tiveram nem 2.000
votos, juntas.
Parte do gasto que elas declararam foi para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara dos Deputados.
Após
essa revelação, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, afirmou que
esse caso deveria ser investigado. A Procuradoria-Regional Eleitoral de
Minas Gerais decidiu apurar o caso.
No domingo (10), outra
reportagem da Folha de S. Paulo revelou que o grupo do atual presidente
do PSL, Luciano Bivar (PE), recém-eleito segundo vice-presidente da
Câmara dos Deputados, criou uma candidata laranja em Pernambuco que
recebeu do partido R$ 400 mil de dinheiro público na eleição de 2018. O
dinheiro foi liberado por Bebianno.
Maria de Lourdes Paixão, 68,
que oficialmente concorreu a deputada federal e teve apenas 274 votos,
foi a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país, mais
do que o próprio presidente Bolsonaro e a deputada Joice Hasselmann
(SP), essa com 1,079 milhão de votos.
O dinheiro do fundo
partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a
conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição. Na
época, o hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência era presidente
interino da legenda e coordenador da campanha de Jair Bolsonaro (PSL),
com foco em discurso de ética e combate à corrupção.
Apesar de ser
uma das campeãs de verba pública do PSL, Lourdes teve uma votação que
representa um indicativo de candidatura de fachada, em que há simulação
de atos de campanha, mas não empenho efetivo na busca de votos.
Essa candidatura laranja virou alvo da Procuradoria, da Polícia Civil e da Polícia Federal.
Na
quarta (13), a reportagem revelou ainda que Bebianno liberou R$ 250 mil
de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou
parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada
-sem maquinário para impressões em massa. O ministro nega qualquer
irregularidade.
Já nesta quinta-feira (14), a Folha de S. Paulo mostrou que uma
gráfica de pequeno porte de um membro do diretório estadual do PSL
-legenda do presidente Bolsonaro- foi a empresa que mais recebeu verba
pública do partido em Pernambuco nas eleições -sete candidatos
declararam ter gasto R$ 1,23 milhão dos fundos eleitoral e partidário na
empresa da cidade de Amaraji, interior de Pernambuco.
Política ao Minuto com informações
da Folhapress
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