Saída de Gustavo Bebianno muda relação do governo Bolsonaro com o Congresso Nacional
Parlamentares veem com reserva elevado número de militares no Planalto; Onyx é o único civil no primeiro escalão

© Reuters
TALITA FERNANDESBRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS) - A saída de Gustavo Bebianno do comando da
Secretaria-Geral da Presidência trouxe impactos diretos na relação do
Palácio do Planalto com o Congresso.
Logo que foi anunciada a exoneração de Bebianno, o governo
confirmou para seu lugar o general Floriano Peixoto, terceiro ministro
militar no Palácio do Planalto, isolando o chefe da Casa Civil, Onyx
Lorenzoni, como o único civil do prédio a ocupar um posto do primeiro
escalão.
A demissão do advogado em meio à crise das candidaturas
de laranjas do PSL, caso revelado pela Folha de S.Paulo, exigirá ajustes
finos na relação entre Executivo e Legislativo.
A fritura pública
à qual Bebianno foi exposto por cinco dias antes de ter sua demissão
confirmada estremeceu a confiança de parlamentares no governo. Embora
Bebianno não tivesse formalmente o papel de articulador político, era o
único dos quatro ministros palacianos com bom trânsito com o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Parlamentares veem com reserva o
elevado número de militares no Planalto, por considerarem que eles
pertencem a um universo muito diferente da classe política.
Um
exemplo é o próprio horário de trabalho. Votações importantes na Câmara e
no Senado costumam entrar pela madrugada, enquanto militares têm o
hábito de começar cedo e encerrarem o trabalho nas primeiras horas da
noite.
Capitão
reformado do Exército, Bolsonaro tem oito ministros militares, estando
três deles alocados no Planalto: Carlos Alberto dos Santos Cruz
(Secretaria de Governo), Floriano Peixoto (Secretaria-Geral) e Augusto
Heleno (Gabinete de Segurança Institucional). São todos generais
reformados do Exército, assim como o vice-presidente, Hamilton Mourão.
Além deles, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, é general da
ativa do Exército.
O principal ajuste que deverá ser feito na articulação política é a interlocução do Planalto com Maia.
Embora
ambos sejam do DEM, Onyx e Maia não têm boa relação. O ministro
trabalhou de forma contrária à reeleição do deputado para o comando da
Câmara. Parlamentares ouvidos pela reportagem em condição de anonimato
dizem que Maia poderá falar diretamente com Bolsonaro, esvaziando a
função de Onyx.
O presidente da Câmara estabeleceu também boa
interlocução com a equipe econômica, chefiada por Paulo Guedes, com quem
fala diariamente.
Apesar das dificuldades de diálogo na Câmara,
Onyx tem um forte aliado no comando do Senado, a quem ajudou eleger para
a presidência: Davi Alcolumbre (DEM-AP).
A Casa Civil estabeleceu
ainda duas secretarias especiais para o diálogo com as duas Casas
legislativas. O ex-deputado Carlos Manato, cuidará da Câmara e o
ex-senador Paulo Bauer, receberá as demandas do Senado.
Além
disso, a articulação política é dividida ainda com as lideranças do
governo no Congresso. Em seu primeiro mandato como deputado, o major
Vitor Hugo (PSL-GO) assumiu o cargo de líder do governo na Câmara. Já o
senador e ex-ministro do governo Dilma, Fernando Bezerra Coelho
(MDB-PE), foi escalado líder no Senado.
Há ainda expectativa sobre
o papel dos filhos parlamentares de Bolsonaro: o deputado federal
Eduardo (PSL-SP), o senador Flávio (PSL-RJ) e o vereador Carlos (PSC-RJ)
– a onipresença dele no Planalto incomodou a ala militar.
O
governo ainda desenha o papel do vice Mourão. Com extensa agenda
diária, recebendo parlamentares, embaixadores e empresários, ele dá
sinais de que não pretende adotar postura de discrição.
Mourão foi escalado por Bolsonaro a viajar para a Colômbia neste
domingo (24), onde participa, ao lado do chanceler Ernesto Araújo, de
uma reunião sobre a crise política na Venezuela.
Política ao Minuto
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