Na Alemanha, Jean Wyllys chama Moro de cínico e diz que Bolsonaro não é homem que respeita a Democracia
O ex-deputado federal Jean Wyllys, do do
Psol, que atualmente vive na Alemanha, voltou a falar sobre os motivos
que o levaram a abandonar o mandato para o qual foi eleito e deixar o
Brasil. Em entrevista ao jornal alemão Neues Deutschland, Wyllys afirmou
que o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil, Sérgio Moro,
agiu com cinismo ao se referir à prisão de um homem relacionado que
teria ameaçado sua vida.
Wyllys também afirmou que se o presidente Jair Bolsonaro fossem homem
que respeitasse a democracia, ele não teria deixado o Brasil: “Se ele
tivesse sido eleito e fosse um homem que respeitasse a democracia e
tratasse os derrotados como oposição política, eu permaneceria”.
O ex-deputado ainda afirmou que as instituições democráticas como o
Ministério Público, a Polícia Federal e o próprio Judiciário foram
negligentes em relação ao seu caso, pois tinham instrumentos legais para
conter as ameaças e difamações que recebia – e continua recebendo.
“Moro teve o cinismo de dizer que uma única pessoa que me ameaçava e
que foi presa, o Estado prendeu a partir de investigações sobre as
ameaças de morte contra mim. É mentira. Se você tiver acesso à
documentação da prisão desse sujeito, você vai ver que meu caso não é
citado em nenhum momento. Ele não foi preso por esse motivo.”, afirmou o
ex-deputado.
Neues Deutschland – Você falou que recebe ameaças há muito tempo. Mas foi logo depois da posse do Bolsonaro que você decidiu sair do país…
Jean Wyllys – Eu não saí necessariamente porque Bolsonaro
venceu as eleições. Tanto é que o pedido de medida cautelar à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos
foi anterior à eleição dele. A minha saída foi por causa de ameaças de
morte que se intensificaram após o impeachment da Dilma e, de maneira
muito grave, durante o processo eleitoral que deu a vitória a Bolsonaro.
Bolsonaro me envolvia.
Ele inventou a história de que eu havia criado um kit gay como
deputado federal e que eu seria ministro da Educação do governo Haddad. E
esse kit gay seria distribuído nas escolas do país ensinando as
crianças a serem lésbicas e gays. Também seria distribuída nas creches
uma mamadeira com pênis na ponta. E essa foi a plataforma de governo que
esse sujeito apresentou.
Se a maioria da população vota nesse sujeito por causa dessa mentira é
porque a maioria da população acredita nessa mentira ou quer acreditar
nessa mentira. Pode achar que é mentira, supor que é mentira, mas
decidiu dizer que é verdade porque odeia ver um homossexual numa posição
de poder. Então, já que o candidato à Presidência dizia isso
publicamente, as pessoas se sentiram autorizadas a dizer também.
Mais do que isso, as pessoas se sentiram autorizadas a usar a
violência física contra outras. Eu não pude fazer campanha durante o
processo eleitoral porque estava ameaçado, porque em todos os lugares
onde eu ia fazer campanha eu era insultado e ameaçado e eu estava com
uma escolta com três homens da Polícia Legislativa, que garantia a minha
segurança física, e ainda assim as pessoas se sentiam livres para me
insultar e me chamar de pedófilo, dizer que eu era um maldito, que
Bolsonaro iria vencer as eleições e que eu iria morrer.
Então, a minha saída não tem necessariamente a ver com a eleição dele
porque, se ele tivesse sido eleito e fosse um homem que respeitasse a
democracia e tratasse os derrotados como oposição política, eu
permaneceria. A questão é que ele e o seu governo não têm tratado a
oposição como oposição, mas como inimigos.
Têm criado meios para criminalizar os movimentos sociais que vão
fazer oposição ao seu governo e criado meios de fazer com que a polícia
elimine a oposição. Enfim, não foi necessariamente por causa da eleição
do Bolsonaro, mas a eleição do Bolsonaro e o processo eleitoral em que
ele estava, do qual ele saiu vitorioso, aumentaram o nível de violência
política no país.
E as informações que a imprensa divulgou de que a família Bolsonaro
tinha ligações estreitas com as milícias que executaram Marielle Franco.
Tudo isso fez com que eu decidisse não voltar para o Congresso.
As primeiras ameaças de morte já surgiram no meu primeiro mandato [em
2010] e durante um tempo eu pensei que elas tinham somente a intenção
de me intimidar e de me calar. Eu tratava dessa maneira até que em 14 de
março do ano passado minha companheira de partido Marielle Franco foi
executada de maneira bárbara.
E isso deu a mim e aos meus companheiros a noção de que as ameaças
não eram uma brincadeira, ou seja, só uma forma de intimidação. As
ameaças vinham pelo telefone do escritório onde trabalhava, chegavam
pelos e-mails institucionais e pessoais e pelas redes sociais.
E, além das ameaças, também desde o primeiro ano de mandato, eu sou alvo de uma campanha orquestrada de difamação.
Neues Deutschland – O Ministério da Justiça publicou uma nota
dizendo que não é verdade que foi omisso nas investigações, como o
documento da Comissão Internacional de Direitos Humanos falou. O que
você acha disso?
Jean Wyllys – É uma mentira. Eles foram omissos. Porque no
relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos foi pedida a
medida cautelar e o governo não fez nada. Ignorou completamente a medida
cautelar, e Moro teve o cinismo de dizer que uma única pessoa que me
ameaçava e que foi presa, o Estado prendeu a partir de investigações
sobre as ameaças de morte contra mim.
É mentira. Se você tiver acesso à documentação da prisão desse
sujeito, você vai ver que meu caso não é citado em nenhum momento. Ele
não foi preso por esse motivo.
Leia a entrevista completa na Revista Exame

Fonte: www.imprensaviva.com
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