Ministro Dias Toffoli e o Congresso arruínam a nova política na largada da legislatura
Uma canetada jurídica do presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Antônio Dias Toffoli, demoliu na
madrugada deste sábado (02) o desejo de maior transparência e publicidade
expresso um dia antes pela maioria dos senadores em seu primeiro dia
após a posse. Ao agir assim, Dias Toffoli reescreve o regimento interno
do STF e as leis 8437/92 e 12.016/09. Apenas o presidente, o
procurador-geral ou pessoa jurídica de direito público podem pedir a
chamada “suspensão de segurança”. Acontece que partido político é pessoa
jurídica de direito privado. Daí a aberração da decisão. Na calada da
noite, foi arquitetado uma espécie de conluio do atraso.
Por 50 votos a apenas 2, os senadores
haviam decidido na tarde de sexta-feira (01) que o processo para a eleição
do novo presidente do Senado seria com voto aberto, público. A decisão
fora tomada após questão de ordem do senador Lasier Martins (PSD-RS),
questionando a votação secreta, sob a alegação de que ela contrariava o
princípio da publicidade, expresso na Constituição. A questão de ordem
de Lasier era apoiada pela assinatura de outros 48 senadores. A maioria
do Senado é de 41 parlamentares.
O argumento de Lasier baseia-se no fato
de que os senadores são representantes da sociedade. As decisões que
tomam no Congresso não deveriam jamais ser pessoais, mas sempre baseadas
no respeito que devem aos seus eleitores. Assim, os eleitores precisam
estar informados sobre todas as suas ações. Nesse sentido, não pode
caber no caso do Poder Legislativo a ideia de que possam, como
parlamentares, decidir algo secretamente. No caso, a votação secreta
beneficia diretamente o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Um dos
sobreviventes da chamada velha política varrida pelo desejo de renovação
expresso pela sociedade nas eleições do ano passado, Renan parecia ter
uma maioria velada no Senado, que se dissiparia, porém, caso a votação
fosse aberta. Secretamente, tinha os votos. Abertamente, os senadores
recuariam.
Na sexta-feira (01), o debate em torno da
questão ganhou contornos de espetáculo circense. Único remanescente da
antiga Mesa Diretora do Senado, o senador David Alcolumbre (DEM-AM)
aboletou-se pela manhã para presidir a sessão. Ocorre, porém, que
Alcolumbre também era candidato à Presidência, e, em tese, seria
beneficiário do voto aberto. Uma série de eventos desencadeou-se para
tentar demover Alcolumbre do comando. Primeiro, o ex-secretário geral da
Mesa Luís Fernando Bandeira de Mello deu parecer contrário à condução
por Alcolumbre, indicando que a sessão deveria ser presidida pelo
senador mais velho, José Maranhão (MDB-PB). Alcolumbre, então, exonerou
Bandeira. Mais tarde, deu parecer à questão de ordem de Lasier na linha
do que o Senado já decidira quando tornou aberta a votação que cassou o
mandato do ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso na Lava Jato. O
processo seguiu nos moldes do que ocorreu no caso de Delcídio.
Quando houve a votação, porém, os
aliados de Renan começaram um pandemônio no plenário. Alegavam que
Alcolumbre, por ser candidato, não podia presidir a sessão. A senadora
Kátia Abreu (PDT-TO) chegou a roubar das mãos de Alcolumbre uma pasta
que continha os pareceres técnicos dos seus assessores para a tomada das
suas decisões. Instalou-se um impasse que durou várias horas. Após uma
tentativa de acordo, Alcolumbre suspendeu a sessão para que ela fosse
reiniciada na manhã de sábado.
À meia-noite, o MDB entrou com
representação para anular a votação que instituíra o voto aberto. E
obteve de Toffoli, ex-advogado do PT, partido que apoia a eleição de
Renan, o aval para a sua manobra. Pela decisão tomada por Toffoli, a
votação, que foi marcada para as 11h00, deveria ser secreta. Neste momento, o impasse, porém, continua. Senadores defendem
que simplesmente se ignore a decisão de Toffoli, o que poderá abrir uma
crise sem precedentes entre os Poderes. Em menos de 48 horas, ruiu a nova
política.

Fonte: istoe.com.br
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