Ministro Sérgio Moro diz que foi “incompreendido” em suas declarações sobre caixa dois
Em entrevista à Jovem Pan, o ministro defendeu que não mudou de discurso envolvendo a prática; para ele, caixa dois é “bastante grave”
São Paulo — O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro,
afirmou nesta segunda-feira (25) que foi incompreendido em relação a
suas declarações envolvendo a criminalização do caixa dois.
Em entrevista à rádio Jovem Pan, Moro
defendeu que um político que recebe uma verba para investir na campanha
eleitoral, sem que haja contrapartida, está praticando algo “bastante
grave”.
“O governo está apresentando um projeto
de lei com uma criminalização mais adequada do caixa dois, baseada em
uma proposta da Transparência Internacional. Nenhum outro governo pode
falar que fez isso no passado”, afirmou à rádio.
Na semana passada, a mudança de discurso
envolvendo o caixa dois levantou questionamentos sobre as reais
opiniões do ex-juiz federal e agora ministro envolvendo a prática.
Em 2017, em uma palestra em Harvard
quando ainda era juiz da Operação Lava Jato, Moro havia dito que
considerava a corrupção para o financiamento de campanha pior que o
desvio de recursos para o enriquecimento ilícito. Na ocasião, ele
definiu que “caixa dois é um atentado à democracia”.
No entanto, na última semana, quando
Moro revelou que seu projeto anticrime e anticorrupção seria dividido em
três textos diferentes, seu discurso foi outro: “caixa 2 não é
corrupção. Existe o crime de corrupção e o crime de caixa 2. Os dois
crimes são graves”, afirmou.
Segundo o ministro, desmembrar o pacote
anticrime e separar a criminalização do caixa dois foi uma decisão por
“razões estratégicas”.
“Houve uma reclamação, por parte do
mundo político, de que esse crime não deveria ser tratado junto com
crimes violentos, ou crimes de corrupção”, explicou durante a
entrevista.
O caixa dois não tem hoje tipificação
específica na lei eleitoral. O Superior Tribunal Federal (STF) entende
que para ser praticado, o caixa 2 viola necessariamente o artigo 350, do
Código Eleitoral:
“Omitir, em documento público ou
particular, declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, para fins
eleitorais: Pena – reclusão até cinco anos e pagamento de 5 a 15
dias-multa, se o documento é público, e reclusão até três anos e
pagamento de 3 a 10 dias-multa se o documento é particular.”

Em relação a suas expectativas
envolvendo a aprovação de seu ambicioso projeto, que traz inúmeras
promessas de campanha, como a expansão do excludente de licitude para os
policiais, Moro garantiu que “houve boa receptividade”.
“Não temos a ilusão de que esse projeto
vai mudar, por si só, as coisas. Mas ele faz parte desse processo. A
legislação precisa ser mais dura, porque essa é a compreensão do
brasileiro”, relatou.
Laranjas no PSL
Sobre as investigações da Polícia
Federal envolvendo candidaturas laranjas durante as eleições de 2018,
reveladas pelo jornal Folha de S.Paulo, Moro foi enfático ao dizer que
orientou a PF a “não proteger ninguém”.
Ele relembrou que antes de assumir o
cargo, combinou com o presidente Jair Bolsonaro que “ninguém seria
poupado” se aparecessem denúncias.
“Quando fui convidado [por Bolsonaro] o
que conversamos? Ninguém seria poupado. Essa é minha posição e do senhor
presidente, que ninguém seria poupado se surgissem casos de crimes no
âmbito do governo. Isso seria apurado e nós não iríamos proteger
ninguém. E essa é a orientação que tem sido passada para a PF e demais
órgãos de investigação”, afirmou.
O ministro foi questionado, logo em
seguida, se há algum desconforto em fazer parte de um governo cujo
partido pode ter utilizado candidaturas para desviar recursos do fundo
eleitoral. Moro respondeu que todas as denúncias “têm que ser
devidamente apuradas”.
Ouça a entrevista completa:
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