Sob holofotes, Vaticano promove cúpula sobre abusos sexuais cometidos por membros do clero
Encontro começa nesta quinta e ditará diretrizes contra crimes

© REUTERS / Max Rossi (Foto de arquivo)
O Vaticano sediará a partir
desta quinta-feira (21) um encontro liderado pelo papa Francisco que tem
como meta afrontar um dos temas mais espinhosos para a Igreja Católica:
os abusos sexuais cometidos por membros do clero. A conferência, que
durará quatro dias, leva o nome de "A Proteção dos Menores na Igreja" e
contará com a participação de 114 bispos de Conferências Episcopais -
instituições de caráter permanente que congregam os bispos de uma nação
ou de um determinado território -. A expectativa em torno do evento é
alta, tanto dentro da própria cúria quanto na imprensa internacional.
Isso porque a cúpula pode ser um divisor de águas na maneira como a
Igreja investiga, conduz e pune os crimes de pedofilia e abusos sexuais,
além de ocorrer em um momento em que surgem novos escândalos a cada
semana.
O mais recente veio à tona há apenas 48 horas, na França,
contra o núncio apostólico italiano Luigi Ventura, de 74 anos, que é
alvo de duas denúncias de agressão sexual e assédio. Nos Estados Unidos,
Austrália e Chile, passam de dezenas os casos investigados pelas
autoridades.
No último fim de semana, em uma decisão inédita, o
Vaticano aplicou sua mais alta sanção e removeu do sacerdócio o poderoso
cardeal Theodore McCarrick, ex-arcebispo de Washington, acusado de ter
abusado um adolescente nos anos 1970. No Brasil, um padre de Americana,
no interior de São Paulo, foi afastado em janeiro após receber denúncias
de abusos de menores.
O
argentino Jorge Mario Bergoglio, que foi eleito Papa em 2013, já
afirmou publicamente que os crimes sexuais configuram um dos maiores
problemas a se enfrentar. Na semana passada, ele admitiu, em conversa
com a imprensa, que, além dos abusos contra menores de idade, as freiras
também são vítimas de crimes sexuais, e que essa situação mina a
"credibilidade" da Igreja. Em dezembro, na tradicional mensagem de Natal
para a Cúria Romana, Francisco se referiu aos crimes como "abominações"
e prometeu que a Igreja não iria mais "ignorar" as denúncias.
Com
o encontro que começa amanhã, o Papa pretende criar novas regras
internas sobre como lidar com as denúncias e com as vítimas. Segundo
Francisco, o objetivo é fazer com que haja "protocolos claros" para
combater os abusos. Os bispos deverão ser o pilar dessas mudanças
propostas pelo Papa, já que têm o poder de replicar as medidas em seus
países de atuação. "A partir de amanhã, começaremos alguns dias de
diálogo e comunhão, de escuta e discernimento.
Pode ser um tempo
de conversão", disse Francisco, em um post no Twitter à véspera da
conferência, no qual usa a hashtag #PBC2019. A Organização das Nações
Unidas (ONU) disse ter "muitas expectativas" em relação à conferência.
Mais realista, Francisco recorreu aos fieis, pedindo para "rezarem" pelo
encontro, e não deixou de contar que, desde o papa João Paulo II, a
Igreja tem tentado criar mecanismos internos para combater os crimes
sexuais - em vão.
(ANSA)
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