Presidente Jair Bolsonaro assina decreto que facilita posse de arma de fogo
Alteração via decreto foi oficializada no início da tarde

© Alan Santos/PR
O presidente Jair Bolsonaro
(PSL) assinou na manhã de terça-feira (15) o decreto que flexibiliza a
posse de armas no Brasil. A expectativa é de que a medida seja publicada
ainda em edição extra do "Diário Oficial da União" desta terça, com
efeito imediato.
A assinatura foi feita em um evento no Palácio do Planalto que
contou com a presença de ministros e de integrantes da bancada da bala.
"Como
o povo soberanamente decidiu por ocasião do referendo de 2005 para lhes
garantir esse legítimo direito a defesa, eu como presidente usarei essa
arma (disse em referência à caneta que usou)", disse Bolsonaro no
momento da assinatura.
A flexibilização do porte de armas é uma
promessa de campanha de Bolsonaro. Poucos dias antes de assumir a
presidência, ele usou as redes sociais para informar que usaria um
decreto para modificar as regras.
Entre
os pontos previstos que o texto deveria alterar estão o período exigido
para renovação da posse e a discricionariedade. A ideia era ampliar de 5
para 10 a validade e retirar a exigência de autorização feita por um
delegado da Polícia Federal. A posse de armas atualmente no Brasil é
regulamentada pela lei federal 10.826, de 2003, conhecida como o
Estatuto do Desarmamento. De acordo com ela, são necessárias algumas
condições para que um cidadão tenha uma arma em casa, como ser maior de
25 anos, ter ocupação lícita e residência certa, não ter sido condenado
ou responder a inquérito ou processo criminal, comprovar a capacidade
técnica e psicológica para o uso do equipamento e declarar a efetiva
necessidade da arma.
Hoje a declaração de necessidade é feita pela
Polícia Federal, que pode recusar o registro se entender que não há
motivos de posse para o solicitante. Segundo especialistas, uma pessoa
que mora em um local ermo, afastado de delegacias e batalhões de
polícia, ou alguém ameaçado, por exemplo, tem mais chances de conseguir a
autorização. O rigor com a comprovação da necessidade também pode
variar de acordo com o estado e a cultura local.
Caçadores,
colecionadores e atiradores desportivos também podem ter a posse de
armas, mas o registro é realizado pelo Exército e segue critérios
específicos para cada categoria. Para atiradores, por exemplo, é preciso
comprovar a participação em clubes de tiro e competições.
A
posse, de acordo com a lei, significa que o proprietário pode manter a
arma apenas no interior da sua casa ou no seu local de trabalho, desde
que seja o responsável legal pelo estabelecimento.
No Estatuto do
Desarmamento, estava prevista a realização de um referendo, em 2005,
para que a população respondesse à seguinte pergunta: "O comércio de
armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?". Com 63,94% dos
votos válidos, o "não" ganhou. Com isso, o comércio permaneceu legal no
país.
PORTE
Já o porte é
proibido para os cidadãos brasileiros, exceto para membros de Forças
Armadas, polícias, guardas, agentes penitenciários e empresas de
segurança privada, entre outros. É preciso demonstrar a necessidade do
porte por exercício de atividade profissional de risco.
Quando uma
pessoa tem o registro de porte ela está autorizada a transportar e
carregar a arma consigo, fora de casa ou do local de trabalho. É
proibido para os cidadãos brasileiros, exceto para membros das Forças
Armadas, polícias, guardas, agentes penitenciários, empresas de
segurança privada, entre outros. É preciso demonstrar a necessidade do
porte por exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à
sua integridade física.
O porte é vinculado ao registro da arma.
Isso significa que uma pessoa com porte não pode andar com qualquer
arma, mas com aquela para qual obteve a autorização. Também pode ser
temporário e restrito a determinado território. O decreto presidencial
que regula o Estatuto do Desarmamento diz que "o titular de porte de
arma de fogo para defesa pessoal [...] não poderá conduzi-la
ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em locais públicos,
tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes, agências
bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em virtude
de eventos de qualquer natureza". Isso, contudo, é estabelecido por
decreto, e pode ser mudado pelo presidente sem necessidade de
autorização do Congresso.Segundo o estatuto, o porte é revogado caso o
portador seja detido ou abordado "em estado de embriaguez ou sob efeito
de substâncias químicas ou alucinógenas".
COMÉRCIO E REGRAS
Apesar
dos limites atuais, cerca de seis armas são vendidas por hora no
mercado civil nacional, segundo dados do Exército obtidos via lei de
acesso à informação pelo Instituto Sou da Paz. Neste ano, até 22 de
agosto, haviam sido vendidas 34.731 armas no total.
Além das
vendas recentes, o número de novas licenças para pessoas físicas,
concedidas pela Polícia Federal, tem crescido consistentemente nos
últimos anos. Passou de 3.029, em 2004, para 33.031, em 2017. O número
de novos registros para colecionadores, caçadores e atiradores
desportivos, dados pelo Exército, também subiu. Em 2012, foram 27.549 e,
em 2017, 57.886. No total, hoje, são mais de meio milhão de armas nas
mãos de civis: 619.604.
COMO É A REGULAÇÃO DE ARMAS EM OUTROS PAÍSES?
Os
especialistas contrários à liberação do porte de armas dizem que a
tendência atual é de restrição e é raro encontrar um exemplo de um país
que esteja afrouxando leis. Abaixo, veja o que é preciso fazer para
obter uma arma em oito países.
- Austrália: Tem leis muito
restritivas, e a posse é liberada apenas em casos excepcionais
(geralmente para caçadores, colecionadores ou fazendeiros em áreas
isoladas). Para ter a licença é preciso passar por cursos de cuidados no
manuseio, teste escrito e teste prático. Além da avaliação dos
antecedentes criminais, há casos em que a polícia entrevista familiares e
vizinhos. A legislação mais dura foi aprovada no fim dos anos 1990,
pouco depois de um massacre que matou 35 pessoas e feriu 23 em Port
Arthur, em 1996. Depois da lei, cerca de 650 mil armas foram
confiscadas.
- Alemanha: Para conseguir uma licença, é preciso
comprovar que a pessoa corre risco, demonstrar que é colecionadora ou
fazer parte de clube de tiro. O candidato passa por avaliação que leva
em conta antecedentes criminais, saúde mental e uso de drogas. Caso seja
concedida, a permissão é revisada a cada três anos. Para manter a arma
em casa, é preciso permitir inspeções não anunciadas da polícia, que
verifica se o armamento está guardado em local seguro.
- África do
Sul: É muito difícil obter uma arma legalmente. O processo é lento e
inclui aulas de tiro, entrevistas com familiares, checagem de histórico
criminal e de uso de drogas e inspeção no local onde a arma será
guardada -tudo isso antes que a compra seja autorizada. Nas cinco
maiores cidades do país, os homicídios caíram 13,6% ao ano nos cinco
anos posteriores à aprovação da legislação atual, o que aconteceu nos
início do anos 2000.
- China: Em geral, os chineses que moram em
cidades são proibidos de ter armas em casa -elas precisam ser guardadas
em depósitos especiais. Para obter a permissão para comprá-las, é
necessário apresentar uma justificativa e demonstrar conhecimento sobre
uso seguro e manuseio. Também há avaliação do histórico policial e da
saúde mental da pessoa.
- Estados Unidos: É o país com maior taxa
de armas por habitante do mundo. Para ter uma arma, basta passar por uma
checagem instantânea de antecedentes criminais, mas isso não é
necessário se a compra for realizada com um vendedor privado, em vez de
em uma loja -cerca de um terço dos compradores não passou pela checagem,
segundo estudo de Harvard. Em alguns estados há maiores restrições, mas
em geral elas incluem apenas mais tempo de espera pela liberação da
compra ou checagem mais aprofundada do histórico do comprador. Há mais
de 50 mil lojas de armas no país.
- Japão: Tem das leis mais
rígidas do mundo. O longo processo para obter a permissão para comprar
uma arma envolve aulas de tiro (que também precisam ser autorizadas),
teste escrito, teste prático, avaliação psicológica e psiquiátrica,
entrevista com a polícia para explicar por que a arma é necessária,
avaliação rigorosa de histórico criminal e de relações pessoais (também é
avaliado se a pessoa tem dívidas) e inspeção policial do local onde a
arma será armazenada.
- México: Há apenas uma loja de armas em
todo o país e ela fica na capital, Cidade do México. Para obter a
permissão do governo, é preciso atestado que comprove que a pessoa não
tem antecedentes criminais. Também é necessário ter emprego fixo e
renda.
- Reino Unido: A posse só é permitida para caçadores ou
membros de clubes de tiro. Quem requer a permissão precisa passar por
checagem de antecedentes criminais e entrevista domiciliar com a
polícia, que verifica o local onde a arma será guardada
- Rússia: É preciso ter autorização para caça ou justificar a
necessidade da arma para defesa pessoal. O requerente passa por testes
relativos ao manuseio do armamento, primeiros socorros e legislação,
além de avaliação psicológica e de antecedentes criminais.
Notícias ao Minuto com
informações da Folhapress
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