Cesare Battisti é preso na noite de sábado, na Bolívia, e deve ser extraditado para Itália
Bolsonaro comemora prisão de italiano, foragido desde dezembro, com críticas ao PT.
Itália agradece ao Brasil, e defende que ex-ativista siga direto da Bolívia para Roma
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Cesare Battisti, em outubro de 2017, durante uma entrevista a um veículo brasileiro. MIGUEL SCHINCARIOL AFP |
Cesare Battisti,
ex-militante da esquerda condenado por quatro assassinatos na Itália na
década de 1970, foi preso na Bolívia na noite deste sábado, 12 de
janeiro, por uma equipe da Interpol formada por agentes italianos e
brasileiros na cidade de Santa Cruz de La Sierra. Battisti era considerado foragido desde meados de dezembro do ano passado, quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux, ordenou sua prisão preventiva. A detenção do ex-ativista foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro. O mandatário brasileiro aproveitou a notícia da detenção para fazer críticas ao PT, partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que em seu último dia de Governo, em 2010, concedeu asilo ao italiano.
"Finalmente a justiça será feita ao assassino italiano e companheiro de
ideais de um dos governos mais corruptos que já existiram no mundo
(PT)", escreveu Bolsonaro, em uma rede social, adotando o mesmo tom de um dos seus filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro, que escreveu no Twitter: "Ciao Battisti, a esquerda chora".
Ainda
não foi confirmado se Battisti será encaminhado de volta ao Brasil para
que o Governo federal dê início ao processo de extradição, ou se será
enviado à Itália diretamente da Bolívia, do presidente Evo Morales,
um dos últimos expoentes do ciclo de esquerda da década passada na
América Latina. No início da tarde, o ministro Augusto Heleno, do
Gabinete de Segurança Institucional, disse em Brasília que um avião do
Governo iria ao país vizinho para buscar Battisti antes da extradição
para a Itália, ainda sem data para acontecer. A declaração à
imprensa foi feita após uma reunião com o presidente Bolsonaro no
Palácio da Alvorada para tratar do assunto. "Ainda não está definido
oficialmente, mas a princípio sim. Ele passa pelo Brasil. Falta só
acertar o manifesto de voo", disse o ministro, segundo informações do G1.
Entretanto, pouco depois, o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte
disse que o ex-ativista segue direto de Santa Cruz de La Sierre para
Roma.
Em nota divulgada na manhã deste domingo, os Ministérios das Relações Exteriores e o Ministério da Justiça e Segurança Pública informaram que "estão
tomando todas as providências necessárias, em cooperação com o Governo
da Bolívia e com o Governo da Itália, para cumprir a extradição de
Battisti e entregá-lo às autoridades italianas". Por ser considerado um
foragido internacional, ele não precisa voltar ao Brasil para ser
extraditado.
Battisti foi membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo
(PAC), um braço das Brigadas Vermelhas, e foi condenado à prisão
perpétua por quatro homicídios ocorridos entre 1977 e 1979, que ele nega
ter cometido. Depois de viver 15 anos exilado na França – onde se
tornou um bem-sucedido autor de romances policiais –, em meados dos anos
noventa se viu obrigado a partir para o México. Finalmente chegou em
2004 ao Brasil, onde permaneceu oculto até que, em 2007, foi ordenada
sua detenção. Em 2013, casou-se no Brasil com uma brasileira e teve um
filho com ela.
Parabéns aos responsáveis pela captura do terrorista Cesare Battisti! Finalmente a justiça será feita ao assassino italiano e companheiro de ideais de um dos governos mais corruptos que já existiram no mundo (PT).— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 13 de janeiro de 2019
O Supremo Tribunal Federal aceitou sua extradição em 2009, numa
decisão não vinculante, que deixou a decisão nas mãos do então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas este a rejeitou em 31 de
dezembro de 2010, último dia de seu segundo mandato. O destino de
Battisti, que sempre foi reivindicado com insistência pela Itália,
começou a mudar durante a última campanha eleitoral no Brasil, quando o
então candidato da extrema direita Bolsonaro prometeu sua extradição se
chegasse ao Planalto. Battisti estava foragido desde que, em 13 de
dezembro, o STF ordenou sua detenção para que fosse extraditado para a
Itália, valendo-se de um decreto do então presidente Michel Temer.
A notícia da captura de Battisti foi comemorada pela classe política italiana. O ministro do Interior, Matteo Salvini, agradeceu ao presidente Jair Bolsonaro
e às autoridades bolivianas pela colaboração, acrescentando que
Battisti é “um delinquente que não merece uma cômoda vida na praia, e
sim acabar seus dias na prisão”. O ultradireitista Salvini acrescentou:
“Meu primeiro pensamento vai para os familiares das vítimas deste
assassino, que durante muito tempo gozou uma vida que vilmente tirou dos
outros, protegido pela esquerda de meio mundo”.
O ministro da Justiça, Alfonso Bonafede, antecipou que o ex-militante
“agora será entregue à Itália” para que cumpra sua pena. “Quem erra
deve pagar, e também Battisti pagará. O tempo passado não sanou as
feridas que Battisti deixou nas famílias de suas vítimas e no povo
italiano, assim como que não diminuiu o desejo humano e institucional de
obter justiça”, afirmou na sua conta do Facebook. O
ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, do Partido Democrata (PD,
centro-esquerda), também manifestou sua satisfação: “A detenção de
Battisti na Bolívia é uma boa notícia. Todos os italianos, sem nenhuma
distinção de cor política, desejam que um assassino deste tipo seja
devolvido o antes possível ao nosso país para cumprir a pena. Hoje é um
dia para a justiça”, celebrou.
O embaixador da Itália no Brasil, Antonio Bernardini, congratulou-se
pela notícia: “Battisti está preso! A democracia é mais forte que o
terrorismo”, escreveu o diplomata no Twitter. O deputado Eduardo
Bolsonaro, filho do presidente, também usou essa rede social para enviar
uma mensagem em italiano a Salvini: “O Brasil já não é mais uma terra
de bandidos. @matteosalvinimi, o ‘presentinho’ está chegando'“. Junto à
mensagem, colocou uma bandeira da Itália e o ícone de um avião.
A detenção de Battisti na Bolívia tem potencial para criar tensões
entre esse país com seu poderoso vizinho, além de representar um desafio
ao presidente Evo Morales. Embora tenha comparecido à posse de
Bolsonaro no início do mês em Brasília, Evo Morales sempre foi mais
alinhado políticamente aos governos petistas. Em uma série de
tuítes, o procurador federal brasileiro Vladmir Aras evocou várias
alternativas legais, começando pela solicitação, por parte de Battisti,
do status de refugiado político na Bolívia. Caso o obtenha, não poderia
ser enviado para a Itália nem para o Brasil. Mas a Bolívia também
poderia negar a permanência em seu território, devolvendo-o ao país de
origem ou enviando-o a um terceiro país que aceite recebê-lo.
El País
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