FAMÍLIA FELIZ: ‘Vivo com o meu ex e o meu atual marido na mesma casa’,
“Em
1998, quando eu tinha 16 anos, conheci Sidney. Começamos a namorar e
logo nos casamos. Na época, eu morava na zona rural, ainda era muito
menina e sem experiência nenhuma de vida. Ele vivia na cidade e era 17
anos mais velho do que eu. Me lembro bem do dia em que caiu uma chuva
forte na região onde eu morava, a estrada ficou péssima, intransitável
e, como ele trabalhava na prefeitura, foi para o interior ajudar. E foi
assim que nós nos conhecemos, em meio a um tremendo temporal e muita
lama.
Quando casamos, fui morar em Castelo, no interior do
Espírito Santo, com ele. Ficamos juntos durante 12 anos, e tivemos um
filho, o João Victor, atualmente com 16. Eu que tomei a decisão de me
separar. Desgastada, nossa relação já não estava mais dando certo, e nos
tornamos grandes amigos. Meu amor por ele virou um amor de irmão, como é
até hoje. Meu filho, na época com 10 anos, sempre foi apegado ao pai.
E, depois da separação, fomos morar na casa da minha mãe.
Tempos
depois, no aniversário da minha sobrinha, reencontrei o Reginaldo, um
amigo antigo, da mesma idade que eu, que não via há tempos. No fim da
festa, ele se ofereceu para me levar até para casa. Chegando lá, ficamos
conversando no portão quando rolou o primeiro beijo. Logo engatamos o
namoro e, depois de três meses, fui morar na casa dele com o meu filho.
Já
no primeiro fim de semana que Neca, apelido de criança do meu ex, foi
visitar João Victor, ele e Reginaldo, que, como todo morador de cidade
pequena, se conheciam de vista, conversaram bastante. Com a frequências
dos encontros, os dois logo se tornaram amigos. E mal me dei conta
quando ele passou a almoçar e jantar conosco todos os dias.
Um
dia, Regi resolveu fazer uma brincadeira com o Neca, que sempre foi
muito medroso, e colocou um bilhete embaixo da porta dele escrito:
‘Cuidado! Seus dias estão contados’. Assim que o Neca viu o bilhete,
ligou para a gente apavorado perguntando se podia dormir na nossa casa.
Ele passou a noite no quarto do João Victor e nunca mais foi embora.
Nessa época, morávamos todos juntos: eu, meu atual marido, o ex, nosso
filho e a minha sogra, que passou a ser uma mãezona também para
Neca. Anos depois, descobrimos que ela estava com mal de parkinson e
quem cuidava dela o tempo todo era Neca, sempre muito atencioso. Assim,
vivíamos como uma família feliz, da nossa maneira.
Claro, nem tudo
foram flores. Moramos em uma cidade muito pequena, com pouco mais de 20
mil habitantes. E quando a notícia de que Neca estava vivendo conosco
se espalhou, começaram as especulações, as fofocas. Lembro de sair na
rua e me perguntarem como eu fazia para administrar dois maridos. Sempre
muito indiscretos, perguntavam também se dormíamos os três juntos. Fora
outros comentários tão indelicados e sem noção que prefiro nem lembrar.
Dá vergonha! Eu sempre explicava que Neca era como um irmão.
Algumas
pessoas acham que, quando nos separamos, devemos nos tornar inimigos do
ex. E não é por aí. Na época em que decidimos morar todos juntos, o meu
filho e a minha família encararam os fatos super de boa. Ninguém foi
contra, nem os pais dos ‘dois maridos’. Não devemos satisfação da nossa
vida, ninguém paga as nossas contas!
Esse assunto, aliás, é
bastante bem resolvido em casa. Todas as despesas são dividas igualmente
por três. Até montamos um negócio juntos. Fomos sócios numa
micro-empresa de alimentação. Nunca houve uma briga, discórdia ou cenas
de ciúmes entre a gente, muito pelo contrário. Aqui, impera a amizade e,
sobretudo, a irmandade. Tanto que, muito em breve, eu e o Reginaldo
pretendemos oficializar a nossa união. E advinha quem será o padrinho? O
Neca, claro! Não tem como ser outra pessoa.
Quando meu ex arruma
alguma namorada, tem que levar em nossa casa primeiro pra ver se
aprovamos. E, se um dia ele se casar de novo e quiser que a atual esposa
more conosco, acredito que possamos viver todos em harmonia. Por que
não? É assim que funciona entre nós. Neca e Regi se tornaram tão amigos
que, quando a gente discute, meu ex sempre o defende. Meses atrás,
tivemos uma briga e saí de casa por uns dias. Pois não é que o Neca
continuou morando lá em casa com o Regi e o João Victor?
Brinco
dizendo que os homens da casa se juntaram contra mim. O mais engraçado
foi que os três foram pedir para eu voltar. E, depois disso, parece que
ficamos ainda mais unidos. Na nossa cidade faz um calor
infernal e, quando está muito quente, o Neca e meu filho colocam um
colchão no pé da nossa cama para dormir no nosso quarto, o único cômodo
da casa com ar condicionado. Costumo dizer que João Victor é um sortudo
porque tem dois pais! Quando quer comprar alguma coisa, pede pro Regi,
que tem o ‘bolso mais aberto’ que o Neca. Foi o Regi quem deu seu
primeiro celular e seu primeiro computador. Mas o Neca tem o coração
mais mole, e é ao pai que ele recorre na hora de sair e voltar tarde,
por exemplo.
Quando estão juntos, os três mais parecem irmãos! Um
brinca com o outro, implica, zoa… Os ‘dois maridos’ gostam da sopinha de
macarrão com legumes que eu faço — até nisso eles combinam! O mais
legal é que nunca houve ciúme por parte de nenhum lado, nem em relação a
mim, nem ao filho. Eu também não tenho ciúmes da amizade deles. Pelo
contrário! Admiro muito a relação que têm, porque sei que é verdadeira.
Quando
me separei do Regi, meu filho ficou muito triste, abatido. Depois,
quando viu a possibilidade de moramos todos juntos, se tornou um menino
bem mais alegre. Na rua, sou chamada de Dona Flor e Seus Dois Maridos,
mas nem ligo! Podem falar o que quiser. Quem sabe o que se passa dentro
de casa sou eu. Não devo satisfação para as pessoas, vivo muito bem,
obrigada! E tenho a sorte de ter dois grandes companheiros cuidando de
mim, sob o mesmo teto. Já até me imagino velhinha, morando com os dois.
Nós três de bengala na mão e sorriso no rosto. Um sempre cuidando do
outro!
Fato é que, para o espanto de todos, nossa relação é de
puro respeito. Sou casada com o Reginaldo e fiel a ele. O Neca é pai do
meu filho e um grande amigo de nossa família. Nada mais que isso. Não
nos importamos com o que as pessoas falam sobre nós. Na minha cabeça, o
certo seria cada um cuidar da própria vida.
Fonte: Marie Claire - Publicado por: Gerlane Neto
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