Ultranacionalistas russos organizam perseguição às mulheres que se relacionam com estrangeiros
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(Foto: Getty Images) |
Bem
distante da alegria do futebol, o machismo também está dando goleada na
Rússia, país-sede da Copa do Mundo de 2018. Depois dos diversos vídeos
que circularam na imprensa e redes sociais de mulheres sendo assediadas,
surge outro alerta: grupos ultranacionalistas russos que ofendem e
ameaçam mulheres que se relacionam com estrangeiros.
Alena Popova,
35, a jurista que ficou conhecida por criar uma petição online para
indiciar judicialmente os brasileiros que ofenderam uma mulher russa em
vídeo, é quem faz o alerta. Alena tem um longo histórico de defesa
dos direitos da mulher no país, ela é co-autora da lei contra a
violência doméstica – similar à Lei Maria da Penha no Brasil, ainda em
fase de aprovação na Rússia.
Em entrevista, a advogada falou sobre a
criação desses grupos no VKontakte – ou só VK – rede social russa
semelhante ao Facebook com mais de 140 milhões de usuários.
“Alguns
homens russos criaram grupos com o nome ‘Pink Vaginas’, onde se
voluntariam para matar e espancar mulheres russas que se relacionarem
com homens estrangeiros. Parece loucura, mas eles espalham fotos de
mulheres russas que, por exemplo, têm namorados estrangeiros, tentam
identificá-las e se organizam para persegui-las”, disse.
Perseguição online
Em
uma das comunidades que Marie Claire teve acesso, foram compartilhadas
fotos e alguns vídeos de mulheres russas interagindo com estrangeiros de
várias nacionalidades. Elas aparecem se divertindo e, em alguns
momentos, abraçando-os e beijando-os, num clima natural de
confraternização e festa. “Já estou com nojo”, disse um homem em um
comentário. “Quando ele for embora, ela vai morrer sozinha”, disse
outro.
Uma jovem que postou uma foto abraçada a um turista contou
que recebeu ameaças pelo VK logo após a publicação, que logo foi
deletada por ela, por temer represálias. “Eles escreveram que iam cortar
o meu útero e até anexaram fotos com armas”, disse ela em entrevista à
BBC.
Em um vídeo do ano passado compartilhado na comunidade, o
dono de um canal no YouTube chamado “Natural Select” (seleção natural,
em tradução livre) realiza uma experiência em que ele próprio e um
colega sueco abordam mulheres russas na rua e comparam quem teve mais
sucesso em conseguir encontros.
O “placar final”, que ficou em 6 a
2 para o sueco, foi usado por usuários para insultar mais as mulheres
russas, afirmando que elas se comportam como “putas à venda”.
“A dignidade das mulheres russas está completamente ausente”
A
deputada Tamara Pletneva, líder do Comitê da Família, Mulher e Criança
na Duma, Câmara baixa do Parlamento russo, causou polêmica com uma
declaração em que dizia que as mulheres russas não deveriam fazer sexo
com estrangeiros para evitar que se tornassem mães solteiras.
Ela
citou como exemplo os Jogos Olímpicos de Moscou de 1980 e alegou que, na
época, muitas russas engravidaram após relações com turistas e, quando
eles deixaram o país, elas ficaram sozinhas e “muito tristes”.
O
assunto também foi pauta da coluna do escritor Platon Besedin no
tabloide russo Moskovsky Komsomolets. Intitulado O tempo das putas:
mulheres russas envergonham o país e a si mesmas durante o Mundial, o
texto causou revolta e acendeu o debate em torno dos direitos das
mulheres.
“Nós criamos uma geração de prostitutas, prontas para
abrir suas pernas ao menor ruído de um sotaque estrangeiro. Se eles
mostrarem notas de dólar, então, é absolutamente perfeito para elas”,
diz.
“Mulheres fazendo sexo com quem elas querem, exatamente como os homens. Que horror”, ironizou uma leitora na página do jornal.
Alguns
homens, por outro lado, saíram em defesa de suas compatriotas:
“Deixem-nas se divertirem com os estrangeiros, assim como nós homens
podemos nos divertir com as estrangeiras”, disse um rapaz.
Marie Claire
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