Tradições não foram esquecidas, mas os festejos juninos se modificaram todos os anos na Paraíba
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Comidas de milho são tradicionais no período junino |
Quadrilhas,
fogueiras, comidas típicas e fogos de artifício. Estes são exemplos de
tradições dos festejos juninos no Nordeste, marcados pelas comemorações
de três santos da Igreja Católica: Santo Antônio, São Pedro e São João
Batista.
De acordo com a professora de antropologia da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Flavia Pires, as celebrações não
estão ficando esquecidas, porém, todos os anos se modificam na Paraíba
para se adaptar às mudanças da população, hoje, mais urbana.
“Essa
tradição não está ficando esquecida. Ela tem se modificado, pois tudo o
que é parte da cultura está sempre em movimento. Na cidade de João
pessoa, nos bairros da praia, por exemplo, não vemos fogueiras nas
casas, o que tem a ver com o modo de vida da população, de viver em
apartamentos e ter pouco contato com os vizinhos. A modificação da vida
urbana interfere na modificação da forma como a gente celebra as festas
juninas”, explicou, em entrevista ao Portal MaisPB.
A
professora explica que é da natureza da festa se modificar. Assim,
mesmo que alguns elementos permaneçam, outros vão sendo incorporados, de
acordo com as mudanças na sociedade.
Mesmo assim, as festas estão
por toda parte, nas escolas, quadrilhas, nas ruas enfeitadas e nos
fogos de artifícios. Um exemplo desta importância é a configuração do
calendário escolar na Paraíba todo pensado no São João, considerado um
feriado, o que não é igual em outros estados brasileiros, nos quais a
data pode até ser celebrada, mas não igual ao Nordeste. “Aqui tem uma
importância primordial”, disse.
A antropóloga acredita que os
festejos juninos vem se transformando em uma “festa espetáculo”,
responsável pela grande movimentação de recursos financeiros e
turísticos nos estados nordestinos, além de exigir o planejamento das
pessoas para participarem dos eventos. No entanto, em alguns lugares
ainda é uma festa familiar em uma pequena comunidade.
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Campina Grande realiza O Maior São João do Mundo
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Como
exemplo de festas juninas “gigantes”, a professora cita as de Campina
Grande e Caruaru, com grandes celebrações, o que só aumenta a
importância para a Paraíba. Esses eventos partem de elementos
tradicionais como a quadrilha, as comidas, a festa, a música, a alegria e
vão se modificando. Conforme a especialista, as festas não superam as
tradições, as alteram.
Um exemplo dessas mudanças está na
fogueira. Como em alguns bairros existem prédios, ela deixa de existir e
dá lugar a fogueiras falsas, como, por exemplo, no Parque do Povo, em
Campina Grande. Porém, no interior da Paraíba ainda é possível encontrar
celebrações tradicionais.
Aquele que prepara os caminhos para a chegada de Jesus
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Monsenhor Ivonio Cassiano |
Ao Portal MaisPB,
o Monsenhor Ivonio Cassiano explica que São João Batista é conhecido na
Igreja Católica como aquele que prepara os caminhos para a chegada de
Jesus. A devoção ao santo, segundo o religioso, é muito grande. No
Nordeste a religiosidade faz com que as pessoas fiquem em volta das
fogueiras e apreciem comidas de milho, ligados aos festejos pelo santo.
“É
tempo de festa, de devoção, o povo tem muita devoção a São João
Batista. Há muitas paróquias com esse nome e muitas pessoas foram
batizadas de João ou João Batista”, concluiu.
O santo ficou
conhecido por preparar os caminhos para a chegada de Jesus Cristo e o
responsável por seu batismo. João Batista é filho de Zacarias e de
Isabel e teve uma trajetória bastante humilde.
“O nascimento de
João Batista foi muito marcado pela presença de Deus. Isabel não podia
ter filhos por ser idosa e estéril. Assim, Deus concedeu a ela a graça
de ter um filho. Em toda a gestação, Zacarias ficou mudo e quando nasceu
a criança, ao ser perguntado sobre o nome do menino, ele escreveu o
nome João em uma tábua. Então, João Batista é aquele que prepara os
caminhos do senhor”, conta o monsenhor.
As fogueiras de São João
nasceram na mesma época. Quando Isabel avisou a Maria que logo que o
bebê nascesse, uma fogueira deveria ser acessa. Assim, quando Maria viu a
fogueira, soube da chegada do recém nascido.
“Tudo constata o
fato de que, no Brasil embora seja uma festa ligada à vida no campo, sua
história também tem a ver com a religiosidade do povo”, comentou a
professora de antropologia.
História da Festa
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Quadrilhas de origem francesa foram incorporadas à festa nordestina
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Flavia
Pires explicou que as festas juninas celebram ritos agrários, nos quais
antes da era cristã e da colonização portuguesa no Brasil já existiam.
Os povos ligados à agricultura, como as sociedades indígenas, faziam
festas no mês de junho para pedir uma colheita mais fértil.
As
quadrilhas são inspiradas em danças francesas que quando chegaram ao
Brasil foram adaptadas como danças de celebração à vida no campo, ao
matuto, tido como uma pessoa inocente e a mulher enfeitada com muitas
cores.
“Isso refletia a vida dos cidadãos brasileiros que ate a década de 1920 moravam em sua maioria no campo”, pontuou.
Além
disso, as comidas típicas são ligadas à alimentação dos nativos
brasileiros, como a batata doce, o milho e a macaxeira. Com a chegada
dos portugueses, aparecem o milho verde, a pipoca e o amendoim, além
de outros componentes, como a canela, que deram a mistura que hoje é
característica da época.
Juliana Cavalcanti – MaisPB
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