Paralisação dos caminhoneiros causa prejuízos graves às cadeias agrícolas
A agricultura acumula grandes prejuízos devido à greve dos caminhoneiros, que segue para o décimo dia de bloqueios nas estradas pelo Brasil.
Diversas cadeias produtivas do agronegócio são afetadas, seja pela falta de diesel para fazer funcionar maquinário da colheita, falta de insumos ou problemas no escoamento |
A agricultura acumula grandes prejuízos devido à greve
dos caminhoneiros, que segue para o décimo dia de bloqueios nas
estradas pelo Brasil. Diversas cadeias produtivas do agronegócio são
afetadas, seja pela falta de diesel para fazer funcionar maquinário da
colheita, falta de insumos ou problemas no escoamento, e que tendem a
piorar se a situação não começar a ser normalizada ainda essa semana.
Alguns destes impactos foram identificados pelo estudo da Agroconsult,
consultoria especializada em agronegócio no Brasil, medidos como baixo,
moderado, elevado e grave. “O horizonte é incerto”, afirma.
O prejuízo na cadeia da soja – concluída no início de maio - é
moderado, aponta a Agroconsult, com impactos na exportação, já que os
bloqueios nas estradas impedem que o produto chegue aos portos, apesar
dos negócios com o mercado externo estar asseguro pela soja estocada nos
portos. “Poderia ser pior se a colheita ainda estivesse em andamento e
as máquinas fossem paralisadas por falta de óleo diesel”, destaca o
estudo.
No entanto, os efeitos podem se agravar nesta segunda semana de
paralização. “Cerca de 400 mil toneladas devem deixar de ser embarcadas a
cada dia que a greve continuar. Mesmo que as rodovias sejam
desbloqueadas, levará algum tempo para normalizar o escoamento”, aponta a
Agroconsult. Antes da greve, as projeções da consultoria indicavam que o
volume de embarques em junho e julho deveria ser muito próximos do
recorde para esses meses. “Se parte das exportações tiver de ser
postergada, aumentará a competição com o milho nos canais logísticos de
agosto em diante”, afirma.
Também é considerado grave o impacto da greve dos caminhoneiros nas
lavouras de cana-de-açúcar, principalmente na região Centro-Sul, em
início de safra. De acordo com o estudo, as usinas moeram de 10% a 15%
da cana esperada para a safra e, até segunda-feira, 28, cerca de metade
do setor está parado por falta de óleo diesel para abastecer as frentes
de colheita de cana.
Escoar o etanol é outro problema que afeta a safra da cana - os
tanques das usinas já estão cheios e praticamente não há mais capacidade
de estocagem. Outro fator que preocupa esta cadeia produtiva é
referente ao eventual risco de que as medidas anunciadas pelo governo
para o diesel – controle de preços e redução de tributos – sejam
estendidos também para a gasolina nas refinarias. “Isso teria impacto
direto no mercado de etanol, que nos últimos meses se manteve
competitivo devido à política de preços livres para a gasolina”, aponta o
estudo.
O setor de proteína animal (aves, suínos, boi e leite) é duramente
atingido pela greve, considerado grave pela Agroconsult. Segundo
comunicado da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) a morte de
animais em larga escala já é uma realidade após o sétimo dia de
paralisação dos caminhões.
Além disso, enfatiza o estudo, as relações de troca de aves e suínos –
que já estavam desfavoráveis aos produtores devido à quebra da produção
de milho safrinha e da safra na Argentina – tornam-se, nesse momento,
“um mero indicador ruim”. “O grande problema está na paralisação de mais
de 167 plantas de abate e de processamento de carnes, cuja produção não
pode ser escoada”, aponta.
A recuperação do ciclo de produção, na análise da consultoria, pode
demorar quase seis meses para os suínos e quase dois meses para as aves.
Na cadeira produtiva do trigo, cujas lavouras estão em pleno plantio,
a Agroconsult analisa que o impacto da paralisação é elevado. Em
algumas regiões a semeadura está bastante avançada, revela o estudo. “É o
caso do Oeste, onde 90% da área já foi implantada”. Além disso, a falta
de combustível, essencial para o andamento do plantio, poderá levar a
uma redução da área plantada no Rio Grande do Sul e em partes do Paraná.
A dificuldade do óleo diesel enfim chegar à agricultura faz com que a
safra do café receba alerta de impacto elevado no estudo da
Agroconsult, próximo ao nível grave. A colheita está prestes a iniciar
em Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Espírito Santo. “O ano é de
supersafra (58,4 milhões de sacas) e os cafezais estão bem carregados. É
preciso considerar que boa parte da colheita ainda é manual, mitigando o
impacto da falta de combustível. Mas o transporte de mão-de-obra e da
produção já foram afetados”, destaca a consultoria, que ainda alerta
sobre atrasos na exportação do produto.
Mais um setor afetado pela greve dos caminhoneiros em nível elevado
pelo estudo é o da laranja. O bloqueio nas rodovias afetou diretamente
as exportações de suco de laranja, além de dificultar a colheita. “A
colheita da laranja ainda é manual, mas a dificuldade de transportar a
mão-de-obra até os pomares e a produção até as indústrias começa a
reduzir o andamento do trabalho”, explica a consultoria.
Em fase de pré-colheita na Bahia e também no Mato Grosso, a safra do
algodão foi pouco afetada pela greve. O impacto, pelo estudo da
Agroconsult, é moderado, mas pode piorar se a distribuição de diesel
continuar comprometida. “O início do trabalho será prejudicado”. A
consultoria, entretanto, ressalta que os agricultores não têm pressa
para colher, uma vez que o atual clima seco favorece a opção de manter
as lavouras no campo por mais tempo que o necessário. “No entanto, é
preciso considerar que os produtores têm contratos de entrega para
cumprir com tradings e indústrias”, pondera.
Com impacto considerado moderado, o setor de fertilizantes pode subir
para ‘elevado’ caso os bloqueios persistam. “Nesse caso, as entregas
para a safra 2018/19 no Centro-Oeste e nas demais regiões começarão a
ficar comprometidas. Para mitigar o impacto após a greve, há a
possibilidade de aumentar o uso de elementos simples e de reduzir os
estoques da indústria”.
Na cadeia produtivo da primeira safra de milho do ano, o impacto da
greve é considerado baixo. Segundo o 17º Acompanhamento de Safra da
Agroconsult, 95% do milho 1ª safra já foram colhidos no Brasil e
armazenados. “Resta por colher metade da área na Bahia e no Maranhão,
onde os produtores mantêm as lavouras no campo devido às limitações de
estocagem. O período seco nessa região permite que o grão fique no campo
por mais tempo sem maiores perdas”, explica a consultoria.
Já a segunda safra do milho teve impacto moderado devido aos
bloqueios. Caso a situação persista ponto de comprometer o avanço da
colheita e o escoamento da produção, afirma o estudo, o impacto tende a
crescer. “Projetamos que até o fim da primeira quinzena de junho, de 2
milhões a 2,5 milhões de toneladas devam ser colhidas no Mato Grosso. A
colheita vai demorar um pouco mais para começar nos demais estados
produtores. Neles, os efeitos da greve sobre o milho safrinha ainda são
pequenos”.
A Tarde
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