Juiz Sergio Moro: 'Pessoas têm ilusões sobre ídolos, mas é hora de verem a verdade'
"Se você for ao processo, vai ver que ninguém está sendo investigado ou julgado por causa de sua opinião política, mas por causa de lavagem de dinheiro, propina, atos criminosos", disse o juiz

© Pedro de Oliveira/ ALEP
Num debate em Nova York, o
juiz Sergio Moro defendeu o fim do foro especial, dizendo que ele deve
ser mantido só para o presidente, alertou para retrocessos no combate à
corrupção que podem ocorrer nos próximos meses, em alusão às eleições, e
defendeu a sua conduta nos julgamentos da Lava Jato.
Sem tocar no nome do ex-presidente Lula, que condenou em
janeiro no caso do tríplex, Moro disse ainda que "as pessoas têm ilusões
sobre alguns ídolos, mas é hora de verem a verdade".
"Se você for
ao processo, vai ver que ninguém está sendo investigado ou julgado por
causa de sua opinião política, mas por causa de lavagem de dinheiro,
propina, atos criminosos."
Moro
falou ainda em "novo espírito" de combate à corrupção que toma os
tribunais brasileiros no rastro da Lava Jato, que comparou com a
Operação Mãos Limpas, na Itália, e ao julgamento do escândalo Watergate
nos EUA.
"O povo não está insatisfeito com a democracia, está insatisfeito com os problemas da democracia", ele afirmou.
"E
um desses problemas é a corrupção generalizada e a impunidade. As
pessoas começam a perder a confiança no estado de direito, nos
políticos, nos juízes e nos procuradores, então começam a perder a
confiança na democracia. Por isso precisamos continuar o nosso
trabalho."
Na porta da Americas Society, o think tank que
organizou o encontro em Manhattan, um grupo de manifestantes enfrentou
uma forte tempestade de chuva e neve para protestar contra o juiz.
Em
inglês, eles gritavam que Moro "vende sentenças" e listavam benefícios
de seu cargo no Brasil, como o auxílio-moradia. Um cartaz com um retrato
de Lula dizia que o ex-presidente é inocente e outro afirmava que a
decisão dele no caso do tríplex "envergonhou o Brasil" - Moro entrou por
ali, mas chegou antes do começo do protesto.
Do lado de dentro, um
cartaz reproduzia a capa da revista "Americas Quarterly" em que o juiz
aparece vestido como soldado, metralhadora em punho e uma bandeira do
Brasil no peito, debaixo de uma manchete que o chama de "caçador da
corrupção".
Questionado durante o debate se no Brasil há uma onda
de "criminalização da política" e se a Justiça é seletiva, Moro disse
que "não há problemas entre políticos e juízes" e que "alguns políticos
estão criminalizando a política porque cometeram crimes e devem ser
julgados".
Ele disse, no entanto, que concorda com a afirmação de
que há privilégios para políticos no país e criticou o foro especial.
"Talvez isso deveria ser mudado. Seria uma ideia inteligente e talvez
manter para o presidente, mas não tenho tanta certeza."
"Estamos
falando de poder, de política", disse. "As pessoas lutam por poder e
algumas não querem mudar, querem ficar no poder, querem privilégios
mesmo que esses privilégios violem a lei."
Moro também defendeu "reformas gerais" para combater a corrupção e
que uma investigação judicial não é o suficiente para limpar o cenário,
mas que isso depende de "um governo amigável".
Política ao Minuto com informações da
Folhapress
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