Refugiados ganham bolsas universitárias para que possam reconstruir suas vidas
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Bolsas de estudo permitirão que refugiados estudem em universidade no Rio de Janeiro - Tomaz Silva/Agência Brasil |
A
Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro (Cáritas Rio), que atua há 40
anos na busca pela proteção e promoção social dos direitos de refugiados
e solicitantes de refúgio, assinou convênio com a Universidade Veiga de
Almeida (UVA) para concessão de cinco bolsas integrais a refugiados que
poderão cursar graduação naquela instituição de ensino. A iniciativa
permite que esses refugiados possam reconstruir suas vidas
profissionais.
Os primeiros alunos que ingressarão na
universidade, que fica no bairro do Maracanã, por meio da parceria são
da República Democrática do Congo, Gâmbia e Venezuela, e estão na faixa
etária de 23 a 50 anos.Vão cursar Relações Internacionais, Fisioterapia e
Ciências da Computação.
O processo seletivo é feito pela Cáritas e
inclui verificação de documentação exigida pelo Ministério da Educação
(MEC) para matrícula no ensino superior, que é a conclusão do ensino
médio, com documento comprobatório, traduzido ou não, declaração sobre a
escolha da graduação e entrevista pessoal com a equipe acadêmica da
UVA.
No caso das primeiras bolsas concedidas, foi feito contato
com os refugiados que foram pré-selecionados e que corresponderiam ao
perfil estabelecido.
“Nós fizemos uma seleção entre eles para ver
quem estava mais apto a entrar”, disse a coordenadora do Programa de
Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio (Pare) da Cáritas
Rio, Aline Thuller.
Importância do intercâmbio
O
pró-reitor de graduação da UVA, Carlos Eduardo Nunes-Ferreira, afirmou
que é função da universidade se manter aberta a demandas da sociedade e
do mundo.
“O ingresso dos cinco novos alunos não é somente motivo
de orgulho para a UVA; é também a possibilidade de um rico intercâmbio
de culturas para nossos alunos e professores”, disse. A ideia é realizar
a cada ano, em todo o primeiro semestre, novas seleções para bolsas
integrais.
“A gente fica muito animado com isso, porque a notícia
já se espalhou e outras pessoas que a gente não tinha selecionado estão
demonstrando interesse. A gente fica feliz porque entende que essa
possibilidade que a Veiga de Almeida abre é, na verdade, um passo muito
importante na vida dessas pessoas. A gente fala em integração local e
pensa na inserção no mercado de trabalho. Mas o que a universidade está
fazendo é abrindo a possibilidade para que eles se integrem com ainda
mais dignidade no país; que eles possam realizar sonhos, mas também
possibilitar que eles se insiram na sociedade brasileira com
qualificação”, destacou Aline Thuller.
Por isso, a Cáritas Rio vê
com grande alegria a parceria com a UVA e seu futuro desdobramento. “É
uma parceria muito importante para a gente”, completou a coordenadora.
Ela acredita que essa primeira prática com a universidade poderá ser
replicada por outras instituições privadas e públicas, para que abram
oportunidades para que refugiados estudem.
Segundo Aline, já há
conversas avançadas com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(Uerj) e com a Universidade Federal Fluminense (UFF) visando a
elaboração de vestibulares diferenciados para refugiados.
O perfil dos bolsistas
Mariama
Bah veio de um país (Gâmbia) onde o destino das mulheres é bem definido
na sociedade: casar, ter filhos e cuidar da casa. Ela casou cedo, aos
13 anos, e teve uma filha, aos 14 anos, mas conseguiu fugir e chegou em
2013 ao Brasil, onde cursou o ensino médio, concluído no ano passado,
graças à intervenção da Cáritas Rio.
Mariama disse que escolheu
cursar relações internacionais no campus Tijuca “porque tem muito a ver
comigo, com os sonhos, com o que eu quero fazer na minha vida”.
Desde
criança, Mariama fez trabalhos voluntários junto a entidades como a
Cruz Vermelha, mas nunca imaginou que um dia seria refugiada e que
precisaria que outras pessoas fizessem algo por ela.
Atualmente
com 29 anos, ela acredita que a bolsa concedida pela universidade vai
proporcionar lutar para levar educação às mulheres e jovens.
“A
gente pode passar muitas coisas na vida, mas pode vencer com educação.
Eu me sinto bem fazendo isso, falando para as meninas que nosso lugar
não é na cozinha ou só cuidando dos filhos. Eu não sou contra isso, mas
acho que você não precisa deixar de ser o que quer ser para se dedicar
só ao casamento”, salientou.
Na última quinta-feira (8), ela teve
sua primeira aula na universidade e está confiante que vai ser a
primeira mulher universitária de seu país. Mariama mora em Cabuçu,
bairro do município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.
Os
quatro demais primeiros bolsistas do convênio com a UVA são Kabagambe
Magbo Sammy, da República Democrática do Congo, que vai estudar Ciências
da Computação no campu’ Tijuca; Oscar Orlando Santander Rodriguez, da
Venezuela, advogado e ex-funcionário de uma empresa estatal venezuelana,
vai fazer Relações Internacionais no campus Barra; Isamar Andreína
Suárez Suárez, da Venezuela, ex-atleta de alto rendimento de Rugby, vai
cursar Fisioterapia, no campus Tijuca; e Ana Maria Guerra Herrera,
também da Venezuela, escolheu a graduação em Fisioterapia.
Agência Brasil
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