Aves de rapina estão ateando fogo em florestas da Austrália, de propósito
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Ave de rapina popularmente conhecida na região norte da Austrália como falcão de fogo |
Incêndios
florestais são um problema recorrente na Austrália e este ano não tem
sido diferente, com uma intensa onda de calor trazendo temperaturas
recordes. Não fosse isso alarmante o suficiente, além das causas comuns
enfrentadas pelas autoridades – ações humanas e raios tropicais – uma
terceira pode estar em ação: pássaros que manuseiam fogo ao
transportarem galhos em chamas para novos locais ainda não incendiados.
De acordo com uma pesquisa publicada pela Journal of Ethnobiology
existem três principais espécies de aves de rapina envolvidas: o
milhafre-preto (Milvus migrans), o milhafre-assobiador (Haliastur
sphenurus), e o falcão-marrom (Falco berigora). Essas aves são
popularmente conhecidas na região do norte da Austrália como falcões de
fogo. Agindo tanto individualmente quanto em grupos cooperativos, as
aves espalham incêndios através do transporte de galhos flamejantes com
suas garras ou bicos. O motivo por trás dessas ações é o mesmo pelo qual
essas aves predatórias se aglomeram aos arredores de grandes incêndios
florestais: a caça de presas vulneráveis fugindo do incêndio.
Ciência versus história oral
Ainda
há muito ceticismo sobre a veracidade das ações intencionalmente
incendiárias dessas espécies, trazendo dificuldades no planejamento
efetivo da gestão e restauração da paisagem queimada. A importância
dessa pesquisa está no fato de que, embora existam incontáveis relatos
de grupos aborígenes da região, não há nenhum registro fotográfico ou
filmado deste comportamento. Por mais surpreendente ou inusitado que
seja a existência de pássaros incendiários, os pesquisadores realçam de
que existem relatos milenares sobre este fenômeno destrutivo. “Nós não
estamos descobrindo nada”, alerta o coautor Mark Bonta para a National Geographic. “A maioria dos dados que usamos é em colaboração com os povos aborígenes… Eles já sabem disso há mais de 40.000 anos.”.
Caso
os pesquisadores efetivamente comprovem tal comportamento, essas
espécies de aves se tornariam as únicas outras criaturas no planeta a
deliberadamente iniciar incêndios. Outra consequência importante seria a
hipótese de que alguns agrupamentos humanos teriam aprendido a
manipular o fogo através da observação dessas espécies. Ainda de acordo
com Mark Bonta em sua pesquisa, mitos aborígenes locais relatam que o
aprendizado do fogo veio justamente da observação dos milhafres, que
habitam o planeta há milhões de anos em contraste com a descoberta do
fogo pela humanidade 400 mil anos atrás.
[Nerdist, Sciencealert, Crikey, National Geographic] - Por Jéssica Maes
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