‘Deputado da mala’ nega à Polícia Federal ter relação de amizade com Temer

Peça central no escândalo que atingiu o governo Michel Temer no ano
passado, o ex-assessor presidencial e ex-deputado Rodrigo Rocha Loures
(MDB-PR) disse em depoimento à Polícia Federal que não tinha relação de
amizade com o presidente, mas uma relação “profissional, respeitosa,
administrativa e funcional, visto que o presidente era seu chefe”.
Rocha Loures depôs nos dias 24 e 27 de novembro no inquérito que
investiga a edição de um decreto, em maio de 2017, que mudou as normas
para o setor portuário e teria beneficiado a empresa Rodrimar, que atua
no porto de Santos (SP). O inquérito tramita no STF (Supremo Tribunal
Federal) sob relatoria do ministro Luís Roberto Barroso e é o único
ainda aberto que tem Temer como alvo.
O ex-deputado foi filmado em maio do ano passado recebendo uma mala
com R$ 500 mil de um executivo da J&F, que controla a JBS. A
Procuradoria-Geral da República acusou Temer de ser o destinatário final
do dinheiro -a denúncia, sob acusação de corrupção passiva, teve seu
prosseguimento suspenso pela Câmara. Sobre a mala, Rocha Loures ainda
não deu declarações.
Para o ex-procurador-geral Rodrigo Janot, Rocha Loures era “homem de
total confiança, verdadeiro “longa manus” de Temer -o que o ex-assessor
presidencial negou no inquérito que investiga o decreto dos portos.
“[Rocha Loures disse] Que encontrou-se pela primeira vez com o
presidente Michel Temer quando o declarante ocupou o cargo de chefe de
gabinete de [Roberto] Requião, em 2003 e 2004 [no Paraná]; […] que
possuía uma relação de trabalho amistosa, não podendo afirmar que fosse
uma relação de amizade”, segundo o registro do depoimento tomado pelo
delegado da PF Cleyber Malta Lopes.
“[Rocha Loures relatou] Que também não possuía por hábito efetuar
ligações diretamente ao presidente Michel Temer […] também,
habitualmente, não trocava mensagens via celular com o presidente, à
exceção de eventual necessidade do gabinete, quando o assunto requeria
urgência.”
SETOR PORTUÁRIO
Rocha Loures afirmou à PF que não mantém relações nem recebeu doações
do setor portuário para suas campanhas à Câmara (em 2006 e 2014), mas
que conhece representantes dessa área, como os executivos da Rodrimar,
desde 2013, quando houve a tramitação da Lei dos Portos no governo Dilma
Rousseff. Naquele período, ele era assessor de Temer na
Vice-Presidência.
Sobre o decreto dos portos, editado por Temer em maio de 2017, Rocha
Loures disse que só soube da matéria no início do ano passado, quando
era assessor especial da Presidência e tomou conhecimento da minuta do
texto, enviado à Casa Civil pelo Ministério dos Transportes.
Ele negou que tenha atuado para favorecer interesses da Rodrimar na
elaboração do decreto e disse “que não tem conhecimento se o presidente
da República possui qualquer relação com o setor portuário, em especial
com qualquer empresa do grupo Rodrimar e outras concessionárias baseadas
no Porto de Santos”.
Em interceptação telefônica feita pela PF com autorização do Supremo,
Rocha Loures foi grampeado em 8 de maio de 2017 conversando com o
subchefe para Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha,
sobre o decreto dos portos. No diálogo, ele insistia para que o Planalto
incluísse no decreto uma regra que beneficiasse empresas portuárias que
conseguiram concessões antes de 1993.
“Por orientação até do ministro [da Casa Civil Eliseu] Padilha e por
conta da exposição que isso pode trazer para o presidente… Essa pauta
pré-93 foi fechada aqui que não vai passar, tá?”, respondeu Gustavo
Rocha, principal assessor jurídico do Planalto.
“Minha preocupação é expor o presidente em um ato que é muito
sensível… Eu acho que já vai causar uma exposição pra ele. Esse negócio
vai ser questionado”, continuou.
A
PF também apreendeu, em 18 de maio de 2017, na Operação Patmos,
deflagrada após a delação da JBS, uma série de papéis sobre o setor
portuário, inclusive sobre a Rodrimar, em endereços ligados a Rocha
Loures.
Fonte: MSN - Créditos: FolhaPress - Publicado por: Leandro Borba
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