Investimento de alto risco, bitcoin faz milionários, mas exige muita cautela
É justamente as alterações bruscas e incertezas do mercado de moedas virtuais que levou o Banco Central do Brasil a emitir comunicado alertando sobre os riscos dos negócios
![]() |
Arriscado para investidor principiante, bitcoin se valorizou 1.600% - (Foto: Reprodução) |
Depois de passar meses analisando o desempenho das
moedas virtuais, o programador de computadores João (nome fictício), de
33 anos, decidiu investir R$ 8.000 em bitcoins. Era metade do que ele
tinha na caderneta de poupança.
A compra foi em 4 de janeiro deste ano. No dia seguinte, a surpresa desagradável: a moeda virtual desvalorizou 25%.
"Fiquei triste, mas comprei mais R$ 8.000 no dia 13 de janeiro para
fazer um preço médio melhor. Comecei a estudar formas de aumentar meus
bitcoins e descobri todo um universo de criptomoedas", disse o
programador.
Entre fevereiro e abril, João resolveu trocar os bitcoins por uma
outra moeda denominada de decred. Foi a hora da virada, afinal, a
valorização foi de 1.000%.
"Em março, eu já tinha investido R$ 40 mil. No mês de junho, recebi
R$ 40 mil de pagamento por um projeto e também comprei moedas virtuais.
Entre janeiro e junho, investi R$ 80 mil ao todo", disse.
No último final de semana de novembro, ele bateu o patamar de R$ 1
milhão. "Saquei R$ 168 mil e dei entrada em um apartamento. É pequeno,
num prédio antigo, sem elevador, mas consegui com o lucro do bitcoin",
comemora.
O desempenho do João nas moedas virtuais se deve a muito sangue-frio e
uma dedicação quase integral no estudo da volatilidade (altas e baixas
constantes no valor) e dos algoritmos.
"Passei uns seis meses entendendo e 'traduzindo' o sistema. Em média,
acerto em 70% das operações, ou seja, perco dinheiro em 30% delas, mas
no fim de dois ou três meses, tenho mais moedas virtuais do que tinha
antes", disse. A compra e venda de bitcoins ou criptomoedas pode ser
comparado à especulação com moedas estrangeiras.
Compensa comprar?
Porém, o sucesso de João e de outros investidores, que se deram bem
com a gigantesca valorização da moeda nos últimos dias, pode ser exceção
e, mais que isso, passageiro.
O economista Richard Rytenband, colunista do R7 e um dos autores do
blog Economia em 5 minutos, sugere cautela para quem pensa em investir
nas criptomoedas. "A euforia é crescente e em algum momento pode ocorrer
uma forte queda nos preços", avisa.
O especialista em moedas digitais Fernando Ulrich vai além e é
incisivo. Em seu Facebook, na quarta-feira (6), Ulrich escreveu: "Boa
parte dessa subida ocorreu nos últimos dois meses. É muito muito
expressivo. Surreal. [...] Não, não compre bitcoin. O risco, neste
momento, é enorme. E para a vasta maioria das pessoas, significa um
risco bem além do tolerável", assegura.
Em 1º de janeiro de 2017, a moeda era cotada em US$ 997,69 (R$
3.278,91 nos dias atuais). Ontem, 7 de dezembro, estava em US$ 17.064
(R$ 56.080,84 na cotação do dólar da véspera). Significa dizer que o
investimento saltou 1.611%.
É justamente as alterações bruscas e incertezas do mercado de moedas
virtuais, já são mais de 2.000 tipos, que levou o Banco Central do
Brasil a emitir o comunicado número 31.329, em 16 de novembro, alertando
sobre os riscos dos negócios. "A compra e a guarda das denominadas
moedas virtuais com finalidade especulativa estão sujeitas a riscos
imponderáveis, incluindo, nesse caso, a possibilidade de perda de todo o
capital investido [...] e sofrer perdas patrimoniais".
O Banco Central também destacou que "[as moedas virtuais] não são
emitidas nem garantidas por qualquer autoridade monetária, por isso não
têm garantia de conversão para moedas soberanas, e tampouco são
lastreadas em ativo real de qualquer espécie, ficando todo o risco com
os detentores. Seu valor decorre exclusivamente da confiança conferida
pelos indivíduos ao seu emissor".
Segurança na poupança
O programador João também desenvolveu um padrão para resguardar parte
do lucro. "De tempos em tempos, eu vendo 20% do que estou lucrando e
coloco na poupança. O que define esses momento de retirada é quando o
gráfico de preços da moeda virtual está no topo e deve passar por um
período de queda", disse João.
Mas os riscos das moedas virtuais não estão apenas na desvalorização.
Como todo mercado que tem uma expansão rápida, as moedas virtuais também
são um terreno fértil para o surgimento de golpistas.
Funciona assim: uma pessoa ou empresa de internet cria uma moeda
virtual prometendo inovações tecnológias, monta um grupo de apoiadores e
lança a moeda no mercado para captar recursos. Depois de um tempo,
quando a moeda atinge um certo valor, eles vendem tudo e somem.
"É comum acontecer. Tanto que existem sites que fazem um ranking de
projetos que têm o risco de serem 'scam', como são chamodos esses
golpes", disse João.
Mineradores
Um dos motivos do sucesso do bitcoin é a constante entrada de novos
investidores. "O interesse crescente pelas moedas virtuais são a
essência do lucro. A demanda faz o preço subir", explica Jocimar Leal,
51 anos, dono de uma hamburgueria em Osasco, na região metropolitana de
São Paulo, e palestrante da AirBit, uma plataforma de investimento em
moedas virtuais.
Leal conta que conheceu as moedas virtuais por meio de um amigo que
trabalhava na área de TI (Tecnologia da Informação) há um ano e meio.
Mesmo assim esperou oito meses para tomar coragem e começar a investir.
"O bitcoin tem 8 anos de existência e a empresa que represento já tem
2 anos e meio. É algo novo e empolgante. Comecei há seis meses com US$
1.000. O risco existe, assim como existe em todo investimento, pode
picos e quedas, mas sempre tem uma recuperação", disse.
Leal garante que o bitcoin não tem característica de bolha
especulativa, com chance de estourar a qualquer momento e deixar todo
mundo no prejuízo.
"Ela foi a primeira e já é aceita por várias empresas e também no
Japão. Além disso, ela já foi criada com um limite de 21 milhões de
unidades, hoje o mercado movimenta cerca de 17 milhões de unidades, não é
uma aventura, é uma moeda e tem uma demanda para ela", afirmou.
Para manter a chama do bitcoin acesa, Leal não poupa esforços. Ele
deixou a gestão da hamburgueria com a mulher e passa o dia todo captando
novos investidores. "Eu explico para as pessoas como é que funciona o
bitcoin e como é possível ganhar dinheiro. Eu mesmo já lucrei bem acima
de todas as minhas expectativas. O que ganho continuo investindo", disse
sem precisar qual o valor ou quando pretende parar.
Como funciona
Para começar a investir em bitcoin, o interessado precisa procurar uma casa de câmbio de moeda virtual e fazer um cadastro. Geralmente, o CPF é usado para compras e vendas. O investidor recebe uma senha segura e um link onde fica guardado o seu saldo bitcoin.
As transações seguintes não dependem de casas de câmbios e podem ser feitas diretamente no mercado, por meio de aplicativos, inclusive entre países diferentes. "É um jeito de transferir dinheiro para o exterior rapidamente", disse Leal.
Como funciona
Para começar a investir em bitcoin, o interessado precisa procurar uma casa de câmbio de moeda virtual e fazer um cadastro. Geralmente, o CPF é usado para compras e vendas. O investidor recebe uma senha segura e um link onde fica guardado o seu saldo bitcoin.
As transações seguintes não dependem de casas de câmbios e podem ser feitas diretamente no mercado, por meio de aplicativos, inclusive entre países diferentes. "É um jeito de transferir dinheiro para o exterior rapidamente", disse Leal.
O segredo do bitcoin está na certificação e validação das transações.
Todas as negociações na criptomoeda são cadastradas numa espécie de
livro-caixa, chamado blockchain. As informações são blocadas por ordem
cronológicas e invioláveis.
"Para evitar erros e fraudes, as transações são checadas e
criptografadas por pessoas e empresas que estão no mercado. Elas recebem
uma pequena comissão, em bitcoin, por essa checagem que funciona 24
horas por dia. Na China, onde a energia elétrica é barata e a internet é
de ponta, existem pessoas e empresas que vivem dessas comissões. São as
chamadas fazendas de mineradores de bitcoin", assegura o investidor.
Paga imposto?
O colunista do R7 e autor do blog Economia em 5 minutos Richard
Rytenband explica que o dono de bitcoins precisa declarar o patrimônio
nas criptomoedas no Imposto de Renda. Basta ir até a seção "Outros Bens"
e usar o valor pelo qual as moedas foram adquiridas, sempre com o
amparo de documentação hábil e idônea.
Rytenband adverte que, nos meses em que a soma das vendas de bitcoins
superar R$ 35 mil, é preciso apurar ganhos de capital e, conforme o
caso, pagar imposto de 15% sobre o montante total.
ClickPB com R7
Nenhum comentário:
Postar um comentário