quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Jueirana-facão

Nova espécie é possivelmente o mais pesado organismo vivo descoberto em 2017



Uma nova espécie de árvore, nativa de uma pequena área de Mata Atlântica do Espírito Santo, pode ser o organismo vivo mais pesado descoberto em 2017. Conhecida localmente como jueirana-facão, ela pode chegar a 40 metros de altura e pesar até 62 toneladas.
A descoberta é da equipe liderada pelo britânico Gwilym Lewis, do centro para ciência Kew, do Royal Botanic Gardens, em parceria com sua colega Hannah Banks, o brasileiro Geovane Siqueira, da Reserva Natural Vale, e a canadense Anne Bruneau, da Universidade de Montreal.
A espécie recebeu o nome científico de Dinizia jueirana-facao G.P. Lewis & G.S. Siqueira e faz parte da família das leguminosas. Criticamente em Perigo de extinção, só foram encontrados 25 exemplares dela no mundo – o que explica como um organismo tão grande permaneceu desconhecido na literatura científica até hoje.
Todos os anos, são descritas 2 mil novas espécies de plantas e 10% destes estudos vêm do Kew. Porém, a maior parte dessas publicações são referentes a diferenças em níveis moleculares ou de reclassificação de espécies, que podem ter sido classificadas com o gênero errado, e não espécies ainda não nomeadas. “Se espécies gigantescas como essa estão sendo descritas como novas para a ciência no século 21, imagine quantos organismos menores ainda estão aguardando serem descobertos?”, escreve Lewis no blog do Kew.
Colaboração internacional
A Dinizia jueirana-facao foi coletada pela primeira vez em flor, há pouco mais de uma década, por Renato Jesus, então gerente de biodiversidade da Reserva Natural Vale. “Eu venho trabalhando com leguminosas por muitos anos, então Renato enviou um espécime para Kew para que eu analisasse, com a sugestão original de que a árvore talvez pertencesse ao gênero de legumes Parkia”. Aquela tinha sido a primeira vez, nos 27 anos de Jesus na reserva, que a árvore tinha florescido, então não era possível saber se o exemplar tinha chegado à maturidade ou tinha tempos de floração e frutificação não regulares ou anuais.
Logo ficou evidente que as flores analisadas em Kew não faziam parte do gênero Parkia e foi iniciado o processo de reunir mais dados. “No ano seguinte, as frutas foram enviadas do Brasil para Kew. Elas são grandes gotas lenhosas, com quase meio metro de comprimento, e se parecem muito com a bainha de couro de uma machete”. É nas frutas que o nome popular foi inspirado.
O DNA da planta foi, então, analisado por Anne Bruneau, em Montreal, que concluiu que a nova árvore tinha uma proximidade muito grande com a Dinizia excelsa Ducke (angelim-vermelho), largamente encontrada na Amazônia e que pode chegar a até 60 metros de altura. Especialista em pólen, Banks descobriu que os grãos produzidos pela nova espécie eram diferentes da sua irmã amazônica. Geovane Siqueira enviou, então, ainda mais materiais de pesquisa, como imagens e observações, tornando possível afirmar que eles haviam, de fato, descoberto uma nova espécie.
“Fornecer um nome científico a essa espécie magnífica irá garantir que possa ser registrada apropriadamente e ajudar a destacar o seu estado ameaçado”, afirma Lewis. Ele tem esperanças que a divulgação do estudo ajude a preservar a planta e o seu habitat.
O estudo foi descrito apenas na revista Kew Bulletin, publicada pelo próprio Royal Botanic Gardens.
[Kew Science, Phys.org] - Por Jéssica Maes

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