70% de casos de autoridades no Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça são corrupção
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
O
Ministério Público Federal (MPF) informou que cerca de 70% dos casos
envolvendo autoridades, em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF) e
no Superior Tribunal de Justiça (STJ), tratam de crimes relacionados à
corrupção. O MPF e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
promoveram hoje (4) um evento referente ao Dia Internacional de Combate à
Corrupção, celebrado no dia 9 de dezembro.
Segundo o MPF,
tramitam no Supremo 95 ações penais e 439 inquéritos relacionados a
autoridades com prerrogativa de foro por função, como presidente da
República, vice, deputados federais, senadores e ministros de Estado. No
STJ, que julga casos de crimes comuns envolvendo governadores,
desembargadores, membros do Ministério Público e conselheiros dos
Tribunais de Contas, são 72 ações penais, 101 inquéritos e 54
sindicâncias.
Em 2017, foram pelo menos 40 operações de combate à
corrupção executadas em todo o país pelo Ministério Público, em parceria
com outros órgãos.
Para a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, nos últimos anos o MPF tem enfrentado a corrupção com muita
persistência. “O Mensalão e a Lava Jato são marcos exitosos desta
empreitada. Há um longo caminho pela frente […]. Antes, o risco de ser
corrupto era quase zero, temos de aumentar esse risco com punições para
desestimular os infratores”, disse.
Acordos
O
MPF já firmou 18 acordos de leniência com empresas investigadas em
casos de corrupção, em 2017, envolvendo valores que chegam a R$ 24
bilhões. O instrumento de acordo de leniência foi criado em 2013 e trata
da responsabilização administrativa e civil de empresas pela prática de
atos contra a administração pública. O objetivo do acordo é identificar
outros envolvidos na infração e devolver os valores desviados aos
cofres públicos.
Para o MPF, o acordo de leniência, junto com o
acordo de delação premiada, também de 2013, tem sido fundamental na
repressão estatal de ilícitos, ao quebrar o pacto de silêncio entre os
envolvidos. A delação premiada estabelece redução da pena para a pessoa
que colaborar de forma voluntária com a investigação. Apenas nos
processos relativos à Operação Lava Jato em tramitação no Supremo
Tribunal Federal (STF), cerca de 200 pessoas tiveram acordos
homologados, além de outros 93 firmados em primeira instância.
“A
corrupção precisa cessar. Temos instrumentos novos que continuaremos
usando: a colaboração premiada, os acordos de leniência, as
forças-tarefas, a execução da pena após a condenação em segunda
instância, a lei da ficha limpa”, disse Raquel.
“Se a corrupção
continuar em níveis tão elavados e perdermos os instrumentos jurídicos
que realmente nos permitem enfrentá-la, o Brasil sofrerá um duro golpe
de perder o futuro promissor e ter de viver em um presente marcado pela
desonestidade e pela desconfiança”, disse.
Eleição 2018
Os
procuradores presentes no evento na sede da Procuradoria-Geral da
República também criaram um comitê permanente e firmaram um termo de
cooperação com o objetivo de prevenir e reprimir a corrupção eleitoral
em 2018. Os membros dos ministérios públicos Eleitoral e de Contas se
comprometeram a aprimorar a fiscalização de ilícitos eleitorais e atuar
de forma estratégica para impedir a prática de crimes durante as
eleições.
“Estamos ampliando e capilarizando, por meio dos pactos e
termos de ação conjunta, as nossas ações contra a corrupção. Ao
atuarmos juntos, esperamos fortalecer os efeitos do nosso trabalho para
alcançar mais rapidamente um bom resultado”, disse Raquel.
O
Comitê Permanente do MP Brasileiro para as Eleições de 2018, já faz
parte dos pactos assinados hoje entre os procuradores que reafirmam o
compromisso do Ministério Público no combate à corrupção. Os pactos
envolvem o Comitê Permanente, o Ministério Público, o Conselho Nacional
de Procuradores-Gerais dos Ministérios Públicos dos Estados e da União
(CNPG), a Associação Nacional do Ministério Público de Contas e o
Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Contas.
#TodosJuntosContraCorrupção
Foram
apresentados também os primeiros resultados da campanha
#TodosJuntosContraCorrupção. Lançada em setembro deste ano pelo Comitê
Permanente do Ministério Público, a iniciativa tem por objetivo fomentar
as discussões sobre o combate à corrupção nos mais diversos ambientes,
fazendo com que a sociedade reflita sobre o impacto desses atos no
cotidiano.
Planejada dentro do Programa Nacional de Prevenção
Primária à Corrupção, da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à
Lavagem de Dinheiro (Enccla), a campanha selecionou, por meio de
chamamento público, as melhores iniciativas de prevenção primária e de
combate à corrupção desenvolvidas pela sociedade civil. Ao todo, foram
recebidas 90 propostas. Hoje, 22 delas foram reconhecidas, com a entrega
de certificação.
Para o presidente do Observatório Social do
Brasil, Ney Ribas, é preciso despertar a consciência do cidadão de que a
prevenção à corrupção diz respeito a todos. “A corrupção inicia dentro
da nossa casa, nas atitudes, nos nossos pequenos delitos e não podemos
esquecer que cada exemplo que damos será referência para nossos filhos e
nossos netos”, disse, representando a sociedade civil no evento. “Ou
trilhamos o caminho da grandeza ou havemos de colher os frutos da
mediocridade”.
Parte das propostas enviadas ficará disponível em
banco na internet, para permitir a replicação das iniciativas. Na
seleção, foram consideras as ações direcionadas para a formação de
cidadãos conscientes e ativos nas ações de controle social. Entre os
requisitos é que o projeto apontasse o número de pessoas impactadas com
cada ação, os efeitos esperados e a possibilidade de implementação em
outras localidades.
Para a advogada-geral da União, Grace
Mendonça, também presente no evento, é preciso concentrar esforços para
extrair a corrupção da vida de todos. E uma das formas para atingir esse
objetivo, de mudança de postura com a coisa pública, é a educação. “Não
vamos conseguir eliminar a corrupção das relações sem uma política
séria que passe também pela educação”, disse.
Laço da Consciência
Para
lembrar sobre a importância do enfrentamento à corrupção em todas as
esferas da sociedade, foi lançado durante o evento a campanha do laço
branco, o Laço da Consciência Contra a Corrupção, para marcar o Dezembro
contra a Corrupção.
Segundo o MPF, a ideia é que o adereço
ressalte a luta contra a corrupção e lembre as pessoas que a mudança na
cultura do país depende das atitudes de cada um e que idoneidade e
honestidade devem ser praticados a todo instante.
Agência Brasil
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