Semiárido da Paraíba e de mais oito estados terão R$ 100 milhões para construção de cisternas
Serão 6.800 cisternas de segunda água distribuídas entre agricultores de baixa renda de 1.135 municípios do semiárido brasileiro
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As cisternas de segunda água captam e armazenam água da chuva para ser usada na irrigação de plantações e na criação de animais - (Foto: Reprodução) |
A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) aprovou a instalação de 6.800 cisternas de
segunda água (modelo de 52 mil litros) a partir da destinação de R$ 100
milhões de seu Fundo Social. As cisternas serão instaladas na região do
semiárido dos nove estados nordestinos ao longo de 2018. Desde 2013, o
BNDES já apoiou, com recursos não reembolsáveis, 25 mil cisternas de
segunda água, utilizando R$ 271 milhões do Fundo Social.
As cisternas de segunda água captam e armazenam água da chuva para
ser usada na irrigação de plantações e na criação de animais. Seus
destinatários são famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou
pela falta regular de água no Semiárido Brasileiro – uma região que
abrange 9 estados (AL, BA, CE, MG, PB, PE, PI, RN e SE) e 1.135
municípios onde vivem cerca de 23,8 milhões de brasileiros, sendo 8,5
milhões na área rural.
De acordo com dados do IBGE, cerca de 66% das famílias rurais do
Nordeste não possuem acesso à rede geral de abastecimento de água. A
economia da população rural de menor renda é baseada na pecuária
extensiva e na agricultura familiar de baixo rendimento, que entra em
acentuado declive em períodos de seca, o que leva até mesmo à falência
de lavouras e morte de animais. No semiárido existem mais de 1.740 mil
estabelecimentos agropecuários, dos quais 89% estão destinados à
agricultura familiar.
Apesar de ser a região semiárida mais chuvosa do planeta, o semiárido
brasileiro possui um déficit hídrico em função das chuvas irregulares e
do índice de evaporação, que é três vezes maior do que o indicador
pluviométrico. O subsolo, formado por rochas de baixa permeabilidade,
aliado ao regime de chuvas irregular (rápidas e fortes), impede a
penetração de água e a formação de aquíferos subterrâneos. Outra
característica do semiárido brasileiro é a presença de sais nos solos,
precipitados pela evaporação intensa, que prejudicam a produtividade
agrícola.
As cisternas apoiadas pelo BNDES chegam às famílias graças à parceria
com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) – organização formada por
mais de três mil organizações da sociedade civil, como sindicatos
rurais, associações de agricultores e agricultoras, cooperativas e ONGs
etc. A ASA faz um levantamento permanente das áreas mais necessitadas e
das famílias aptas a receberem as cisternas no Semiárido. A definição
dos territórios é validada pelo Ministério do Desenvolvimento Social
(MDS).
Além das práticas já adotadas nas operações anteriores, em 2018 a
operação adotará uma nova metodologia construída em conjunto por MDS,
ASA e BNDES em forma de piloto, com o objetivo de potencializar os
impactos do apoio do BNDES Fundo Social. Junto com a implantação da
cisterna, serão oferecidos serviços de Assistência Técnica e Extensão
Rural (ATER) para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, de
modo que recebam acompanhamento técnico em práticas de manejo produtivo.
Isso permitirá que os beneficiários sejam elegíveis ao Programa de
Fomento às Atividades Produtivas Rurais (Programa Fomento). Trata-se de
um programa de transferência de renda do governo federal, cujo apoio
consiste no repasse, pelo MDS, de recursos financeiros não reembolsáveis
destinados à implantação de projeto produtivo.
A estimativa é de que os serviços de ATER sejam oferecidos a um terço
das famílias apoiadas no Projeto, mantendo-se a metodologia histórica
para as demais. Para tanto, foi celebrado o Acordo de Cooperação Técnica
entre a União, representada pelo MDS, e o BNDES.
Os benefícios da cisterna de segunda água
Há vários benefícios para a qualidade de vida das famílias que
receberam cisternas de segunda água. De acordo com muitos dos
entrevistados em pesquisa de avaliação, a produção e o consumo com
utilização da água das cisternas proporcionou melhoria na alimentação,
tanto com relação à quantidade quanto à variedade e qualidade (devido à
produção de base orgânica).
Além disso, com as cisternas a busca de água fora da propriedade foi
bastante reduzida, liberando tempo para atividades mais produtivas e
dando às famílias a possibilidade de criar animais e produzir alimentos,
gerando renda com a venda de excedentes. Melhorou também a segurança
das famílias, evitando a necessidade de longas caminhadas – muitas vezes
feitas por mulheres e crianças desacompanhadas – em busca de água.
De acordo com a AP1MC (braço operacional da ASA), 70,3% dos
beneficiários das cisternas de segunda água são mulheres; 86,4% recebem o
Bolsa Família; 80,7% estão localizados em comunidades rurais; 20,3%
possuem ensino fundamental até a 4ª série e 14,7% ainda são analfabetos;
e a atividade principal da maioria é a produção de
hortifrutigranjeiros.
O uso da água das cisternas de segunda água pelas famílias, de acordo
com avaliação qualitativa realizada pela Fundação Banco do Brasil
(FBB), é prioritariamente para irrigar canteiros econômicos (84%);
plantações (65%); criação de animais (55%); tomar banho (42%); lavar
roupas (32%); cozinhar (23%); e beber água (10%).
Avaliação de resultados
Pela primeira vez, o projeto de cisternas do BNDES será objeto de estudo de avaliação de impacto, que será realizado por pesquisadores da Pontifícia Unidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Universidade da Califórnia em Berkeley (UC Berkeley), por meio de convênio do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) com o Banco Mundial.
Pela primeira vez, o projeto de cisternas do BNDES será objeto de estudo de avaliação de impacto, que será realizado por pesquisadores da Pontifícia Unidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e da Universidade da Califórnia em Berkeley (UC Berkeley), por meio de convênio do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) com o Banco Mundial.
O MDS irá contratar empresa especializada em coleta primária de
dados. Serão, no mínimo, duas coletas de dados: a primeira formará a
linha de base, com informações sobre as famílias antes de receberem os
benefícios do programa; e a segunda coleta será feita entre 18 e 24
meses após a conclusão da construção das cisternas. Em cada coleta
deverão ser entrevistadas cerca de 3.500 famílias, divididas entre
beneficiários (60%) e não beneficiários (40%).
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