DOM JOSÉ: Memória do arcebispo é lembrada como a única de reunir ‘de judeu a ateu’
Publicado por: Amara Alcântara
Dizem que elogiar os mortos é uma forma
de orar por eles. Além das orações clássicas, que fiéis católicos estão
destinando ao falecido Dom José Maria Pires, os elogios ao trabalho sem
igual devem contar sim à alma do religioso. Na contabilidade celeste, o
fervor dos defensores vão além de católicos. Durante painel no Master
News nessa segunda (28) a figura agregadora de Dom José foi lembrada
como capaz de reunir “de judeu a ateu”.
O arcebispo emérito da Paraíba, dom José
Maria Pires, morreu neste domingo (27), aos 98 anos, em decorrência de
complicações causadas por uma pneumonia em um hospital de Belo
Horizonte, em Minas Gerais. Conhecido como “dom Pelé”, Pires será
velado nesta segunda-feira (28) na Paróquia Nossa Senhora das Dores, no
bairro Floresta, na capital mineira, segundo informou a a Arquidiocese
de Belo Horizonte.
Waldemar Solha,
cineasta, revela que tentou fazer um documentário sobre o arcebispo, mas
o projeto se desdobrou uma cantata. O fato se deu no meio do período da
Ditadura Militar e por não ser o material com grandes chances de passar
pela censura, acabou sendo executado no Santuário de São Francisco e
passou como “liturgia” . Waldermar ainda disse que, para ele, “Dom José
era um menino puro. Mesmo sendo ateu como sou, se existisse santo ele
era um. Um figura que todo mundo adorava”.
Walter Santos,
jornalista, diz que além dos contrários em relação ao modo político
voltado para os mais humildes, que se chocava com um período de
repressão, o padre ainda enfrentava um certo preconceito social. Mas
tudo com muito bom humor: “Além de tudo “era negro. Teve uma vez que ele
disse que uma mulher bateu à porta e quando ele atendeu, ela viu apenas
um homem negro e perguntou onde estava o bispo”. A repressão começava a
se impor, mas Walter frisa que Dom José sempre teve coragem de manter a
sua linha de compromisso com o Teologia da Libertação: “Na época era um
movimento conhecidos como Pastoral Rural, hoje conhecida como Pastoral
da Terras, que era um cenário de conflito. Mas Dom José sempre manteve
sua solidariedade com os mais fracos”.
Simão Almeida diz que
Dom José sempre manteve um contato diplomático com o que ele chamava de
“burguesia” e se mantinha favorável ao povo, mas ele se manteve contra o
regime militar: “Ele até se negou a celebrar missa do dia 31 de março”.
A data se referia a comemoração do golpe militar no Brasil, em 31 de
março de 1964. Simão lembra de um fato em que jovens foram presos em
Campina Grande e estavam incomunicáveis em João Pessoa. Dom José
conseguiu furar o isolamento em que os jovens estavam e falou com eles,
podendo verificar em que situação estavam.
Gilvan Freire disse que
a trajetória de Dom José é grandiosa. Além de líder religioso, Gilvan
classificou Dom José como um líder de grande importância política, como
foram os grandes líderes das Ligas Camponesas. “Na mesma linha dele, só
há comparação com Dom Hélder Câmara”, diz Gilvan. “Ele veio depois das
Ligas Camponesas, mas também foi o precursor de todas os grandes
movimentos sociais, de sindicatos. Ele fez a preferência pelos pobres,
quando ainda não havia essa predileção, de uma igreja que se volta para
os pobres”.
Fonte: Polêmica Paraíba
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