Lançamentos sobre o cantor Belchior trazem raridades do acervo do trovador
Publicado por: Ivyna Souto
Mais
 do que entrar na esteira do revisionismo histórico impulsionado pelo 
potencial mitológico da morte de um fugitivo de si mesmo que narrou toda
 sua tragédia antes mesmo que ela começasse, a obra de Antônio Carlos 
Belchior vive dias de descoberta. O anúncio dos discos preparados para 
serem lançados em breve dá sinais do quanto ainda há de sombras na 
história do homem que nunca gostou da luz.
Mesmo o que poderia ser uma coletânea sem novidades se transforma, 
nas mãos do produtor e jornalista Renato Vieira, em um equilíbrio entre o
 imaginário popular e o inesperado. Antes da morte do cantor, ele já 
havia proposto o projeto à gravadora Warner, companhia que lançou cinco 
álbuns da grande fase do artista. “Eu queria homenageá-lo em vida, 
adoraria ter contado com as ideias dele”, diz Vieira, que assinou também
 a produção de uma caixa em setembro de 2016, com três discos lançados 
pelo cearense por outra empresa, a Universal: “Alucinação”, de 1976, sua
 criação maior; “Melodrama”, de 1987; e “Elogio da Loucura”, de 1988.
Se fosse um LP, “Belchior 70 Anos – Pequeno Mapa do Tempo” teria o 
lado A reservado aos maiores hits, palavra estranha no vocabulário do 
artista, e o B aos garimpos. A sequência começa com Coração Selvagem, 
Divina Comédia Humana, Todo Sujo de Batom, Na Hora do Almoço, Pequeno 
Mapa do Tempo, Medo de Avião, Comentário a Respeito de John e Paralelas.
Por dentro do disco
A partir da faixa 9, é bom legendar. Apenas Um Rapaz Latino-Americano e 
Como Nossos Pais são versões raras de uma coletânea de 1981 chamada 
Divina Comédia Humana. Meu Nome É Cem também saiu apenas em um álbum 
coletivo, sem jamais habitar oficialmente sua discografia, chamada Super
 New Disc. Sorry Baby e A Palo Seco saem de um compacto de 1973.
Sem
 uma ficha técnica do disco original, a única informação vem de uma 
matéria do jornal Folha de S.Paulo, levantada por Vieira, que diz que 
ambas as canções tiveram arranjos do maestro tropicalista Rogério 
Duprat. E a última, Trecho do Salmo 50 / Galos Noites e Quintais com 
Apresentação de Mazzola entrou depois de uma dica de um fã. A gravação 
saiu de um álbum promocional feito para lançar a gravadora Warner no 
Brasil, em 1976.
Esteticamente, a obra de Belchior parece se dar melhor, ao menos 
nesse momento da revisita histórica, quando o coloca como o trovador. 
Quanto mais acústico, melhor? “Temos que lembrar que o grande hit de 
Belchior é Medo de Avião, de 1979”, diz Vieira. “Acho que ele gostava de
 experimentar.” Curiosamente, o sobrevoo aponta dois fatores que podem 
ter impedido uma reinvenção de Belchior por meados dos anos 1980, quando
 todo mundo se reinventava para atingir as massas prometidas na era das 
FMs. Belchior não se tornou um cantor romântico, como Fagner, e jamais 
foi agraciado pela usina pop que abastecia as novelas da Globo, como 
aconteceu com Zé Ramalho e tantos nomes da década.
Outros projetos
O produtor Thiago Marques Luiz anuncia um outro projeto de homenagem ao 
cantor. Em julho, a cantora Amelinha, que formou com Belchior, Fagner e 
Ednardo uma frente conhecida como Pessoal do Ceará, entra em estúdio 
para começar a gravar o álbum De Primeira Grandeza. O repertório terá 12
 músicas do Belchior, entre elas sucessos como Paralelas, Medo de Avião,
 Mucuripe e Divina Comédia Humana e outras bem mais obscuras, como 
Passeio, Incêndio e Princesa do Meu Lugar. Outra cantora amiga de 
Belchior, Lúcia Menezes, tem músicas inéditas do cantor feitas na época 
em que o cearense estudava Medicina.
Ao
 mesmo tempo, a obra máxima de Belchior, Alucinação, de 1976, é 
recolocada nas prateleiras em formato LP pela empresa Polysom. O segundo
 disco de estúdio do artista é o que vai consagrá-lo como grande 
compositor, sobretudo pelas canções Apenas um Rapaz Latino-Americano, 
Como Nossos Pais e Velha Roupa Colorida, as duas últimas também gravadas
 por Elis Regina. Em um mês, o disco atingiu a marca das 30 mil cópias 
vendidas.
AGÊNCIA ESTADO
 
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