Jornalista Miriam Leitão é hostilizada por petistas durante voo em Brasília
Publicado por: Érika Soares
A jornalista Miriam Leitão afirmou,
nesta terça-feira (13/6), ter sido vítima de “ataques de violência
verbal” durante um voo que saía de Brasília, com destino ao Rio de
Janeiro, no último 3 de junho. No seu blog, a colunista contou que
“delegados do PT” proferiram, por duas horas, gritos, xingamentos e
palavras de ordem contra ela, chamando-a de, por exemplo, “terrorista”. O
episódio ocorreu em uma aeronave da Avianca, que disse, em nota,
“repudiar veementemente qualquer ação que viole os direitos dos
cidadãos”. O Partido dos Trabalhadores, por sua vez, lamentou o ocorrido
e informou que tem orientado a militância a “não realizar manifestações
políticas em locais impróprios”. (Leia no fim da reportagem as duas
notas de esclarecimento).
De acordo com a colunista, o Congresso
do PT em Brasília havia acabado naquela tarde e, por isso, muitos dos
passageiros ainda estavam vestidos com camisetas do encontro. Ela teria
ido à capital federal para gravar um programa da emissora de tevê
Globonews. Ainda segundo Miriam, os ataques não partiram de “jovens
militantes”, mas de “representantes partidários, que estariam em seus
cinquenta anos”. Ela alega ter sido ameaçada, ter tido seu nome
achincalhado e acusada de defender posições que não defende.
“Antes de chegar ao portão, fui comprar
água e ouvi gritos do outro lado. Olhei instintivamente e vi que um
grupo me dirigia ofensas. O barulho parou em seguida, e achei que
embarcariam em outro voo”, relatou. A jornalista lembra que foi uma das
primeiras pessoas a entrar no avião e logo se sentou na poltrona 15C.
Coincidentemente, de acordo com o relato, as pessoas que a atacaram se
sentaram em cadeiras próximas a ela: “Alguns mais silenciosos me
dirigiram olhares de ódio ou risos debochados, outros lançavam ofensas
como ‘terrorista, terrorista'”.
Miriam
escreveu que, neste momento, havia pensado na ironia que estava
vivendo, pois foi chamada de “terrorista” em um quartel do Exército, aos
19 anos, quando havia sido presa durante a ditadura. “Tantas décadas
depois, em plena democracia, a mesma palavra era lançada contra mim”,
lamentou.
Comício em voo
Outra queixa da jornalista é que a
tripulação não tentou intervir na situação, e o voo seguiu como uma
espécie de “comício”. O piloto, segundo ela, sequer usou o serviço de
som da aeronave para pedir por silêncio. A única atitude da equipe da
companhia aérea foi de tentar trocá-la de lugar, “a convite do
comandante”, ainda antes da decolagem.
No entanto, Miriam se recusou. “Diga ao
comandante que eu comprei a 15C e é aqui que eu vou ficar”, respondeu.
Minutos depois, a aeromoça voltou e disse que a Polícia Federal estaria
ordenando que ela fosse se sentar à frente — caso contrário, a aeronave
não partiria. E a colunista novamente negou o pedido: “Diga à PF que
enfrentei a ditadura. Não tenho medo. De nada”.
“Durante o voo foram muitas as ofensas,
e, nos momentos de maior tensão, alguns levantavam o celular esperando a
reação que eu não tive. Houve um gesto de tão baixo nível que prefiro
nem relatar aqui. Calculavam que eu perderia o autocontrole. Não filmei,
porque isso seria visto como provocação. Permaneci em silêncio. Alguns,
ao andarem no corredor, empurravam minha cadeira, entre outras
grosserias”, escreveu.
Miriam reforçou que “os delegados do PT
que a ofenderam” mostraram uma visão totalmente distorcida de seu
trabalho. Ela disse que não era uma inimiga do partido, tampouco torceu
pela crise. Apenas alertou que ela ocorreria pelos erros que estavam
sendo cometidos. “Quando os governos do PT acertaram, fiz avaliações
positivas, e há vários registros disso”, acrescentou.
Por
fim, a colunista ressaltou que “os protagonistas desse ataque de ódio
eram profissionais do partido”. Lula citou, de acordo com ela, mais de
uma vez, seu nome em comícios ou reuniões partidárias — assim como teria
feito nesse último fim de semana. “É um erro. Não devo ser alvo do
partido, nem do seu líder. Sou apenas uma jornalista e continuarei
fazendo meu trabalho”, finalizou.
Procurada pelo Correio, a Avianca informou que ainda não tem um
posicionamento sobre o caso. A reportagem tentou contato com a
assessoria do PT, mas não conseguiu contato.
Apoio
A Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (Abraji) divulgou uma nota na qual informou que repudia o
comportamento dos passageiros, que, “de maneira covarde e intolerante”,
atacaram Míriam Leitão. Para a institução, “não há nada que justifique
assédio violento a qualquer cidadão por suas posições ou seus atos”.
“Infelizmente, o acirramento de posições
políticas tem levado à proliferação de situações como essa, seja em
aviões, restaurantes e mesmo hospitais. O dissenso é saudável para uma
democracia, e o embate civilizado de ideias é o melhor caminho para a
construção de uma sociedade mais justa. A violência, a intolerância e a
incompreensão do papel da liberdade de expressão, ao contrário, podem
ferir de morte o regime democrático”, escreveu.
Nota da Avianca
A Avianca Brasil vem a público esclarecer que repudia veementemente
qualquer ação que viole os direitos dos cidadãos. A presença da Polícia
Federal foi solicitada na aeronave que fazia o voo 6327 (Brasília – Rio
de Janeiro/Santos-Dumont), no dia 3, após a tripulação detectar um
tumulto a bordo que poderia atentar à segurança operacional e à
integridade dos passageiros. O procedimento objetivo seguido pelo
comandante, no estrito cumprimento de suas funções, seguiu a praxe do
setor para esses casos.
Nota do PT
O Partido dos Trabalhadores lamenta o constrangimento sofrido pela
jornalista Miriam Leitão no voo entre Brasília e o Rio de Janeiro no
último dia 3 de junho, conforme relatado por ela em sua coluna de hoje.
Orientamos nossa militância a não realizar manifestações políticas em
locais impróprios e a não agredir qualquer pessoa por suas posições
políticas, ideológicas ou por qualquer outro motivo, como confundi-las
com empresas para as quais trabalhem.
Entendemos que esse comportamento não
agrega nada ao debate democrático. Destacamos ainda que muitos
integrantes do Partido dos Trabalhadores, inclusive esta senadora, já
foram vítimas de semelhante agressão dentro de aviões, aeroportos e em
outros locais públicos.
Não podemos, entretanto, deixar de
ressaltar que a Rede Globo, empresa para a qual trabalha a jornalista
Miriam Leitão, é, em grande medida, responsável pelo clima de
radicalização e até de ódio por que passa o Brasil, e em nada tem
contribuído para amenizar esse clima do qual é partícipe. O PT não fará
com a Globo o que a Globo faz com o PT.
Senadora Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores.
Fonte: Correio Braziliense
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