Delações do conglomerado Odebrecht revelam farra multipartidária com caixa 2
Entre os destinatários de caixa dois, segundo delatores da Odebrecht, estão Onyx Lorenzoni, Arthur Maia e Lídice da Mata

(Ueslei Marcelino/Reuters)
Em um movimento multipartidário, o Congresso
tenta, desesperadamente, encontrar um caminho que torne impunes os
deputados que receberam os chamados recursos “por fora” durante as
últimas campanhas eleitorais. As delações do conglomerado da Odebrecht
explicam o motivo de tanta agonia: enquanto ainda era permitida a doação
empresarial, deputados e senadores fizeram uma verdadeira farra com o
dinheiro recebido para turbinar suas campanhas e mascararam boa parte
dos valores à Justiça Eleitoral – o que configura o caixa dois.
São congressistas dos mais diversos partidos, do PT ao PSDB,
passando pelo DEM e pelo PSB, conforme foi detalhado por delatores da
empreiteira ao Ministério Público. Confira exemplos abaixo:
ÔNIX LORENZONI (DEM-RS) – Um dos porta-vozes do discurso em
defesa da ética no Congresso, o deputado Ônix Lorenzoni (DEM-RS)
recebeu, na campanha de 2006, 175.000 reais da Odebrecht. O valor não
foi declarado à Justiça Eleitoral. Alexandrino Alencar,
ex-vice-presidente da empreiteira, contou ter procurado pessoalmente o
parlamentar e dito a ele que a Odebrecht, “percebendo o seu desempenho, a
sua conduta”, gostaria de tê-lo como “parceiro futuro”.
MARTA SUPLICY (PMDB-SP) – Dois delatores da Odebrecht
narraram o repasse de recursos, via caixa dois, às campanhas de Marta
Suplicy (PMDB) à prefeitura de São Paulo, em 2008, e ao Senado, em 2010.
Os valores foram de, respectivamente, 550.000 reais e 500.000 reais. Em
ambos os casos, Márcio Toledo, marido da senadora e arrecadador de suas
campanhas, teria pedido a ajuda financeira à empreiteira. No
departamento da propina, Toledo era identificado como “Belo Horizonte”.
ARTHUR MAIA (PPS-BA) – Relator da proposta de reforma da
Previdência, o deputado Arthur Maia (PPS-BA), o “Tuca”, recebeu 200.000
reais via caixa dois na sua campanha de 2010, segundo a delação da
Odebrecht.
ALOIZIO MERCADANTE (PT-SP) – O ex-ministro Aloizio
Mercadante é acusado por dois delatores da Odebrecht de receber
“vantagens não contabilizadas” na campanha do governo de São Paulo, em
2010. Os repasses foram feitos a pedido do atual prefeito de Araraquara,
Edinho Silva, que foi ministro da Comunicação no governo Dilma
Rousseff. O relator do petrolão, ministro Edson Fachin, a pedido da
Procuradoria Geral da República, derrubou o sigilo dos autos e remeteu a
petição para a Procuradoria Regional da República em São Paulo. Em
2010, Mercadante declarou ao Tribunal Superior Eleitoral ter recebido
doações no valor de 20,2 milhões de reais. O nome da Odebrecht não
aparece entre os doadores declarados do candidato.
LÍDICE DA MATA (PSB-BA) – Identificada como “Feia” nas
planilhas da Odebrecht, a senadora) recebeu da empreiteira 200.000 reais
via caixa dois em sua campanha de 2010.
JUTAHY JUNIOR (PSDB-BA) – O deputado federal recebeu da
Odebrecht 350.000 reais na campanha de 2010 e 500.000 reais na disputa
de 2014. Os valores não foram declarados, segundo a delação da
Odebrecht. No mesmo período, o tucano recebeu, por dentro, doação legal
de 610.000 reais.
JOÃO PAULO PAPA (PSDB-SP) – Deputado federal de primeiro
mandato, o engenheiro e professor recebeu dois repasses do setor de
propinas da Odebrecht, totalizando 600 mil reais. Foram dois pagamentos
de 300 mil reais, segundo os delatores Benedicto Barbosa Júnior e Luiz
Antônio Bueno Júnior. Segundo os delatores, os pagamentos foram feitos
porque era “importante guardar uma relação de longo prazo com ele, pois
poderia auxiliar os interesses do Grupo Odebrecht em oportunidades
futuras”. A Odebrecht financiava campanhas de candidatos para garantir
que defendessem seus interesses no Congresso Nacional. Os pagamentos a
Papa eram feitos diretamente para Josney Cirelli.
MÁRCIO LACERDA – Delatores da Odebrecht narraram repasses de
dinheiro não contabilizado para as campanhas de Márcio Lacerda (PSB),
em 2008 e 2012, à prefeitura de Belo Horizonte. Também detalharam
doações, em 2014, para saldar dívidas eleitorais do socialista.
JARBAS VASCONCELOS (PMDB-PE) – Crítico do fisiologismo
praticado por seu partido, o PMDB, o deputado Jarbas Vasconcelos recebeu
700.000 da Odebrecht, via caixa dois, durante a sua fracassada
campanha, em 2010, ao governo de Pernambuco. No setor de operações
estruturadas, ele recebeu o apelido de “Viagra”.
VANDER LOUBET (PT-MS) – O deputado é acusado de receber
50.000 reais do caixa dois da Odebrecht em 2010, segundo depoimento do
delator Alexandrino Alencar. O dinheiro saiu do Setor de Operações
Estruturadas, o setor de propinas da empresa.
JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA) – Dois delatores da Odebrecht
delataram à Procuradoria-Geral da República que o deputado recebeu
300.000 reais da empreiteira, em 2010, quando era candidato. O dinheiro
não foi contabilizado. Em 2014, Aleluia também recebeu mais 280.000
reais como doação oficial, em contrapartida à defesa de interesses da
Odebrecht no exercício do mandato, mediante solicitação expressa. O
ministro relator da Lava-Jato no Supremo, Edson Fachin, autorizou a
investigação do parlamentar por corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
RODRIGO GARCIA (DEM-SP) – O deputado é acusado por dois
delatores da Odebrecht de receber dinheiro de caixa dois da empresa na
campanha de 2010. Segundo os delatores, o dinheiro saiu do setor de
propinas da Odebrecht, que era chamado de Setor de Operações
Estruturadas. Rodrigo Garcia era identificado pelo apelido de “Suíça”.
O deputado nega as acusações. “Jamais recebi doação não
contabilizada em minhas campanhas eleitorais. Sou o maior interessado
para que esse assunto seja esclarecido o mais breve possível”, afirmou
Garcia, em nota.
LUIZ FERNANDO TEIXEIRA FERREIRA (PT-SP) – Luiz Fernando é
irmão do deputado federal Paulo Teixeira e foi coordenador da campanha
de Luiz Marinho à Prefeitura de São Bernardo do Campo. O ministro
relator do petrolão no STF, Edson Fachin, instaurou inquérito contra o
deputado estadual. Luiz Fernando é acusado por três delatores da
Odebrecht de receber 300 mil reais na campanha de 2014, “transação que
não teria sido devidamente contabilizada”. Em sua prestação de contas ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o deputado estadual pelo PT declarou
ter recebido 3,2 milhões de reais em 2014. Mas lá só aparecem duas
doações da Odebrecht, no valor de 75 mil reais, bem longe do valor
revelado pelos delatores.
JOÃO PAULO RILLO (PT-SP) – O deputado estadual recebeu, em
2012, vultosos 500.000 reais em doação da Odebrecht durante a campanha à
Prefeitura de São José do Rio Preto. “Boiadeiro”, conforme foi
apelidado pela empreiteira, não declarou os valores à Justiça Eleitoral.
As acusações foram feitas pelos delatores Guilherme Pamplona Paschoal e
Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis.
DANIEL ALMEIDA (PCdoB-BA) – O deputado Daniel Almeida
(PCdoB-BA) será investigado no Supremo Tribunal Federal por corrupção
ativa e passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi identificado por
delatores da Operação Lava-Jato como o “Passivo” ou “Comuna” nas
planilhas de propina da Odebrecht. O inquérito foi autorizado pelo
ministro Edson Fachin. Um dos delatores da Odebrecht afirmou aos
investigadores que se encontrou com o deputado e combinou pessoalmente o
pagamento de 300 000 reais ao correligionário Isaac Carvalho, então
candidato à prefeitura de Juazeiro (BA), em 2012. A Odebrecht tinha
interesse em fazer obras de saneamento básico na cidade. Outros
delatores também delataram que, em outro encontro, repassaram a Daniel
Almeida 100 000 reais como “auxílio”. Na ocasião, a entrega ocorreu em
um posto de gasolina no bairro Jardim de Alah, em Salvador (BA).
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