Delator entrega ao Ministério Público Federal contas de supostos repasses a Serra na Suíça
Senador recebeu euros para campanha de 2010 à Presidência da República

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Um dos delatores da Odebrecht, ex-superintendente da
empreiteira em São Paulo, entregou ao Ministério Público Federal os
números das contas e os nomes dos bancos que, segundo ele, foram usados
para transferir euros no exterior para a campanha do senador José Serra
(PSDB) à Presidência em 2010.
Segundo Carlos Armando Paschoal, conhecido como CAP, os
intermediários dos pagamentos a Serra foram duas pessoas próximas ao
tucano: primeiro Márcio Fortes, ex-tesoureiro do PSDB, que recebia em
reais no Brasil, e depois o empresário Ronaldo Cezar Coelho, que
utilizou contas na Suíça.
O depoimento de CAP foi corroborado por outros, como o de Pedro
Novis, ex-presidente da Odebrecht, e parte de seu teor foi adiantada
pela Folha de S.Paulo, que revelou que a empreiteira delatou repasses de
R$ 23 milhões a Serra.
Os pagamentos aconteceram, ainda segundo o delator e os papéis
apresentados, entre 2009 e 2010, em troca de o governo de São Paulo ter
pago a uma das empresas do grupo Odebrecht R$ 191,6 milhões que haviam
ficado pendentes de obra na rodovia Governador Carvalho Pinto.
O débito do Estado com a Odebrecht já vinha se arrastando na Justiça
havia cerca de oito anos, ainda segundo o delator, e poderia ter
continuado sub judice, mas o governo paulista fez acordo com a
empreiteira em troca dos repasses para o PSDB.
Além de entregar aos investigadores da Lava Jato dados relativos às
contas usadas na Suíça indicadas por Ronaldo Cezar Coelho - como o código
"swift", usado em transferências para o exterior -, o delator apresentou
e-mails internos da Odebrecht que tratam dos pagamentos e deu detalhes
de encontros os supostos prepostos de Serra que poderão ser confirmados.
Pelos relatos, os encontros com Fortes foram em 2009, no gabinete
dele, quando ele presidia a Emplasa (Empresa Paulista de Planejamento
Metropolitano S.A.). Já com Cezar Coelho foram duas vezes no escritório
do empresário em Ipanema, no Rio.
"Ele [Fortes] tinha alguns prepostos que ele me dizia, me dava o
interesse de um hotel e o nome da pessoa, eu passava a senha para ele",
disse CAP sobre pagamentos.
Sobre as contas supostamente indicadas por Cezar Coelho, o delator
disse: "Nos dados de corroboração nós estamos indicando o banco, o
'swift', para não ter dúvida."
MAIS SUSPEITAS
O caso dos repasses de R$ 23 milhões, relativos à obra na rodovia
Carvalho Pinto, é uma das suspeitas que envolvem o senador tucano.
Em outro caso, ele foi delatado por supostamente ter recebido 2
milhões de euros no exterior para sua eleição ao governo de São Paulo em
2006. Nesse episódio, outro empresário teria indicado contas na Suíça,
José Amaro Pinto Ramos, ligado ao PSDB.
OUTRO LADO
Após o Supremo Tribunal Federal tornar públicas as delações, na terça
(11), o senador José Serra negou ter cometido irregularidades.
"O senador reitera que não cometeu nenhuma irregularidade e que suas
campanhas foram conduzidas pelo partido, na forma da lei. A abertura do
inquérito pelo Supremo Tribunal Federal servirá como oportunidade de
demonstrar essas afirmações e a lisura de sua conduta", afirmou, em
nota.
Cezar Coelho disse em outubro passado, quando seu nome veio à tona,
que não fez arrecadação para Serra, embora, como fundador do PSDB, tenha
participado de todas as campanhas presidenciais do partido.
A reportagem não localizou Márcio Fortes.
Notícias ao Minuto com informações da Folhapress.
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