Odebrecht pagou R$ 7,3 mi em propina nas obras da reforma do estádio Maracanã
Ministério do Esporte/Portal da Copa/Daniel Brasil |
Executivos da empreiteira Odebrecht afirmaram, em
delação premiada, que a empresa pagou cerca de R$ 7,3 milhões em propina
para fraudar a licitação para as obras de reforma do estádio do
Maracanã. e acordo com os delatores, o montante, destinado ao
ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, a secretários e a membros
do Tribunal de Contas do estado (TCE-RJ), poderia ter sido ainda maior
se os acordos tivessem sido cumpridos, o que não ocorreu devido à
deflagração da Operação Lava Jato.
Segundo Benedicto Barbosa da Silva Junior, responsável pelo Setor de
Operações Estruturadas da empresa, o departamento da propina, foram
pagos ao ex-governador do Rio de Janeiro, que está preso desde novembro,
aproximadamente R$ 6,3 milhões em propina relacionada às obras do
Maracanã.
Já os diretores da Odebrecht Marcos Vidigal do Amaral, Leandro
Andrade Azevedo e João Borba disseram, nos depoimentos, que R$ 1 milhão
foram repassados para o então presidente do TCE-RJ, Jonas Lopes. O
valor, pago para que o tribunal aprovasse o edital de licitação da obra,
deveria ter sido de R$ 4 milhões, que corresponde a 1% do valor inicial
do projeto. No entanto, com início da Operação Lava Jato, o repasse,
dividido em quatro parcelas, foi interrompido e somente uma “prestação”
foi “devidamente” paga.
“Fizemos o primeiro pagamento de R$ 1 milhão na data de 17 de março
de 2014. O outro seria no final de 2014, quando começou a Operação Lava
Jato, e não fizemos mais os pagamentos”, disse Leandro Azevedo ao
Ministério Público Federal. Azevedo explicou que, apesar da Lava Jato, o
então presidente do TCE fluminense pressionou para que o restante da
propina fosse paga.
“No final do ano [2014], fui convocado pelo presidente do tribunal, e
ele me cobrou a continuidade do pagamento. Fiquei sem graça, estávamos
no meio da Lava Jato. Delicadamente, pedi a ele que lesse a capa do
jornal O Globo que estava sobre a mesa [que informava sobre a
prisão de empreiteiros]. Ele ficou super sem graça, virou-se para mim e
disse que entendia a situação, mas que estava sendo muito pressionado
pelos outros conselheiros”, disse.
Marcos Amaral informou que, para que o consórcio formado inicialmente
pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez vencesse a licitação,
apresentou ao então secretário de Obras de Sérgio Cabral, Hudson Braga,
exigências a serem colocadas no edital de modo que o certame fosse
direcionado, evitando a concorrência. Ainda de acordo com o executivo,
por determinação de Cabral, a construtora Delta também deveria integrar o
consórcio, mesmo não tendo qualificação técnica para a obra.
“Era uma questão política. O Sérgio Cabral havia solicitado a entrada
da Delta com a participação de 30%. A Odebrecht [que tinha participação
de 70%] ficou com 49% e a Andrade Gutierrez [que tinha 30%] ficou com
21%”, acrescentou Amaral.
Ele disse também que, antes da publicação do edital, apresentou
algumas exigências “no papel” para o secretário Hudson Braga. “Ele se
comprometeu a dar prosseguimento ao assunto e, de fato, isso ocorreu e
tivemos a certeza disso na publicação do edital. Depois do edital
publicado, fui chamado ao escritório do secretário Wilson Carlos, e ele
falou que havia feito um acerto [com representantes do TCE] e que
deveríamos pagar uma propina de 1% do valor do contrato.”
Segundo Leonardo Azevedo, o pagamento foi feito no escritório do
filho do ex-presidente do TCU, Jonas Lopes Neto. “Ele [Jonas Lopes Neto]
me passou o endereço do escritório deles, não tinha como contabilizar
isso [o valor integral da propina] porque era uma concessão. Então, usei
o codinome ‘Casa de Doido’, que já existia para diversos pagamentos que
não fossem contabilizados”, contou o executivo.
Inicialmente, o contrato inicial para reforma do Maracanã para a Copa
do Mundo de 2014 era de R$ 705 milhões. Ao final, a obra custou aos
cofres públicos mais de R$ 1,2 bilhão.
Ainda conforme depoimento dos executivos da Odebrecht, o
ex-governador Sérgio Cabral e seu grupo político também receberam
vantagens indevidas pelas obras da Linha 4 do Metrô, do Arco
Metropolitano e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das
Favelas.
Procurado pela Agência Brasil, o advogado de Cabral,
Luciano Saldanha, informou que a defesa só vai se manifestar nos autos
do processo. A defesa de Jonas Lopes não foi encontrada pela reportagem.
Os advogados dos ex-secretários também não foram encontrados para se
manifestar sobre as delações.
Mané Garrincha
Os delatores da Odebrecht também afirmaram que a construtora influenciou nas obras do Estádio Nacional do Mané Garrincha. Ouça aqui a reportagem da Rádio Nacional.
Agência Brasil
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