“Não tenho dúvida de que teve caixa dois”, delator sobre repasses a Fernando Henrique Cardoso
Doações teriam sido feitas em 1993 e 1995

Logo no início do depoimento dado à força-tarefa da Operação Lava Jato
no Ministério Público, o dono da maior empreiteira pivô do esquema de
desvio de dinheiro público para o pagamento de caixa dois a políticos,
Emílio Odebrecht, tentou amenizar os questionamentos dos juízes sobre o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Questionado sobre se houve
ilegalidades cometidas pelo tucano, o empresário diz que, apesar de ter
procurado “alguma coisa que pudesse dar de colaboração” para a operação,
“sinceramente não tem nada”. Entretanto, durante as perguntas dos
juízes, Emílio ressaltou que “com certeza” a empreiteira fez doações “de
caixa oficial e não oficial” às campanhas eleitorais de 1993 – na qual
FHC se tornou presidente – e na de 1995 – quando se candidatou à
reeleição. Ainda de acordo com Emílio, o ex-presidente também solicitou
auxílio financeiro durante a campanha que o levou ao Senado, em 1980.
“Eu não tenho dúvida que houve alguma coisa de caixa dois e caixa
oficial. Se ele soube ou não, eu acho até que não deve ter sabido. Eu
também não sabia desses detalhes”, disse ao explicar que ao receber os
pedidos de ajuda, repassavam os interessados para tratar dos valores e
pagamentos com o filho, Marcelo Odebrecht, e o ex-presidente da
empreiteira, Pedro Novis.
Assista à íntegra do depoimento de Cláudio Melo Filho à Lava Jato:
Empresas privadas no comando do país
O dono da Odebrecht também contou que na época do governo FHC, o
conglomerado fez parte de uma entidade criada para ajudar na negociação
do projeto de quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações.
“Eu mostrava determinadas coisas [para FHC], como o absurdo das coisas
que a Petrobras estava fazendo. Muitas coisas ele aceitava, fazia,
outras não. Por exemplo, a quebra dos monopólios. Nós ajudamos na quebra
dos monopólios. Inclusive sobre a parte de telecomunicações. Nós
chegamos a montar uma sociedade privada, se eu não me engano três ou
quatro empresas, uma delas era até a Globo. Contratamos alguém de Minas
Gerais para ser o presidente dessa entidade para criar e buscar todas as
informações e embasamentos para que isso facilitasse aquilo que era
decisão de governo. Era isso que nós fazíamos, contribuíamos com coisas
que nós acreditávamos ser a prioridade do governo”, alegou sobre a
participação da empresa nas decisões governamentais.
Ainda com informações prestadas aos membros do Ministério Público,
Emílio Odebrecht explicou que Fernando Henrique “foi um presidente que,
na verdade, não fez investimento” na infraestrutura, fator que, de certa
forma, minimizou as licitações e, portanto, a atuação mais pesada das
empreiteiras na esfera governamental. “A grande crítica a ele é que não
houve investimento na área de infraestrutura. Ele tinha como ministro da
Fazenda [Pedro Malan] uma pessoa muito competente, séria, mas era um
mão de muquirana. Ele não deixava investir.”
Em vídeo publicado no perfil do Facebook, Fernando Henrique disse não
conhecer ainda o teor das declarações de Emílio Odebrecht, mas que “é
importante ir até o fundo das questões” levantadas pela investigação. “O
Brasil hoje precisa de transparência, e a Lava Jato está colaborando
para que se coloquem as cartas na mesa. Vamos colocá-las. Eu não tenho
nada a esconder, nem a temer. Vamos esclarecer tudo.”
Assista à fala de FHC:
Congresso em Foco
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