Será que o mundo acabou com a lista de Facchin? – Por Hélio Schwartsman
Publicado por:
Ivyna Souto
Veio
a delação do fim do mundo… e o mundo continua existindo. Como humanos,
temos a tendência de superdimensionar a crise presente. Tal
comportamento tem valor adaptativo, especialmente no passado darwiniano,
no qual a resposta certa à maioria das ameaças era “saia correndo daí”.
O preço a pagar por essa arquitetura cerebral que tanto beneficiou
nossa espécie é que nossas avaliações iniciais pendem para o pessimismo.
Não se trata, é claro, de diminuir a gravidade e o alcance das
denúncias feitas pelo pessoal da Odebrecht. Os números falam por si só. O
STF autorizou a abertura de inquérito contra oito ministros do governo
Temer (no total são 28), 24 senadores (de 81) e 39 deputados federais
(de 513), incluindo os comandantes da duas Casas.
Não penso, porém, que estejamos prestes a assistir ao fim da política
como a conhecemos — o que tem implicações para o bem e para o mal.
Cabe aqui uma analogia com o câncer. Se você recebe a notícia de que
vai morrer em um mês, muda radicalmente sua vida. É muito provável que
largue o emprego e abandone todas as tarefas que considera pouco
significativas para dedicar-se ao que realmente faz sentido para você.
Se, porém, o médico vem com um prognóstico menos sombrio e lhe dê
três ou quatro anos, as mudanças no estilo de vida tendem a ser menos
radicais. É claro que algo mudará, mas é grande a chance de que você
continue trabalhando e tocando o dia a dia mais ou menos como antes.
Ora, a incapacidade do STF de processar esse tsunami de casos faz com
que estejamos diante de um cenário que lembra muito mais o da doença
crônica do que o da morte iminente. O mais provável é que o Congresso
logo retome as discussões das reformas e que os parlamentares mais do
que nunca trabalhem por sua reeleição. Conservar o mandato e assim
garantir o foro privilegiado é a quimioterapia que poderá mantê-los
vivos por mais tempo.
Fonte: Folha de S. Paulo

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