PSB nacional rompe com Temer e votará contra reformas propostas por presidente
Partido convocou filiados para se manifestarem contra reformas
Um dos principais partidos de sustentação ao governo Michel Temer no
Congresso, o Partido Socialista Brasileiro (PSB) sinalizou nesta
segunda-feira (24) que se posicionará contra as principais reformas
patrocinadas pelo Planalto, principalmente a previdenciária, a
trabalhista e a política. A tendência foi exposta pelo presidente
nacional da legenda, Carlos Siqueira, durante o Encontro Nacional dos
Prefeitos do PSB, realizado nesta segunda-feira (24) em Brasília, e não
ficou só no discurso: pai do ministro de Minas e Energia, Fernando
Filho, o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) já avisou que o posto
está à disposição de Temer.
Falando a correligionários, Carlos Siqueira fez um duro discurso sobre
os caminhos escolhidos por Temer para enfrentar a crise econômica e
promover o equilíbrio das contas públicas. “Se nós precisamos fazer uma
reforma trabalhista, que façamos para reforçar e equilibrar a relação
capital e trabalho, e não para tornar aqueles que já são fracos mais
fracos ainda. Isso nós não vamos permitir. Isso não vai acontecer com a
digital do partido socialista brasileiro”, avisou o presidente do PSB,
apontando para o rompimento com o governo.
Mas Fernando Bezerra Coelho deixou o encontro antes do fim, e avisou
que vai recorrer das decisões da Executiva Nacional tomadas nesta
segunda-feira (24). Um dos três senadores escalados pelo governo para
afinar o discurso com os deputados envolvidos com a reforma da
Previdência, como este site mostrou com exclusividade em 5 de abril, o
parlamentar pernambucano reforça o alinhamento ao Planalto e tentou
explicar a situação de seu filho.
“Na medida em que as bancadas não respaldam as matérias que são
importantes para o governo, é importante deixar o governo à vontade para
compor a sua equipe com aqueles que possam contribuir na aprovação das
matérias legislativas”, ponderou o senador.
O discurso de Fernando Bezerra foi, em certa medida, contestada por
outro socialistas. “Não estamos no governo. É prudente o Palácio do
Planalto começar a contabilizar votos a menos [nas votações do ajuste].
Ninguém que está neste governo é indicação do PSB. Quem tomou a decisão
de estar lá tem que se resolver”, bradou o vice-presidente de Relações
Governamentais do PSB, o ex-deputado federal Beto Albuquerque (RS), que
exerceu quatro mandatos consecutivos na Câmara, entre 1999 e 2015.
Com 35 deputados na atual legislatura, a legenda é a sétima força da
Câmara, atrás de partidos como PMDB, PT, PSDB, PR e PSD. Caso o partido
confirme o fechamento de questão contra os projetos, ou seja, determine
como os deputados devem votar em plenário – sob pena de punição, que
pode ser até de expulsão, em caso de descumprimento –, poderão cair por
terra os planos do governo para a votação da reforma da Previdência, por
exemplo. Por se tratar de uma proposta da emenda à Constituição, o
governo precisa do voto de 308 dos 513 votos possíveis para aprovar a
matéria (quórum qualificado de 3/5 da Casa), em um universo com mais de
cem deputados de oposição, todos eles contra a mudança nas regras de
aposentadoria.
No encontro com os prefeitos, Carlos Siqueira também exortou a
militância a ir às ruas protestar contra as medidas do governo. No
discurso, o socialista fez menção à greve geral marcada para a próxima
sexta-feira (28) em todo país. “Nós traremos a militância do partido
para fazer o devido protesto, que já está convocado para ir às ruas no
dia 28. Protestar contra essa ignomínia que querem fazer com o
trabalhador brasileiro. Não vamos aceitar isso!”, acrescentou.
Com trajetória de esquerda, o partido veiculou em seu site, na última
quarta-feira (19), um texto por meio do qual lembra que uma resolução
contra a reforma trabalhista formulada pelo segmento sindical da legenda
foi aprovada por unanimidade, em 2014, durante o 13º Congresso Nacional
Ordinário do PSB. No documento, os socialistas se insurgem justamente
contra os termos hoje dispostos no Projeto de Lei 6787/2016, em
tramitação na Câmara com a intenção de alterar as leis trabalhistas.
“Canalhice”
A fala de Carlos Siqueira se voltou até contra o ninho tucano. mais
especificamente em relação ao prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).
Seria apenas um posicionamento político sem consequências práticas não
fosse o fato de que o vice do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB), seja um membro do PSB, Márcio França.
“Me desculpem de estar falando isso porque vocês são administradores.
Mas, antes de serem qualquer coisa, vocês são políticos! Essa canalhice
de dizerem que não é político e disputar eleição é canalhice – põe uma
farda de gari quando nunca varreu a calçada da própria casa, isso é
canalhice do senhor Dória, isso é canalhice de quem é político e diz que
não é. Nós somos políticos e nos orgulhamos de ser políticos”,
vociferou, no instante em que comentou os rumos da legenda –
historicamente ligada à esquerda e aliada às gestões petistas até as
eleições de 2014, quando rompeu com o governo Dilma Rousseff e lançou o
ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014) à Presidência da
República.
“O país tem 35 partidos, dos quais uns 30 são de direita. O PSB só tem
uma saída, que é continuar sua história na esquerda. Na direita não há
saída para o PSB, não há caminho para o PSB. Porque o PSB não é de
direita e negar a sua história não pode fazer parte dos objetivos de
nenhuma de suas lideranças. O caminho tem que ser reafirmá-la, tem que
ser torná-la contemporânea. Não é reagir, ser conservador e não querer
mudar”, defendeu o dirigente partidário, que fez referências em seu
discurso a figuras históricas do PSB, como o ex-governador pernambucano
Miguel Arraes (1916-2005).
Prejuízo trabalhista
Como este site nostrou mais cedo, o projeto de reforma trabalhista que a
Câmara programou para votar nesta semana anula, na prática, direitos
constitucionais que protegem o trabalhador desde a década de 1940 e
também previstos pela Constituição promulgada em 1988. O principal deles
é a irredutibilidade dos salários para quem continua exercendo as
mesmas funções em determinada empresa. A conclusão consta de estudos
feitos por várias entidades sindicais, juristas especializados no
assunto e até pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Se o texto apresentado pelo deputado Rogério Marinho (PSDB-RN) virar
lei, as empresas poderão reduzir os salários de todos os empregados para
continuarem exercendo as mesmas funções. Para isso, basta demiti-los e
recontratá-los em regime de terceirização ou por acordo fechado
individualmente com cada funcionário. Pela proposta do parlamentar, nem
mesmo a Justiça poderá interferir no assunto.
Congresso em Foco
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