Morte de Raymundo Asfóra completa trinta anos nesta segunda; confira artigo
Raymundo Asfóra se foi há trinta anos, mas sua obra e sua poesia continuam vibrantes em todos os recantos da Paraíba
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Raymundo Asfóra e a Árvore da Vida – Trinta anos de saudade! |
Raymundo Asfóra e a Árvore da Vida – Trinta anos de saudade!
Na madrugada do dia 6 de março de 1987, o poeta, o Uirapuru da
Borborema, alçou voo para o infinito. Foi assim que o tribuno Raymundo
Asfóra partiu para a eternidade deixando um rastro de saudade.
Foi um dia como o de amanhã, há exatos trinta anos, que Asfóra deixou
a sua gente e, como que de repente, passou a ser lembrança e saudade no
coração dos seus amigos e de toda a sua família.
Raymundo Asfóra se foi há trinta anos, mas sua obra e sua poesia
continuam vibrantes em todos os recantos da Paraíba e do Brasil. Em todo
canto, em cada lugar a que se vá, sempre há uma história contada e
revivida por seus amigos e admiradores de ontem e de hoje.
Assim foi e é o inesquecível Raymundo Asfóra: de muitas ações na
defesa dos interesses maiores dos campinenses e de todos os paraibanos;
de muitas histórias, poesias e emoções! Ah, Asfóra! A sua falta é muito
presente em nossas vidas.
Neste espaço e diante de um sombrio tempo que estamos a vivenciar na
cena nacional, bem que eu poderia bradar a falta que você faz no campo
da política, enfocando a ética, a moral, o caráter, o espírito público e
a probidade com que se notabilizou por toda a vida; bem que poderia
falar do tribuno e do poeta que, com a sua oração, encantava e
emocionava multidões que o aplaudiam pelas imagens plácidas e bem
construídas no horizonte da poesia; enfim, poderia abordar todos os seus
discursos avassaladores e as suas ações voltadas para o bem do
interesse público.
Contudo, pelos apontados caminhos não trilharei.
Permitam-me, caros leitores, falar pela emoção de uma saudade que, há
trinta anos, me domina. Permitam-me trazer a imagem do meu honrado pai
Raymundo Asfóra.
E, neste instante, como que tocado pelo sopro do tempo de menino, eis
que me lembro da grande lição apreendida pelas palavras de amor e de
exemplo do meu pai.
Relembro. Numa manhã de outono, na granja Uirapuru, o meu pai
adentrou o quarto e, com um sonoro e estridente assovio, despertou-me e
convocou-me para a colheita de frutas. Ao vê-lo à beira da cama,
carregando uma panela com alça, logo me levantei, ficando pronto para
cumprir a nossa aventura matinal.
Partimos para a colheita! Lembro-me bem de que, do alto dos meus dez
anos de idade, eu me gabava por conseguir subir em todas as árvores o
que, aliás, eu estava fazendo com bastante destreza naquela manhã, como
forma de exibição para contemplação e orgulho do meu grande e maior
ídolo que a tudo assistia.
Acontece que parei em frente ao abacateiro. Não consegui nele subir.
E, na ânsia de não desapontar o meu pai, tentei uma, duas, três e muitas
outras vezes, sem êxito. Nesse instante, o meu pai, sentando em um
banco de jardim que havia em frente, chamou-me para também ali sentar e
então disse-me: “Meu filho, vi que você conseguiu subir nas demais
árvores. Essa foi a única que você não conseguiu. Não desanime. Volte a
tentar outra vez. Façamos um trato: você vai vir aqui todos os dias
tentar e, no dia em que você conseguir, chame-me que eu quero vê-lo
subindo onde você não conseguiu até então. Combinado?!”
E, num abraço apertado, selamos aquele compromisso. E recordo-me de
que, logo no outro dia, rumei para cumprir a minha missão sem, no
entanto, alcançá-la. E assim se deu o mesmo ritual dia após dia, até que
o meu pai se foi e não mais frequentei aquela nossa morada… O tempo
passou. Eu cresci!
Muitos anos depois, em uma ocasião de festejo junino na mesma granja,
em homenagem à memória do meu pai, resolvi procurar e escalar a árvore
da minha infância. Já era noite. Ao encontrá-la já não parecia tão
desafiadora… Então, apressadamente, arrisquei um salto no escuro para o
alcance do primeiro galho… Que dor!… Naquele galho havia enrolado um
pedaço de arame farpado que em mim deixou uma marca em forma de cicatriz
que carrego na palma da minha mão. Quanta dificuldade na subida da
árvore da vida!…
Naquele momento, sentindo o vento soprando em meu rosto, ouvi as palavras do meu pai: “Não desanime. Volte a tentar outra vez”.
E assim fiz. Voltei, melhor me posicionei e, com mais entusiasmo e
confiança, tentei novamente subir naquela árvore. Dessa vez, para o meu
júbilo, consegui subir no primeiro galho e fui além. E, mesmo na
escuridão, continuei subindo, subindo, subindo quando, de repente, olho
para o céu e descortina-se um clarão de estrelas, momento em que sinto
uma grande vibração que me fez cair em pranto. Quanta emoção vivida
naquele mágico instante!
Ao me recompor daquela magia, ainda no alto, gritei, chorei, sorri.
E, honrando o compromisso de outrora, bradei pelo meu pai, chamando-o do
firmamento para me ver no alto daquela árvore da vida. Muito obrigado,
papai! Que grande lição: os desafios se modificam, mas continuam a
existir, por isso, em cada situação, é necessário agir sempre com
cautela e esmero.
Assim sigo! Com retidão, muito esforço, muita dedicação e muita
persistência, eu sigo tentando subir nas árvores que se me apresentam no
caminho. Sigo, e sempre seguirei, construindo-me pelas veredas da minha
vida, seguindo o seu conselho: “Como um homem constrói a sua casa,
construa-se a si mesmo e nele habite”!
Sheyner Asfóra
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